A presença de uma anta apelidada de Tico na cidade de Anaurilândia, a aproximadamente 352 quilômetros de Campo Grande, chama a atenção pela convivência incomum entre um animal silvestre e a população local. Conhecida pelos moradores como figura quase simbólica da cidade, Tico se tornou pauta quando passou a circular livremente pelas ruas, praças e até residências do município em busca de alimento e afeto. Casos como esse levantam questionamentos sobre a interação entre humanos e espécies nativas, principalmente em ambientes urbanos.
O comportamento dócil do animal resulta de sua criação próxima a pessoas desde filhote, situação que muitos presenciam no dia a dia de Anaurilândia. Nas ruas, crianças e adultos oferecem frutas e outros alimentos, destacando a adaptação da anta à rotina humana. No entanto, esse convívio frequente desperta discussões sobre os possíveis riscos e consequências da domesticação de animais silvestres, além de ressaltar a importância dos habitats naturais para a fauna.

Por que a domesticação de animais silvestres pode ser perigosa?
Embora as imagens de Tico despertem curiosidade, especialistas em conservação alertam para os perigos do contato íntimo com espécies selvagens. O comportamento aparentemente tranquilo pode mudar rapidamente se o animal se sentir ameaçado ou encurralado, representando riscos às pessoas. Já foram relatados incidentes graves, inclusive ataques, envolvendo antas e outros animais que passaram por processo de domesticação inadequada.
Outro ponto de atenção refere-se à alimentação e à saúde. Animais como a anta possuem dietas específicas da natureza e podem desenvolver problemas de saúde ao ingerir alimentos inapropriados. Além disso, há o perigo da transmissão de doenças entre animais silvestres e seres humanos, colocando ambos em situação de vulnerabilidade e afetando o equilíbrio ecológico.
Quais fatores levam animais silvestres a se aproximarem das cidades?
A aproximação de espécimes como a anta aos centros urbanos é reflexo direto do avanço do desmatamento e da fragmentação de áreas nativas. Conforme diminuem os espaços naturais, a busca por alimentos e água leva animais silvestres a explorar ambientes humanos, como já ocorre em diversas cidades com áreas verdes remanescentes, córregos ou parques urbanos.
- Destruição de habitat: A perda de florestas força animais a procurar abrigo e recursos em regiões modificadas pelo homem.
- Disponibilidade de alimento: Lixo, hortas e jardins são atrativos para espécies de hábitos variados.
- Fragmentação da paisagem: Pequenos pedaços de mata conectados a cidades servem de passagem e residência para animais.
Além da modificação do ambiente, é comum filhotes órfãos se adaptarem ao convívio humano após perderem suas mães, normalmente vítimas de caça ilegal. Esse ciclo reforça a necessidade do combate à caça e da proteção dos biomas brasileiros para evitar situações semelhantes.

Como agir diante da presença de animais silvestres em áreas urbanas?
Quando um animal selvagem aparece na zona urbana, o ideal é evitar contato físico, não oferecer comida e acionar órgãos ambientais para orientação adequada. A domesticação não é recomendada por trazer desequilíbrios tanto ao animal quanto à sociedade. A interação imprópria pode, inclusive, trazer consequências legais, já que a legislação brasileira proíbe a posse de espécies silvestres sem autorização.
- Não alimentar ou tentar domesticar o animal.
- Manter distância segura para evitar acidentes.
- Comunicar autoridades ambientais responsáveis, como a Polícia Militar Ambiental.
- Preservar áreas de vegetação e fontes de água próximas à cidade.
Garantir o bem-estar de espécies como a anta brasileira exige ações coordenadas entre órgãos públicos, sociedade e instituições ambientais. A coexistência requer respeito aos instintos naturais dos animais e à necessidade de preservação dos seus ambientes de origem.
O caso da anta Tico ilustra um fenômeno presente em diversas regiões do Brasil: a aproximação crescente da fauna silvestre em resposta às transformações ambientais provocadas pelo homem. Esse cenário reforça o compromisso permanente com a conservação da natureza e a educação ambiental, fundamentais para harmonizar a vida selvagem e o cotidiano das cidades.









