Padre culpa grávida de 10 anos por estupro: 'claro que tava gostando'

Ramiro José Perotto disse publicamente que garota estuprada pelo tio 'compactuou com tudo' e ironizou inocência da criança e após críticas, pediu desculpas

Correio Braziliense
postado em 21/08/2020 12:11 / atualizado em 22/08/2020 13:17
Após publicar insultos a menina vítima de estupro e gerar revolta nas redes sociais, padre do MT pediu desculpas -  (crédito: Reprodução )
Após publicar insultos a menina vítima de estupro e gerar revolta nas redes sociais, padre do MT pediu desculpas - (crédito: Reprodução )

Um padre do município de Carlinda (MT), foi bastante criticado e excluiu as contas nas redes sociais após afirmar que a menina de 10 anos do Espírito Santo, grávida após estupros de um tio, “compactou” com os abusos e que a criança “gostava de dar”. 

Ramiro José Perotto publicou compartilhou uma mensagem de lamentação à interrupção da gravidez da menina, que realizou um aborto legal no Recife, na última segunda-feira (17/8). Na postagem, ele questiona os leitores sobre "acreditar" na palavra da menina, comparando a inocência da mesma à existência do personagem Papai Noel.

  • Ofensas de padre contra menina de 10 anos
    Ofensas de padre contra menina de 10 anos Reprodução
  • Ofensas de padre contra menina de 10 anos
    Ofensas de padre contra menina de 10 anos Reprodução
  • Após publicar insultos a menina vítima de estupro e gerar revolta nas redes sociais, padre do MT pediu desculpas
    Após publicar insultos a menina vítima de estupro e gerar revolta nas redes sociais, padre do MT pediu desculpas Reprodução

Nas respostas à publicação, várias pessoas criticaram o padre e defendem o aborto realizado, que é previsto nesse tipo de situação e foi autorizado pela Justiça. Padre Ramiro, no entanto, continuou os ataques. "Aposto, minha cara. Ela compactuou com tudo e agora é menina inocente. Gosta de dar então assuma as consequências", escreveu, antes de complementar: "6 anos, por 4 anos e não disse nada. Claro que tava gostando. Por favor kkkk, gosta de dar, então assuma as consequências".

 

Carta aberta à imprensa

Após a repercussão, ele divulgou uma carta aberta, nessa quinta-feira (20/8), pedindo perdão “àqueles que se sentiram ofendidos”. Ele assumiu a autoria das postagens e reconheceu ter "proferido palavras desagradáveis". “Não foi minha intenção proferir palavras de baixo calão, as quais não comungam com minha fé e minha crença na pessoa humana", diz o texto.

Confira na íntegra:

"Caríssimos. Eu, Pe. Ramiro José Perotto, pároco na Paróquia São Paulo Apóstolo, Carlinda, MT, venho por meio desta dizer-vos que assumo toda a responsabilidade de três postagens em meu Facebook sobre a defesa da vida, no caso do aborto ocorrido no último dia 17.

As postagens foram excluídas por mim mesmo quando percebi inúmeros comentários que atacaram a minha defesa. Assumo a responsabilidade de ter proferido palavras desagradáveis, e justifico que compartilho da defesa da vida, nunca condenar e tirar julgamentos.

Não foi minha intenção proferir palavras de baixo calão, as quais não comungam com minha fé e minha crença na pessoa humana.

Àqueles que se sentiram ofendidos, só resta meu pedido de perdão. Excluí meu facebook por não querer mais ofender e ser ofendido. Precisamos ser fraterno. Sempre peguei isso.

As vezes que não fui, que Deus me perdoe. Lutemos pela vida, ela é dom de Deus. “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” Jo. 10,10

Pe. Ramiro José Perotto/Pároco de Carlinda – 20 de agosto de 2020"

 

O caso

No último dia 8, uma menina de 10 anos deu entrada em um hospital em São Mateus (ES) com dores abdominais e os médicos desconfiaram de uma gravidez. O caso foi encaminhado à Polícia Civil do Espírito Santo (PCES) que, após investigação, indiciou o tio após a criança revelar que os estuprada nos últimos quatro anos por ele.

O suspeito fugiu, passou pela Bahia e foi preso em Betim (MG) no início da semana. Enquanto isso, a criança teve a gravidez confirmada e foi autorizada pela Justiça a interromper a gestação. Mas o hospital se recusou a fazer o procedimento e ela foi levada para uma unidade referência nesse tipo de caso em Recife.

A localização e o nome da menina foram revelados nas redes sociais — entre elas a da extremista Sara Winter, que teve as conta excluídas por violar os termos das empresas — e levou grupo favoráveis e contrários ao aborto a protestar na porta do hospital no último domingo (16/4). O procedimento foi concluído no dia seguinte, a menina teve alta e agora mudará de nome e de endereço.


 

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