Covid-19

Pesquisa aponta que Sars-Cov-2 pode atuar como o HIV

De acordo com o estudo, desenvolvido por pesquisadores da Unicamp, o novo coronavírus poderia comprometer o sistema imunológico dos pacientes em estado grave

Renata Rios
postado em 01/10/2020 17:13
Pesquisadores detectaram que o novo coronavírus age contra o linfócito que coordena as defesas da célula, o que provocaria uma reação menos intensa -  (crédito: DOUGLAS MAGNO / AFP)
Pesquisadores detectaram que o novo coronavírus age contra o linfócito que coordena as defesas da célula, o que provocaria uma reação menos intensa - (crédito: DOUGLAS MAGNO / AFP)

Uma pesquisa trouxe novas evidências de que o Sars-CoV-2, nome técnico do novo coronavírus, pode ser capaz de infectar e se replicar no interior de linfócitos. A consequência dessa capacidade seria que, ao infectar as células de defesa, essas poderiam morrer e comprometer o sistema imunológico, pelo menos temporariamente. O estudo foi coordenado por por cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e está disponível na plataforma medRxiv. As conclusões desse estudo ainda estão em processo de revisão.

Segundo a pesquisa, o Sars-CoV-2 poderia atuar de forma similar a do vírus causador da Aids, o HIV. A semelhança seria que ambos atuam afetando o T CD4, um tipo de linfócito que coordena a resposta imune adaptativa. Essa coordenação acontece pela liberação de moléculas sinalizadoras, também conhecidas como citocinas.

O chefe do Departamento de Genética, Evolução, Microbiologia e Imunologia do Instituto de Biologia da Unicamp, Alessandro Farias, disse à Agência Fapesp que, pelo que os resultados sugerem, o novo coronavírus poderia causar um quadro de imunodeficiência aguda, não por matar parte dos linfócitos T CD4, mas por prejudicar a função dessas células. Consequentemente, os linfócitos T CD8 (cuja função principal é a eliminação de células infectadas por parasitas intracelulares, nominalmente os vírus) se proliferam menos, assim como os linfócitos B, que produzem anticorpos com menor afinidade e duração. Esses efeitos seriam parecidos aos do HIV, porém de manifestariam de forma aguda.

Na primeira etapa do estudo, células de doadores saudáveis com a SARS-CoV-2 foram acompanhadas por 24 horas com diferentes técnicas. Os pesquisadores se depararam com um aumento da carga viral, que dobrou durante o período. Esse comportamento revela que a célula está se replicando. Ao analisar os pacientes, os pesquisadores verificaram que nos casos com covid-19 severa, os linfócitos T CD4 sinalizavam para o sistema imune frear o combate ao vírus.

Essa reação explicaria, para os pesquisadores, o motivo de muitos pacientes apresentarem alteração na resposta imune adaptativa, exaustão de células T e produção comprometida de anticorpos. No momento, os pesquisadores tentam detalhar mais efeitos causados pela entrada do vírus no linfócito e encontrar formas de intervir no processo, o que poderia ajudar a combater a doença.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação