Covid-19

Governo de SP rebate Anvisa: morte não tem a ver com vacina chinesa

"Não tem nenhuma relação", garante o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas. O médico ainda afirmou ter recebido a noticia da suspensão com surpresa, sobretudo porque, quase ao mesmo tempo, houve a divulgação da paralisação da pesquisa

Bruna Lima
postado em 10/11/2020 11:45 / atualizado em 10/11/2020 13:56
Equipe técnica de São Pulo manifestou indignação com o ato da Anvisa e todo o processo que culminou na suspensão dos testes da CoronaVac -  (crédito: Divulgacao)
Equipe técnica de São Pulo manifestou indignação com o ato da Anvisa e todo o processo que culminou na suspensão dos testes da CoronaVac - (crédito: Divulgacao)

O governo de São Paulo negou, em coletiva nesta terça-feira (10/11), que a vacina chinesa CoronaVac tenha provocado a morte de um dos voluntários. Os estudos foram paralisados um dia antes, por ordem da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sob a justificativa de ocorrência de um efeito adverso. Segundo o secretário de saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, o candidato morreu por causa de um motivo externo aos testes.

“O governo do estado de São Paulo não trata, e nunca tratou, a vacina de forma política, mas sim com a base na ciência, pela proteção à vida. Em nenhum momento houve infringente eu interferência diante da ciência, da medicina. Nós não vamos aceitar isso. Precisamos de respeito. Entendemos que todas as agências reguladoras, todos os órgãos científicos, devem se portar da mesma forma ética e com lisura”, disse o secretário de Saúde.

Já o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou ter recebido a notícia da suspensão dos estudos com surpresa e lamentou a repercussão. “Suspenderam o estudo clínico causando incerteza, medo nas pessoas, fomentando um ambiente que já não é muito propício pelo fato de essa vacina ser feita em associação com a China. Cometer esse descrédito gratuito a troco de quê? Não seria mais justo ligar e avisar que a reunião estava marcada para esclarecer? Não seria mais justo, mais ético, mais compreensivo?”, questionou.

Segundo Covas, o aviso foi feito por e-mail e, 20 minutos depois, a notícia já estava sendo divulgada em rede nacional. Ele afirma, no entanto, que a Anvisa estava ciente de que o efeito adverso no voluntário do estudo tinha causas externas, conforme fora avisado no último dia 6. “Os dados estão todos fornecidos à Anvisa, ela tem todas essas informações. A conclusão do relatório que está em mãos da Anvisa exatamente este: o efeito adverso grave foi analisado e não tem relação com a vacina”, assegurou Covas.

Sem conexão

Coordenador-executivo do Centro de Contingência Covid-19 do estado de São Paulo, João Gabbardo explicou o motivo pelo qual foi possível concluir que não houve conexão entre o efeito adverso e a vacina.

"É impossível que um medicamento possa ter causado uma vertigem em um paciente supostamente atropelado quase um mês depois de ter tomado o medicamento. Mesmo sem poder dar mais detalhes, estabelece-se uma questão temporal em relação ao uso da vacina, ou do placebo, e o evento adverso que aconteceu. Não há nexo causal", reiterou.

Questão política

Mesmo diante das críticas em relação à decisão da Anvisa, os técnicos do estado de São Paulo apostam na retomada dos trabalhos.

"Nós imaginamos que (a decisão) não tenha sido tomada por motivo político. Provavelmente essa informação tenha sido utilizada por alguém com interesse em criar um fato. Isso não há nenhuma dúvida. Estava sendo discutido tecnicamente um assunto e, de alguma maneira, alguém usou essa informação para tentar criar a situação que efetivamente foi criada. Mas confio e acho que o comportamento da Anvisa, depois de receber todas as informações que foram passadas, só aponta para um caminho: o mais rápido possível estabelecer a continuidade da pesquisa. Isso é o que esperamos neste momento", reforçou Gabbardo.

 

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