PANDEMIA

MP investiga denúncias de fura fila na vacinação contra covid-19

Há diversos relatos nas redes sociais de políticos, familiares e gestores públicos que receberam o imunizante antes do grupo prioritário

Fernanda Strickland
Natália Bosco*
Carinne Souza*
postado em 21/01/2021 18:16 / atualizado em 21/01/2021 18:17
 (crédito: HUB/Divulgação)
(crédito: HUB/Divulgação)

Casos de pessoas que não respeitam a determinação dos grupos prioritários para a vacinação contra a covid-19 têm chamado a atenção do Ministério Público. Nas redes sociais, diversos usuários têm exposto e criticado pessoas que encontraram maneiras de “furar a fila”. Há fotos e vídeos de pessoas que não se encaixam na descrição de grupos prioritários determinados pelo Plano Nacional de Imunização (PNI). Os casos vão desde cidadãos civis a políticos e gestores públicos. A lista continua crescendo em todo país, e o Ministério Público (MP) está investigando as denúncias.

De acordo com o PNI, a primeira fase da vacina deve contemplar apenas trabalhadores da saúde que trabalham na linha de frente, pessoas com 60 anos ou mais que vivem em instituições de longa permanência (asilos e instituições psiquiátricas) e a população indígena. Na segunda fase, pessoas com mais de 60 anos; e na terceira, pessoas com comorbidades (como portadores de doenças renais crônicas, cardiovasculares, entre outras). Os demais grupos serão vacinados nas demais fases do plano.

Promotorias de pelo menos seis estados do Nordeste abriram investigações para apurar relatos no Ceará, no Rio Grande do Norte, na Paraíba, em Pernambuco, no Sergipe e na Bahia. Houve registro, também, em Manaus, na região Norte.

O Ministério Público afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que instaurou procedimentos para apurar cada caso e analisar se houve o cometimento de crime ou ato de improbidade administrativa.

Distrito Federal

No Distrito Federal (DF) também houve denúncias de “fura filas”. Após tomar ciência dos acontecimentos, o Ministério Público do DF (MPDFT) requisitou informações à Secretaria de Saúde e deu o prazo de 48 horas para o recebimento de uma resposta sobre a situação A pasta afirmou que vai apurar as supostas irregularidades.

Manaus

A campanha de vacinação contra o novo coronavírus foi paralisada temporariamente nesta quinta-feira (21/1) em Manaus (AM). Os governos estadual e municipal informaram que se trata de uma “parada técnica” para reavaliar quem tem prioridade dentro do grupo prioritário, estabelecido pelo Plano Nacional de Imunização (PNI), uma vez que a quantidade de imunizantes recebida pelo estado do Amazonas (AM) é insuficiente.

Na tarde de quarta-feira (20), o Tribunal de Contas do Amazonas (TCE-AM) solicitou ao governo do estado a lista com nome das pessoas que já foram vacinadas e os critérios utilizados para a imunização, após receber denúncias de que pessoas teriam “furado a fila” para receber o imunizante.

Nas redes sociais, moradores de Manaus se mostram indignados com a situação. Em uma publicação feita no Twitter, o vereador ouvidor-geral da Câmara Municipal de Manaus Amom Mandel informou que encaminhou um ofício ao prefeito da cidade solicitando esclarecimentos sobre os casos denunciados.

Há manifestação nas redes sociais, também, contra a vacinação do filho do ex-deputado Wanderley Dallas, David Dallas, nomeado pelo prefeito de Manaus como gerente de projetos na Secretaria Municipal de Saúde, em 1º de janeiro deste ano.

Itabi

O prefeito de Itabi, Sergipe (SE), Júnior de Amynthas (DEM) foi vacinado contra a covid-19 mesmo sem fazer parte dos grupos prioritários. O município, que tem uma população de aproximadamente 5 mil pessoas, recebeu 31 doses da CoronaVac.

Júnior de Amynthas tem 46 anos e divulgou em suas redes sociais um vídeo no qual esclarece o motivo de sua vacinação como “um propósito nobre de defesa da saúde e da vida do povo de Itabi”. Ele explica que sua própria assessoria divulgou o vídeo em que aparece recebendo o imunizantes e afirma que “se não houvesse nobreza ou boa intenção no meu gesto, eu teria tomado a vacina às escondidas e vacinaria também minha esposa, meu filho de oito anos e meus pais de 80 e 85 anos”.

Candiba

O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) informou que vai investigar o caso do prefeito de Candiba (BA), que fez uma publicação no perfil oficial da prefeitura sendo vacinado contra a covid-19. O prefeito Reginaldo Martins Prado (PSD) de 60 anos não faz parte do grupo prioritário da primeira fase de vacinação do novo coronavírus.

Por meio de comunicado oficial, o Ministério Público estadual avisou que "tomará as medidas cabíveis para apuração do mesmo, que, a princípio, pode se configurar como crime de prevaricação e ato de improbidade administrativa".

O Ministério Público Federal, por sua vez, esclareceu que foi pedida a condenação do gestor por ato de improbidade administrativa e a indisponibilidade de seus bens para pagamento de multa no valor de R$ 145 mil.

Em outra publicação realizada nas redes sociais da prefeitura, Reginaldo disse que tomou a vacina não preocupado com seu bem-estar, mas “preocupado em encorajar, em incentivar as pessoas que pudessem tomar a vacina”.

*Estagiárias sob supervisão de Andreia Castro

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação