COVID-19

Tempo de internação de mais jovens na UTI pode ser maior

Ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde e coordenador-executivo do Centro de Contingência da covid-19 em São Paulo, João Gabbardo sugeriu que o aumento da taxa de ocupação se dá justamente pela maior quantidade de pessoas de uma faixa etária mais baixa internada

Sarah Teófilo
Maria Eduarda Cardim
postado em 09/03/2021 14:50 / atualizado em 09/03/2021 14:52
 (crédito: Breno Esaki/Agência Saúde DF)
(crédito: Breno Esaki/Agência Saúde DF)

Além de um aumento no número de pacientes mais jovens (abaixo dos 60 anos) com covid-19 nas unidades de terapia intensiva (UTIs), autoridades e especialistas apontam um aumento no tempo de internação — o que ajuda a explicar, também, a alta taxa de ocupação dos leitos de emergência em vários estados brasileiros. Na última quarta-feira (3/3), o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde e coordenador-executivo do Centro de Contingência da covid-19 em São Paulo, João Gabbardo, sugeriu que o aumento da taxa de ocupação se dá justamente pela maior quantidade de pessoas de uma faixa etária mais baixa.

“Essas pessoas conseguem resistir mais ao enfrentamento do vírus e, por consequência, ficam mais tempo internadas. Os leitos não estão rodando na mesma velocidade, e isso está ocasionando em um acúmulo de pacientes”, afirmou Gabbardo.

O diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José Davi Urbaez, afirma que essas pessoas mais jovens (abaixo dos 60 anos), têm mais “reserva fisiológica” para combater o vírus. Assim, o organismo consegue contornar os ataques sofridos pelo vírus, chegando a um esgotamento completo de forma mais tardia — diferentemente dos idosos, que não têm mais essa reserva.

De acordo com ele, o que se tem visto nas UTIs é um aumento de cerca de cinco dias na quantidade de tempo de uma internação. Segundo o médico, esta observação é muito inicial e pode estar relacionada ao fato de se estar com menos leitos de UTI disponíveis no momento em que é demandado, e o paciente acaba demorando mais para conseguir uma vaga. Com isso, ele desenvolve um quadro mais grave antes de entrar na unidade e, assim, permanece mais tempo.

O coordenador do Pronto-Atendimento e da Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, Carlos Rassi, que atende pacientes com covid-19 em leitos de enfermaria e UTI, também pontua que os pacientes mais jovens têm mais condições de "aguentar" essas agressões (da doença) por mais tempo. “Então, isso muitas vezes prolonga o tempo de permanência dessas pessoas em uma UTI. O idoso, que não tem tanta reserva, não aguenta tanto tempo de agressão viral, tanto tempo de suporte ventilatório. Ele falece de uma maneira mais precoce. Muitas vezes, o paciente mais frágil não aguenta”, explica.

Médica intensivista do Hospital Santa Marta, em Brasília, Adele Vasconcelos também ressalta que os pacientes mais jovens têm uma resistência maior, com menos comorbidades. Por este motivo, ficam mais tempo internados porque resistem às complicações que a covid-19 pode causar.

Diferente da primeira onda

O secretário de secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn, também falou sobre esta mudança de perfil no início da semana. De acordo com ele, a pandemia retornou com “uma velocidade e uma característica clínica diferente” da primeira onda. O secretário pontua que são pacientes mais jovens, muitos sem qualquer comorbidade e que chegam às unidades já com uma gravidade nas condições clínicas. Segundo Gorinchteyn, se antes 40% desses pacientes ocupavam as UTIs e 60% estavam nas enfermarias, esse cenário se inverteu.

Além disso, o tempo de permanência nas unidades também é alvo de preocupação visto que, conforme o secretário, essas pessoas mais novas passam mais tempo internadas. “Tínhamos antes média de sete a 10 dias de internação, agora está em 14 a 17 dias de internação, no mínimo”, disse.

Assim, conforme Gorinchteyn, os pacientes mais jovens estão ficando mais tempo nas UTIs em relação ao que foi observado na primeira onda no ano passado. “Esses aspectos, tanto de gravidade de doença quanto maior tempo de permanência nas unidades, com maior número de casos, onde aqui também se associa a presença da nova cepa, faz com que tenhamos uma forma de ocupação crescente nos nossos leitos, especialmente de UTIs”, frisou.

De acordo com ele, o que se tem visto nas UTIs é um aumento de cerca de cinco dias na quantidade de tempo de uma internação. Segundo o médico, esta observação é muito inicial e pode estar relacionada ao fato de se estar com menos leitos de UTI disponíveis no momento em que é demandado, e o paciente acaba demorando mais para conseguir uma vaga. Com isso, ele desenvolve um quadro mais grave antes de entrar na unidade e, assim, permanece mais tempo.


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