Pandemia

Velório é impedido após corpo ser armazenado indevidamente na ala Covid

Paciente morreu na UPA de Divinópolis de infarto; prefeitura diz que vai investigar o caso e CPI deve ser instaurada

Amanda Quintiliano - Especial para o EM
postado em 04/05/2021 15:32
 (crédito: Reprodução de internet)
(crédito: Reprodução de internet)

Um erro da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Divinópolis, Centro-Oeste de Minas Gerais, impediu o velório de um homem, de 53 anos, que morreu no sábado (1º/5). O atestado de óbito aponta como causa infarto, porém, o corpo foi armazenado indevidamente na área de COVID-19.

O caso ganhou repercussão nesta segunda-feira (3/5) após a prefeitura divulgar que irá investigar o caso.

Edson Antônio dos Santos deu entrada na unidade na noite de sexta-feira (30/4) com dor no peito. Dias antes, havia recebido alta médica da UPA após procurar atendimento com os mesmos sintomas.

O paciente estava internado em uma ala extensiva que funciona no Hospital Bento Menni.

Na primeira internação, ele foi submetido ao teste da COVID-19. O resultado foi negativo para a doença.

Edson foi levado diretamente para o setor de urgência, antes de passar pela triagem. Ele recebeu o atendimento imediato, mas não resistiu e morreu. A família alega que foi informada sobre o óbito por volta das 3h. Entretanto, ela foi registrada à 00h40.

Daniella Mara dos Santos, irmã de Edson, conta que assim que tomaram conhecimento, todas as providências foram tomadas. Os documentos já estavam com os responsáveis na UPA para emissão do atestado de óbito.

A unidade exigiu a certidão de nascimento. Como Santos morava na zona rural, ela precisou ir até a roça para buscar. O documento foi entregue às 10h de sábado (1º/5).

Embora ainda fosse pela manhã, Daniella só conseguiu sair da UPA com o atestado de óbito, para providenciar o velório, às 15h. “Eles nos falaram que a médica estava atendendo urgência, ficamos aguardando do lado de fora para liberar”, contou.

Só à tarde o atestado foi devidamente assinado.

Com a liberação autorizada, ela procurou o Serviço Municipal do Luto. “O agente disse que se fosse velar seria uma hora só”, afirmou Daniella.

O prazo é para seguir os protocolos sanitários em razão das restrições da COVID-19.

Devido ao horário da liberação do corpo, foi informado à família que o enterro seria entre 16h e 17h. Porém, outro imprevisto surgiu: quando o motorista o Serviço Municipal do Luto chegou à UPA, ele informou que não seria permitido o velório, pois o corpo estava armazenado na área de COVID-19.

A notícia surpreendeu a família, já que no atestado constava a morte por infarto. Só após pedirem a intervenção de um vereador, os familiares conseguiram uma resposta e foram informados sobre o erro.

Santos foi enquadrado como sintomático respiratório e por isso atendido por uma médica da ala de COVID-19. Como o atestado de óbito, que não constava nem mesmo suspeita da doença, foi assinado por ela, a equipe armazenou o corpo da área restrita aos casos.

Os familiares só conseguiram sair da UPA às 18h. O homem foi enterrado sem velório no cemitério Parque da Colina.

A família avalia se irá acionar a Justiça. “Meu irmão acha que deveríamos acionar a Justiça, porque se aconteceu com a gente, pode acontecer com outras pessoas. Eles precisam andar correto com a gente. Era só dar uma explicação e a gente ia entender. Esperaram dar a confusão toda”, disse Daniela.

UPA não fala em erro

O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Social (IBDS) responsável pela gestão da unidade não fala em “erro”, porém confirma o relato da família.

Em nota, a gestora disse que o paciente foi levado por familiares até a sala vermelha sem passar pela triagem para classificação de acordo com o protocolo de Manchester. O paciente era hipertenso e havia sentido dor torácica e dispneia de início súbito.

Ainda segundo a nota da unidade, o paciente foi submetido a atendimento médico imediato. Ele foi classificado como “laranja” pela equipe de enfermagem e enquadrado como paciente sintomático respiratório e, por isso, encaminhado para a área considerada de COVID-19.

“Submetido a todos os procedimentos possíveis e necessários, infelizmente evoluindo para óbito à 00h40 e comunicado imediatamente o irmão”, explicou.

Como a morte ocorreu na área respiratória, inicialmente o corpo foi preparado conforme o plano de contingência do Ministério da Saúde. “E encaminhado para guardar temporária do cadáver como tal”, completou a UPA.

Com a chegada dos documentos, às 10h foi preenchida a declaração de óbito.

A médica plantonista que participou do atendimento classificou a morte como infarto agudo do miocárdio e endema agudo do pulmão, descartando a suspeita de novo coronavírus.

Prefeitura vai investigar

A Prefeitura de Divinópolis disse que o caso será apurado. O prefeito Gleidson Azevedo (PSC) esteve pessoalmente, nesta segunda-feira (3/5), na UPA para buscar informações.

“Foi intensamente cobrado esclarecimentos da atual gestão administrativa da UPA”, informou em nota a prefeitura.

O órgão ainda disse que será realizada investigação para que todas as falhas sejam identificadas e solucionadas, “a fim de que erros como esse não aconteçam novamente”.

CPI será instaurada

O vereador que acompanhou o caso, Flávio Marra (Patriota) irá solicitar, nesta terça-feira (4/5) a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).

“Com quantas pessoas eles já fizeram isso? E se a gente não colocar freio eles vão continuar fazendo. Não é nada contra a empresa que terceiriza a UPA, funcionário, é contra o sistema, contra essas coisas que estão acontecendo e que não podemos compactuar (…) Que os verdadeiros culpados possam aparecer”, declarou.

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