MEIO AMBIENTE

Queimadas e devastação: Floresta amazônica já produz mais CO2 do que absorve

Nos últimos 40 anos, o leste da Amazônia foi submetido a mais desmatamento, aquecimento e estresse de umidade do que o oeste

Fernanda Strickland
Gabriela Bernardes*
postado em 15/07/2021 06:00 / atualizado em 15/07/2021 06:56
Com a queda o volume das chuvas, a temperatura subiu 2°C no nordeste da floresta -  (crédito: AFP / CARL DE SOUZA)
Com a queda o volume das chuvas, a temperatura subiu 2°C no nordeste da floresta - (crédito: AFP / CARL DE SOUZA)

Um estudo divulgado ontem pela revista Nature, liderado por uma pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostrou que a Floresta Amazônica já está emitindo mais gás carbônico do que absorvendo. Segundo feito por uma das integrantes do estudo, Luciana Vanni Gatti, trata-se do resultado das queimadas e da devastação promovida por madeireiros e pecuários — tanto que os números do desmatamento durante o governo Bolsonaro dispararam em relação aos anteriores.
“É sabido que acontece uma emissão direta com a queimada. A emissão indireta acontece porque, segundo o que observamos, as regiões desmatadas apresentam maior perda de chuva, principalmente na estação seca (agosto a outubro)”, explicou Luciana.

De acordo com a pesquisa, as emissões totais de carbono são maiores na parte oriental da região, principalmente como resultado de diferenças espaciais nas emissões de fogo derivadas do monóxido de carbono. Nos últimos 40 anos, o leste da Amazônia foi submetido a mais desmatamento, aquecimento e estresse de umidade do que o oeste, especialmente durante a estação seca, com o sudeste experimentando as tendências mais fortes.

“Descobrimos que a intensificação da estação seca e um aumento no desmatamento parecem promover estresse no ecossistema, aumento na ocorrência de incêndios e maiores emissões de carbono no leste do Amazonas. Isso está de acordo com estudos recentes, que indicam um aumento na mortalidade de árvores e uma redução na fotossíntese como resultado de mudanças climáticas em toda a Amazônia”, informa o estudo.

Com a queda o volume das chuvas, a temperatura subiu 2°C no nordeste da floresta e 2,5°C no sudeste. Isso representa que a fotossíntese, fazendo que as árvores emitam mais CO² do que em situações normais para compensar o desequilíbrio. Segundo Luciana, atualmente a floresta emite 0,29 bilhão de toneladas de carbono — além do que consegue absorver — por ano para a atmosfera.

“Após 30 anos, a área queimada ainda é uma fonte de CO² para a atmosfera, dos quais 73% resultaram da subsequente mortalidade e decomposição das árvores. Esta emissão de decomposição não poderia ser compensada pela absorção de CO² pela fotossíntese. Para florestas não degradadas, o aumento da temperatura e o estresse hídrico podem aumentar a mortalidade das árvores e afetar negativamente a absorção fotossintética de carbono pelas árvores”, afirma o artigo na Nature.

*Estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi

Processo fundamental para a troca de gases

A fotossíntese, termo que significa “síntese utilizando a luz”, é definida como o processo pelo qual um organismo consegue obter seu alimento. Esse processo é realizado graças à energia solar, que é capturada e transformada em energia química, e ocorre em tecidos ricos em cloroplastos, sendo um dos tecidos mais ativos o parênquima clorofiliano encontrado nas folhas.

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