SAÚDE

Governo federal, estados e municípios divergem sobre vacinas diferentes e 3ª dose

Mesmo com o avanço da vacinação, óbitos e infecções pelo novo coronavírus mostram que o país está longe de domar a pandemia. Para piorar, governo federal, estados e municípios não se entendem sobre a aplicação de vacinas diferentes e a hipótese de oferecer a 3ª dose

Fábio Grecchi
Maria Eduarda Cardim
postado em 17/07/2021 06:00
Apesar da queda na taxa de infecção no país, pandemia continua fora de controle e número de óbitos e casos se mantêm elevados -  (crédito: Miguel Schincariol)
Apesar da queda na taxa de infecção no país, pandemia continua fora de controle e número de óbitos e casos se mantêm elevados - (crédito: Miguel Schincariol)

O Brasil ultrapassou, ontem, a marca de 540 mil mortos pela covid-19. De acordo com os dados coletados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde, e reproduzidos pelo Ministério da Saúde, já são 540.398 óbitos, sendo 1.456 vidas perdidas nas últimas 24 horas. Apesar de a vacinação avançar e a taxa de infecção vir caindo, conforme reconheceu o mais recente levantamento do Imperial College, de Londres — recuou para 0,88, o que significa que cada 100 pessoas transmitem o novo coronavírus para outras 88, e é a mais baixa desde novembro de 2020 —, o país está longe de controlar a trajetória do micro-organismo. São 19.308.109 pessoas que contraíram a doença e, entre quinta-feira e ontem, 45.591 casos foram registrados.

Uma das razões de a pandamia continuar a apresentar números elevados se explica, também, na desorganização do Ministério da Saúde. Sem uma coordenação desde 7 de julho, quando Francieli Fantinato foi exonerada do cargo a pedido, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) — responsável por coordenar a campanha de vacinação contra a covid-19 — encontra dificuldades para destravar as discussões e assiste estados e municípios anunciarem as próprias regras de vacinação. A atitude tem sido alvo de críticas do ministro Marcelo Queiroga, que ontem voltou a reprovar a ação ao afirmar que decisões tomadas fora do PNI geram “calor” em vez de gerar “luz”.

Na falta de uma coordenação geral e de interlocução do governo federal, estados e municípios adotam medidas fora do pactuado no PNI e contrárias à comissão tripartite — que reúne o ministério e as secretarias estaduais e municipais de Saúde. Queiroga criticou a decisão, de algumas unidades da Federação, de incluir adolescentes na campanha de imunização contra a covid-19 e também a intercambialidade de imunizantes em grávidas, ações adotadas por alguns estados, sem o aval do PNI.

Terceira dose

E ontem, sem citar diretamente o Rio de Janeiro, Queiroga criticou o anúncio da intenção de vacinar os idosos com uma dose de reforço. “Não podemos ter municípios criando regras próprias, escolhendo subgrupos diferentes para a vacinação. Agora, um grande município do Brasil já está anunciando a terceira dose. Como anunciar a terceira dose se a gente não avançou ainda na primeira dose em 100% da população brasileira? Isso gera calor em vez de gerar luz”, disse, durante discurso em um evento em Campo Grande.

A intenção de fazer o reforço da vacina no grupo de idosos com 60 anos ou mais foi anunciada na última quinta-feira, em uma live do prefeito Eduardo Paes. A ideia, segundo o secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, ainda é estudada, mas já foi divulgada uma previsão para que os idosos recebam uma terceira dose do imunizante entre outubro e dezembro. “Essas são discussões iniciais, que precisam ser aprofundadas. Estamos prevendo aqui, organizando nossa logística, mas a gente vai ter de ver alguns fatores”, disse o secretário.

Entre os fatores citados, está justamente a avaliação de qual será a recomendação do PNI na época (outubro e dezembro). Segundo Soranz, a discussão sobre doses de reforços nos idosos já ocorre no programa. No entanto, o Ministério da Saúde nunca abordou publicamente a ideia, nem divulgou possíveis datas para a aplicação de uma terceira dose neste grupo.

A antecipação dessa divulgação por parte da Prefeitura do Rio, segundo o secretário de Saúde, é para “tentar dar previsibilidade para as pessoas” e “forçar algumas discussões que são importantes”. “Essa é uma discussão que precisa começar a ser debatida. Como a gente está em uma pandemia, atrasos nessas discussões e nesse processo podem gerar danos para a população”, ponderou.

Soranz ainda afirmou que a falta de coordenação do PNI traz dificuldades para destravar esses debates que surgem ao longo da campanha de imunização. “Infelizmente, a gente, nesse momento, tem um problema no Ministério da Saúde porque a coordenadora do PNI acabou de ser demitida. Então, a gente ainda tem uma dificuldade de avançar nessas discussões”, disse o secretário, ao comentar a ideia de uma dose de reforço.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Mandetta ironiza Saúde por parecer da cloroquina

Após o Ministério da Saúde afirmar, por meio da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec), que os medicamentos do chamado “kit covid” são ineficazes no tratamento contra a doença, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta ironizou a nova posição da pasta e também a forma como a informação foi divulgada. O parecer foi enviado, esta semana, à CPI da Covid. “Após um ano, sete meses e 536 mil mortes, o Ministério da Saúde fala baixinho que ‘tratamento precoce’ não é recomendado. Demorou hein?”, postou no Twitter. Ele também cobrou do Conselho Federal de Medicina uma posição. “Alô @Medicina_CFM agora só falta você! Ciência!!!”, exigiu. Em abril do ano passado, a entidade divulgou um parecer no qual estabelece critérios e condições para a prescrição de cloroquina e de hidroxicloroquina em pacientes com diagnóstico confirmado de covid-19, mesmo após afirmar que não há evidências sólidas na prevenção e tratamento da doença com os medicamentos.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação