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PGR abre inquérito contra nazistas que ameaçaram lideranças anti-racistas

O subprocurador-geral da República recebeu representantes de entidades do movimento negro, nesta quinta (30), e prometeu tomar ações para apurar ameaças de mortes

Bernardo Lima*
postado em 30/09/2021 19:13 / atualizado em 30/09/2021 19:13
 (crédito: Arquivo pessoal)
(crédito: Arquivo pessoal)

Nesta quinta-feira (30/9), representantes de entidades do movimento negro entregaram ao subprocurador-geral da República, Carlos Alberto Vilhena, representação contra uma organização nazista que fez ameaças de morte à lideranças de movimentos anti-racistas. As ameaças foram comentadas em um vídeo do Youtube, que transmitia uma reunião de integrantes do movimento negro. 

A reunião promovida pela Anlu (A Nossa Luta Unificada) foi realizada em junho de 2019, em São Paulo. Mais de dois anos depois, um grupo nazista que se identificava como “Milícia de Combatimento do Brasil”, escreveu uma ameaça de morte na sessão de comentários do vídeo, em que dizia “Vão morrer comunistas”, seguido pelo lema nazista "Ein Volk, ein Reich, ein Führer" (Uma nação, um império, um líder).

Nuno Coelho, representante da organização Agentes de Pastoral Negros, esteve na audiência realizada hoje e detalhou os ataques sofridos: “Quando foi agora, no dia 6 de setembro, véspera das manifestações, fomos surpreendidos com um grupo nazista organizado no Brasil que expressou ameaças nesse vídeo”. Também estiveram presentes à audiência, Lucas Batau, da Anlu, e José Carlos Suárez, representante da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.

Nuno explicou que a reunião discutia a conjuntura política do Brasil, que havia acabado de eleger Bolsonaro, e como seriam as ações do novo governo sob a população negra. “Estávamos fazendo análises, não tinha nenhuma agressão direta ao presidente ou manifestação contra o governo. Estávamos refletindo o que poderia vir a acontecer, não o que estava acontecendo”. Diante das ameaças as entidades decidiram requerer à Procuradoria Federal de Direitos do Cidadão, providências cabíveis para descobrir quem está por trás desta organização nazista.

De acordo com Nuno, o subprocurador-geral da República prometeu fazer tudo que estiver ao seu alcance para resolver o caso. “O procurador, agora à tarde, acolheu a denúncia, deferiu investigação sobre o caso e disse que vai encaminhar à Polícia Federal (já que o caso envolve crimes cibernéticos). A procuradoria agora vai fazer toda a investigação e nos dar garantia de segurança e acompanhamento a cada uma das pessoas envolvidas ali na ameaça”.

“Pelo exposto, serve a presente para requerer de Vossa Excelência a imediata determinação de instauração de procedimento investigativo, de modo a apurar, processar e punir toda a cadeia envolvida no crime perpetrado contra lideranças negras (...)” diz o documento encaminhado hoje à Procuradoria Federal de Direitos do Cidadão.

A advogada Vera Lúcia Santana Araújo é ativista da Frente de Mulheres Negras do DF e Entorno e está atuando como advogada da articulação das entidades ameaçadas. Segundo ela, o procurador federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal, Carlos Vilhena, entendeu a gravidade do caso, após a reunião desta quinta: "Ele compreendeu bem a gravidade da ameaça de um grupo nazifascista às lideranças negras, por meio de um canal de YouTube”.

Ainda de acordo com Vera, Carlos Vilhena prometeu detalhar, na próxima segunda-feira (4/10), quais providências objetivas serão tomadas.

Ato contra o Nazismo

Em resposta às ameaças, entidades do movimento negro convocaram um ato político contra o nazifascimo, a ser realizado pela internet e previsto para as 20h do dia 7/10.

O ato é puxado pela Agentes de Pastoral Negros, MNU (Movimento Negro Unificado), Unegro (União de Negros pela Igualdade), CONEN (Coletivo de Entidades Negras ) e FONSANPOTMA (Fórum Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional dos Povos Tradicionais de Matriz Africana). 

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