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Debandada de profissionais no INEP aumenta incertezas na aplicação do Enem

Debandada de servidores ligados à realização do exame aumenta tensão entre alunos, professores e escolas

A crise no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), com a debandada de 35 profissionais ligados diretamente à realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), aumentou as incertezas que habitualmente rondam a aplicação do certame.

Para especialistas, professores e alunos que se preparam há meses para a prova — que neste ano terá aproximadamente 3 milhões de participantes —, nem mesmo o fato de o Ministério da Educação (MEC) assegurar que o concurso continua marcado para os dias 21 e 28 de novembro e não sofreu abalos por causa da saída dos técnicos amenizou as preocupações.

"(A instabilidade no MEC) afeta todos. Não somente os alunos que farão a prova, mas também os professores, as escolas e as famílias dos alunos, já que há investimento emocional e investimento financeiro, e uma expectativa muito grande na prova do Enem. É um sonho de muitos ter sucesso na prova", observou o doutor em educação e psicopedagogo Eugênio Cunha.

Beatriz Leme, de 17 anos, ficou preocupada com um possível adiamento ou atraso do exame por causa das demissões. "Parece que está tudo um pouco incerto. E começam a crescer os boatos de que a prova será cancelada", disse, preocupada.

Cursando o terceiro ano do ensino médio, ela se preocupa com as condições nas quais a prova será realizada. "Com essa confusão, nós, estudantes, ficamos em dúvida em relação à segurança da aplicação do exame. Será que tudo vai acontecer do jeito que deveria?", questionou.

Para Alana Giordano, 18 anos, o Enem representa a porta para o futuro. "O Enem representa o caminho para uma universidade, que vai me dar a direção do que eu estou pensando para frente", disse.

Preparando-se há mais de um ano, Alana percebeu a desorganização das edições anteriores, mas, agora, teme que tudo piore. "O Inep apresenta instabilidade desde 2019, com gabarito errado, questão errada, além de um descaso enorme com os alunos em relação à covid-19", lembrou.

Divergências

A duas semanas do Enem, os servidores do Inep pediram para deixar seus cargos por causa de divergências com a administração de Danilo Dupas, presidente do instituto. Alegam "fragilidade técnica e administrativa da atual gestão". A maioria trabalhava nas áreas de planejamento e logística da aplicação da prova.

"Não há liderança na educação e a atuação é meramente burocrática, sem uma proposta real e consistente. Assim como é certo que o coronavírus afeta a população de hoje, o vírus da falta de planejamento estratégico afetará a sociedade brasileira de amanhã. O navio segue desgovernado, destruindo o presente e o futuro da nação", acusou o professor Francisco Borges, mestre em Políticas Públicas para Educação e consultor da Fundação FAT.

A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Bruna Brelaz, diz que os pedidos de exoneração em massa são uma "clara ameaça" à integridade e à segurança necessária para realização do Enem.

"A crise do Inep é um reflexo do que o MEC se tornou: um órgão de aparelhamento ideológico do governo Bolsonaro, que não apresenta qualquer projeto de educação", criticou.

Novo formato de certame

Apesar das mais de 30 baixas de funcionários responsáveis pela realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Conselho Nacional de Educação (CNE) apresentou as recomendações para o novo formato do certame, que deve ser aplicado em 2024. A prova deve ter duas etapas: a primeira, de conhecimentos gerais; e a segunda, voltada para quatro áreas profissionais.

A mudança no Enem é uma exigência da lei. Isso porque, a partir de 2022, as escolas precisam oferecer o novo ensino médio, que dá flexibilidade aos alunos para escolher parte do currículo, de acordo com suas preferências e aspirações no mercado de trabalho. Assim, a nova prova terá de avaliar também o direcionamento profissional.

Divisões

A proposta do parecer da ex-presidente do CNE, Maria Helena Guimarães de Castro, é de que a segunda etapa do Enem — especificamente voltada para as profissões — seja dividida em: 1) Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, classificando alunos para cursos de Engenharia, Química, Computação, entre outros; 2) Ciências Sociais Aplicadas, para vagas em Economia, Administração e Direito; 3) Humanidades, Linguagens e Artes, para faculdades de Filosofia, História, Pedagogia e assemelhados; e 4) Ciências Biológicas e Saúde, para Medicina, Enfermagem, Meio Ambiente, entre outros.

O documento está desde ontem disponível para consulta pública e será votado no CNE em dezembro. Não foi proposta uma prova específica para quem optar por fazer ensino técnico com o médio.

Se aprovado, o Inep deve começar a elaborar o exame a partir dessas diretrizes. Mas, com a debandada de técnicos na última segunda-feira, a preocupação de Maria Helena é "como e quando" isso seria feito.

"O MEC precisa se preparar, contratar consultores, fazer investimento em dinheiro e técnico para ter um novo banco de itens (perguntas da prova)", explicou. O parecer diz, ainda, que a prova pode ter questões dissertativas e não apenas de múltipla escolha.

Maria Helena ouviu secretarias, entidades, universidades e analisou um estudo de experiências internacionais. Muitos dos países analisados têm uma prova geral e outra com escolha dos estudantes — a maioria disponibiliza questões discursivas e algumas orais.

 

 

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