JULGAMENTO

"Parecia uma cena de guerra", relata sobrevivente da tragédia da boate Kiss

O quinto dia do julgamento foi marcado pelo depoimento de um informante e dois sobreviventes da tragédia. Ao todo, 16 relatos já foram ouvidos

Taísa Medeiros
postado em 05/12/2021 22:36 / atualizado em 05/12/2021 22:36
Julgamento é acompanhado pelo país -  (crédito:  Reprodução/TJRS)
Julgamento é acompanhado pelo país - (crédito: Reprodução/TJRS)

Mais duas pessoas foram ouvidas no julgamento da tragédia da boate Kiss, que ocorreu em 27 de janeiro de 2013, na cidade de Santa Maria, a 300km de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Os depoimentos ouvidos no domingo foram, respectivamente, de uma testemunha, que foi realocada como informante, e de dois sobreviventes do incêndio. O primeiro depoimento a ser ouvido foi o de Tiago Mutti, 46 anos, primeiro proprietário da boate, como informante. Ele havia sido convocado como testemunha pela defesa de Mauro Hoffmann, um dos sócios da boate. A condição foi mudada porque representantes do Ministério Público (MP) argumentaram que Mutti responde a processos por falsidade ideológica.

O juiz Orlando Faccini Neto acatou a observação e o colocou na condição de informante — quando não há compromisso em dizer a verdade. O depoimento do primeiro proprietário da boate foi o mais longo do júri até então, e durou quase cinco horas. Dentre os tópicos trazidos em sua fala, o ex-proprietário comentou sobre as obras feitas na boate em 2009, época em que vendeu o prédio à Elissandro Spohr, o Kiko. Mutti relatou que acreditava que a boate era segura e chegou a frequentá-la um mês antes do incêndio. "Achei bem bonita, dei os parabéns e desejei sucesso a ele (Kiko). Depois disso, não entramos mais no assunto", disse.

A segunda testemunha ouvida no julgamento no domingo foi o sobrevivente Delvani Brondani Rossi, 29 anos. O jovem contou que sequer morava em Santa Maria, mas que havia ido, junto com o irmão, passar o fim de semana com um amigo. Delvani relatou que no momento do incêndio, outro frequentador da boate avisou sobre o fogo. “Eu só vi que era sério quando percebi todo mundo virando para a saída”, contou. Ele e os amigos conseguiram percorrer juntos parte do caminho, mas logo se perderam. As luzes apagaram, e foi neste momento que Delvani viu a fumaça. “As pessoas gritavam mais ainda, eu escutava barulhos de vidro quebrando, um desespero, sabe?”.

O jovem ainda relatou que chegou a cair, e foi puxado para fora pelo irmão. “Eu acordei na calçada urrando de dor, com os braços torcidos”, relembra. “No hospital, eu olhava para o lado, as pessoas pretas, gritando de dor. Era uma cena de guerra”. Delvani chegou a ficar um mês em coma, e teve três paradas cardiorrespiratórias.

O último depoimento do dia foi da ex-funcionária da boate, Doralina Machado Peres. Ela foi arrolada (um termo jurídico que indica o sentido de convocação) pela defesa de Elissandro Spohr. Em seu depoimento, Doralina relatou que ficou quase um mês internada por conta das queimaduras e de problemas pulmonares. A testemunha foi questionada se havia recebido cursos e treinamentos sobre a evacuação da boate. “Eu não fiz curso. Eu só tinha orientações de colegas, porque a minha função era ficar na frente, fazendo a revista. Depois de uma certa hora, eu passava para dentro, ajudava a recolher garrafas”, relatou.

Ao todo, o Tribunal do Júri já ouviu 16 depoimentos. Ainda restam 13 depoentes. O juiz Faccini relatou, em um dos intervalos, que acredita ser “o fim do começo do julgamento”. Faccini pediu, ainda, maior assertividade por parte das defesas no momento de questionar as testemunhas.

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