Racismo

Loja em Salvador vende cerâmicas de negros escravizados e causa indignação

Após a repercussão, a loja Hangard das Artes emitiu uma nota em que pede desculpas pelas imagens e disse que as esculturas eram representação do espírito do Preto Velho

Thays Martins
postado em 09/02/2022 12:53
 (crédito: redes sociais/ reprodução)
(crédito: redes sociais/ reprodução)

Uma loja no aeroporto de Salvador, na Bahia, causou indignação ao vender peças de cerâmica de pessoas negras escravizadas. Nesta segunda-feira (7/2), um historiador postou as imagens nas redes sociais e gerou comoção. 

As fotos repercutiram depois que foram compartilhadas pelo ativista Antônio Isupério. "Você imagina que poderia ter um boneco de crianças judias em 'forninhos' para serem vendidas como adereços? Então, isso não acontece porque o repúdio à violência do nazismo já está em domínio público, enquanto nós n*gros ainda estamos em processo de conquista da nossa humanidade", escreveu.

As imagens mostram pessoas negras acorrentadas com etiqueta em que estava escrito: "Escravos de cerâmica - R$ 99,90, a unidade". 

Após a repercussão, a loja Hangard das Artes emitiu uma nota em que pede desculpas pelas imagens e disse que as esculturas eram representação do espírito do Preto Velho - arquétipo de velhos africanos que viviam nas senzalas.

"Erramos na forma em que as peças foram expostas e em descrevê-los apenas como escravos, apagando, de certa forma, a história que carrega", diz trecho da nota. A loja também informou que as cerâmicas foram retiradas das prateleiras. (Veja a nota completa abaixo) 

Em nota, o Vinci Airports, que administra o aeroporto, disse que recomendou a retirada dos itens de comercialização.

Repercussão negativa 

Nota completa Hangard das Artes

Trata-se de uma empresa que emprega inúmeras pessoas, atuante no mercado de artesanato e obras de arte há mais de 20 anos, comercializando e divulgando a confecção de obras de diversos artistas regionais, sempre incentivando a produção daquele pequeno artesão cujo seu sustento depende exclusivamente de sua arte.

Todas as obras que exibimos são voltadas para a exaltação da cultura e história baiana e brasileira. Nossa loja está localizada no Aeroporto de Salvador e sempre exaltou as diversas culturas, com ênfase na cultura africana, já que temos orgulho de demarcar que somos, provavelmente, a cidade mais negra fora de África. Sempre com muito respeito e admiração.

As imagens que estão circulando, de algumas de nossas esculturas, tratam-se da imagem do Preto(a) Velho(a) - espíritos que se apresentam sob o arquétipo de velhos africanos que viveram nas senzalas, majoritariamente como escravos, entidades essas que trabalham com a caridade e cuidam de todas as pessoas que os procuram para melhorar a saúde, abrir caminhos e ter proteção no dia a dia. Por isso, algumas das peças possuem correntes, na tentativa (ERRÔNEA) de retratar a história dessa entidade de maneira literal. Erramos na forma em que as peças foram expostas e em descrevê-los apenas como escravos, apagando, de certa forma, a história que carrega.

Pedimos nossas mais sinceras desculpas a todos que se sentiram feridos e menosprezados pela maneira como conduzimos às coisas. Nossa intenção JAMAIS foi menosprezar, ferir ou destituir da imagem de uma entidade tão importante e a potência de sua história. Nossas correntes foram quebradas! E não queremos de maneira alguma trazer de volta memórias desse passado tenebroso e vergonhoso.

Por isso, retiramos todas as peças de circulação afim de minimamente nos retratar diante do ocorrido. Sabemos que não se apaga o que foi feito, mas reconhecemos a nossa falha e não tornaremos a repeti-la, não só pela repercussão que houve e sim por não condizer com a nossa verdade.

Nossas sinceras desculpas pelo ocorrido.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação