Preso há mais de dois anos na Espanha, o segundo-sargento Manoel Silva Rodrigues começa a ser julgado hoje pela Justiça Militar da União por tráfico internacional de drogas. Ele foi detido em junho de 2019 com 39 quilos de cocaína em um dos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) que dava apoio à comitiva do presidente Jair Bolsonaro (PL) que seguia para uma viagem ao Japão e para reuniões de cúpula do G20.
O sargento vai participar do julgamento por videoconferência. A defesa pede que, em caso de condenação, o tempo cumprido na Espanha seja considerado para abater a sentença. Outro pedido é que ele seja julgado com base no Código Penal Militar, que estabelece uma pena mais branda para o tráfico internacional — de no máximo cinco anos — do que a chamada Lei das Drogas, que prevê até 15 anos de reclusão.
A expulsão, no entanto, depende de uma condenação definitiva — ou seja, o trânsito em julgado. O resultado do julgamento de hoje ainda poderá ser objeto de recurso junto ao Superior Tribunal Militar (STM).
Rodrigues sentará no banco dos réus do Conselho Permanente de Justiça. O colegiado é presidido pelo juiz federal da Justiça Militar Frederico Magno de Melo Veras. Os outros quatro membros serão militares da Aeronáutica definidos por sorteio.
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Mensagem em código
Desde a prisão do sargento, a Polícia Federal (PF) abriu cinco fases da Operação Quinta Coluna para investigar se outros militares foram cooptados por um esquema de tráfico internacional de drogas. De acordo com as investigações, Manoel embarcou levando cocaína em pelo menos sete viagens oficiais, antes de ser preso na Espanha.
Segundo a PF, em todas os voos de que participou o sargento trocou mensagens com a mulher, Wilkelane Nonato Rodrigues, que indicariam que a remessa de cocaína teria chegado ao destino sem que ninguém percebesse. Em uma viagem oficial ao Azerbaijão, com escala também na Espanha, em abril de 2019, ele remeteu como código — segundo avaliação do Ministério Público Militar (MPM) — a foto de um braço levantado com um terço enrolado no pulso. Nesta viagem, o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, estava à frente da comitiva. O roteiro incluía agenda oficial no Líbano e escalas em Cabo Verde, em Madri, em Roma e em Lisboa.
As investigações levantaram que uma semana depois de retornar do Azerbaijão, o sargento comprou uma moto Honda NC-750-X por R$ 32,9 mil. Manoel e Wilkelane também gastaram R$ 26 mil na reforma do apartamento em que moravam em Taguatinga, e na compra de móveis e elementos de decoração.
Ainda de acordo com o levantamento da PF, o sargento fez quatro voos domésticos — para São Paulo e Recife — e três internacionais com escalas na Espanha, onde a cocaína era deixada para os traficantes locais. Os investigadores estimam que Manoel recebeu aproximadamente R$ 100 mil pelo transporte da droga.
De acordo com a PF, o sargento não agia sozinho. As investigações apontam que outros quatro militares da Aeronáutica participavam do esquema de tráfico em missões oficiais nacionais e internacionais.
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