Violência

Três jovens são mortos em ação da PM em comunidade de Salvador

Os assassinatos foram na Gamboa, periferia da cidade. Moradores e policiais dão versões conflitantes sobre os acontecimentos; OAB da Bahia cobra investigação

Jéssica Gotlib
postado em 02/03/2022 13:02 / atualizado em 02/03/2022 13:03
Familiares de Alexandre dos Santos, 20 anos, deram detalhes de como os jovens foram levados vivos e apareceram mortos -  (crédito: Instagram/Reprodução)
Familiares de Alexandre dos Santos, 20 anos, deram detalhes de como os jovens foram levados vivos e apareceram mortos - (crédito: Instagram/Reprodução)

Uma operação da Polícia Militar resultou na morte de três jovens negros na comunidade Gamboa, em Salvador. A PM foi ao local na madrugada da segunda-feira (1º/3) averiguar uma denúncia. As vítimas são Alexandre dos Santos, 20 anos, Patrick Sapucaia, 16, e Cauê Guimarães — que não teve a idade divulgada. Segundo os policiais, houve uma troca de tiros que resultou na morte das três pessoas. Moradores e familiares, no entanto, dão outra versão dos fatos.

A tia de Alexandre dos Santos, Luciana Gomes, 41, falou em entrevista ao Correio 24h que acredita que os jovens tenham sido executados. Os corpos foram achados em uma casa abandonada na entrada da comunidade.

"Entrei lá, tinha poça de sangue na sala, no quarto e no banheiro. Era muito sangue. Ou seja, cada lugar estava um corpo. Como é que foi troca de tiros? Não existe isso. Sem falar que os três estavam em um bar quando foram levados a força para dentro da casa. Depois, os outros policiais foram até a casa e começaram a limpar tudo com água corrente", contou.

Silvana dos Santos, 48, mãe do rapaz também falou sobre o dia em que o filho foi morto. De acordo com ela, os três foram levados ainda com vida. "Eu tentei salvar o meu filho, mas um policial botou a arma na minha cara. Ele ainda estava com vida, pedindo socorro, dizendo que ia morrer. Mas infelizmente não consegui impedir que matassem o meu filho. Botaram ele e os outros no porta-malas da viatura e saíram”, declarou.

A mãe precisou ser amparada por outros moradores enquanto conversava com a imprensa local. "Acordei com a zoada dos tiros. Pegaram o meu filho para matar. Foram vários policiais e encapuzados que fizeram isso com os meninos. Esses policiais estudam pra quê, gente? Pra matar as pessoas? Eles descem aqui atirando. Pra eles pouco importa quem é trabalhado", desabafou em entrevista ao Correio 24h.

Investigações

Em entrevista coletiva, os peritos do Departamento de Polícia Técnica (DPT) afirmaram que o trabalho de investigação dos fatos será difícil. “Muita gente entrou na casa, encontramos cápsulas dentro de sacos com os próprios moradores. Ou seja, muita coisa foi alterada. Mas coletamos três vestígios respingos de sangue em três pontos distintos que serão analisados”, declarou um dos porta-vozes do departamento.

Nesta quarta-feira (2/3), a Comissão de Direitos Humanos da OAB-BA divulgou nota dizendo que obrar da Corregedoria da PM e da Secretaria de Segurança Pública uma investigação transparente e minuciosa do ocorrido. O texto sugere medidas como o afastamento imediato dos policiais envolvidos nos fatos até o fim da apuração e medidas de proteção às testemunhas.

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