Pandemia

Mortalidade por covid-19 dobrou em cidades bolsonaristas, mostra estudo

Pesquisa aponta que as vulnerabilidades relacionadas às desigualdades de renda e à infraestrutura de saúde foram as que mais moldaram a dinâmica da primeira onda da covid-19 no Brasil

Gabriela Chabalgoity*
postado em 16/03/2022 18:18 / atualizado em 16/03/2022 19:21
 (crédito: Evaristo Sá/AFP)
(crédito: Evaristo Sá/AFP)

Os municípios brasileiros que elegeram Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2018 registraram mais óbitos pela covid-19 em 2021 do que os municípios eleitores do então candidato Fernando Haddad (PT). Os dados são de uma pesquisa publicada na revista internacional Lancet para as Américas e realizada por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fiocruz.

Nos municípios em que os eleitores se alinharam mais à política de Bolsonaro, o risco de morte foi 44% superior do que naqueles em que não se alinharam. No Nordeste, a taxa de mortalidade foi muito inferior quando comparada a taxa de municípios bolsonaristas da região Sul e Sudeste. Foram analisados dados de 5.570 cidades brasileiras. Além disso, as cidades estudadas possuem estruturas sanitárias semelhantes, para impedir que variáveis, como a subnotificação de casos, possam interferir nos resultados obtidos.

Um caso curioso do estudo é o do município de Chapecó, em Santa Catarina, que, no início da pandemia, em 2020, garantia uma taxa de óbitos muito menor do que a média nacional. A partir do ano de 2021, quando o prefeito João Rodrigues tomou posse, o índice de mortes acumuladas se tornou o maior do país: 75%. O prefeito é aliado de Bolsonaro e defendeu a utilização do tratamento precoce como saída para a pandemia.

Outra comparação apresentada pela pesquisa foi entre as cidades de Crato, no Ceará, cuja maioria da população não votou no presidente, e de Sapiranga, no Rio Grande do Sul, eleitora do chefe do Executivo. Ambas as cidades são consideradas grandes e possuem IDH médio. Porém, a primeira registrou uma taxa de 110 mortes a cada 100 mil habitantes, enquanto a segunda teve um índice de 360 óbitos por 100 mil habitantes.

Das conclusões apresentadas, os pesquisadores afirmaram que as vulnerabilidades relacionadas às desigualdades de renda e infraestrutura de saúde foram as que mais moldaram a dinâmica da primeira onda da covid-19 no Brasil. Enquanto isso, de acordo com o estudo, a segunda onda foi explicitamente moldada pela escolha partidária dos municípios. Ou seja, municípios que escolheram Bolsonaro como presidente do país apresentaram taxas de mortalidade por coronavírus intensificadas na segunda onda.

O estudo foi realizado por Diego Ricardo Xavier, Eliane Lima e Silva, Flavio Alves Lara, Gabriel R.R. e Silva, Marcus F. Oliveira, Helen Gurgel e Christovam Barcellos.

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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