Pandemia

Análise estima que 18,2 milhões de pessoas morreram de covid-19 no mundo

O dado equivalente a 12,5 milhões a mais de óbitos do que indicam os dados oficiais. No Brasil, 140 mil vítimas não teriam sido registradas

Correio Braziliense
postado em 11/03/2022 06:00
 (crédito: MARCIO JAMES)
(crédito: MARCIO JAMES)

O número de mortes provocadas pela covid-19 pode ser três vezes maior do que o registrado, afirmam pesquisadores dos Estados Unidos. Entre 1º de janeiro de 2020 e 31 de dezembro de 2021, os dados oficiais indicam a ocorrência de 5,69 milhões de óbitos no mundo, mas o estudo americano estima que esse total seja de 18,2 milhões, sugerindo que o impacto da pandemia é muito maior do que o imaginado. No caso do Brasil, o número de vítimas pularia de 652 mil para 792 mil.

Segundo os autores do estudo, divulgado na última edição da revista especializada The Lancet, embora tenham havido várias tentativas anteriores de traçar um cenário mais realista da mortalidade por covid-19, a maioria das iniciativas foi limitada pela baixa disponibilidade de dados geográficos. "O excesso de mortes — que representa o número de óbitos que não eram esperados em determinado período de tempo, em determinado local — é uma medida fundamental para decifrar o verdadeiro número de vítimas fatais da pandemia", explicam.

A pesquisa traz os primeiros resultados revisados por pares desse fenômeno, com dados de 191 países e territórios e 252 locais subnacionais, como estados e províncias, colhidos de 1º de janeiro de 2020 a 31 de dezembro de 2021. Os especialistas também consideraram informações semanais ou mensais sobre todas as mortes provocadas por causas naturais (qualquer enfermidade) em 2021, 2020 e até 11 anos anteriores referentes a 74 países e 266 estados e províncias. O material foi obtido por meio de buscas em sites governamentais, como o World Mortality Database, o Human Mortality Database e o European Statistical Office.

Por meio de modelos matemáticos, os cientistas chegaram ao número de 18,2 milhões de mortes nos dois anos. A taxa de mortalidade em excesso foi estimada em 120 mortes por 100 mil habitantes em todo o mundo. E o estudo mostrou que, em 21 países, a relação foi de mais de 300 óbitos por 100 mil pessoas. Os piores cenários se deram em América Latina Andina (512 mortes por 100 mil habitantes), Europa Oriental (345 mortes), Europa Central (316)), sul da África Subsaariana (309) e América Latina Central (274).

Os autores avaliam que outras partes do mundo passaram por situações semelhantes, mas há falta de dados para se chegar a essa conclusão. "Acreditamos que vários locais fora dessas regiões apresentam taxas igualmente altas, incluindo Líbano, Armênia, Tunísia, Líbia, várias áreas da Itália e diversos estados do sul dos Estados Unidos", listam. A análise também revelou que alguns países tiveram menos mortes do que o esperado, tendo como referência a mortalidade em anos anteriores. Entre eles, estão Islândia (48 mortes a menos por 100 mil), Austrália (38 mortes a menos) e Cingapura (16).

Considerando o total de mortos, o Sul da Ásia teve o maior número de óbitos em excesso por covid-19 — 5,3 milhões. Em seguida, estão o norte da África e Oriente Médio (1,7 milhão) e a Europa Oriental (1,4 milhão). Na análise mais localizando, considerando os países, o maior número de mortes em excesso estimadas ocorreu em Índia (4,1 milhões), Estados Unidos (1,1 milhão), Rússia (1,1 milhão), México (798 mil), Brasil (792 mil), Indonésia (736 mil) e Paquistão (664 mil). De acordo com os cientistas, esses sete países podem ter sido responsáveis por mais da metade do excesso global de mortes causadas pela pandemia no período de 24 meses.

Limitações

Para os autores, a grande diferença entre as mortes oficiais e as estimadas na análise pode ter como justificativas a falta de testes e os problemas na notificação de dados. O grupo acredita que, quando índices de mais países estiverem disponíveis e detalhados, será possível determinar melhor quantas mortes em excesso ocorreram diretamente pela covid-19 e quantas foram provocadas como resultado indireto da pandemia. "Evidências de estudos iniciais sugerem que uma proporção significativa das mortes em excesso é resultado direto da covid-19, no entanto, os óbitos também podem ter ocorrido indiretamente, por causas como suicídio e uso de drogas, devido a mudanças de comportamento ou a falta de acesso a cuidados de saúde e a outros serviços essenciais durante a pandemia", detalham.

Haidong Wang, principal autor do estudo e pesquisador do Institute for Health Metrics and Evaluation, nos Estados Unidos, chama a atenção para a importância de se ter um cenário mais realista da atual crise sanitária. "Compreender o verdadeiro número de mortos pela pandemia é vital para uma tomada de decisão eficaz em saúde pública. Estudos de vários países, incluindo Suécia e Holanda, sugerem que a covid-19 foi a causa direta da maioria das mortes em excesso, mas, atualmente, não temos evidências suficientes para a maioria dos locais", afirma, em comunicado.

Os cientistas também reconhecem limitações na análise que conduziram, já que nem todos países reportaram dados semanais ou mensais de óbitos por todas as causas. "A maioria dos índices de mortes excessivas usados se referia apenas ao período completo de dois anos, e não por semana ou mês. Essa falta de dados mais detalhados pode alterar significativamente as estimativas", justificam.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação