direitos indígenas

Avanço do garimpo ilegal em terra indígena ameaça yanomamis

Relatório mostra a destruição promovida pelos invasores, inclusive com o aumento da violência sexual contra menores

Maria Eduarda Cardim
Cristiane Noberto
postado em 12/04/2022 06:00
 (crédito:  Cristiane Noberto/CB)
(crédito: Cristiane Noberto/CB)

O avanço do garimpo ilegal e da presença de exploradores nas terras indígenas ameaça cada vez mais a existência de famílias e comunidades tradicionais — além da devastação da floresta e das terras. O relatório da Hutukara Associação Yanomâmi (HAY), divulgado ontem, revela o avanço da destruição promovida pelos garimpeiros à etnia. Mas não é só isso: traz relatos da violência sexual sofrida por mulheres e crianças indígenas, que são abusadas em troca de comida.

O documento enumera relatos dos abusos, colhidos pelos pesquisadores indígenas. Há situações em que os garimpeiros oferecem comida em troca de sexo com adolescentes e, também, segundo o relatório, "a oferta de bebidas alcoólicas é uma das principais estratégias para aliciar os jovens e abusar do sexo".

O relatório indica que três meninas de 13 anos morreram após serem embriagadas e estupradas. "Eram novas, tendo apenas a primeira menstruação. Após os garimpeiros terem provocado a morte dessas moças, os ianomâmi protestaram contra os garimpeiros, que se afastaram um pouco", diz o relato de uma pesquisadora.

Segundo Júnior Hekurari, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomâmi e Ye'kuana (Condisi-YY), os garimpeiros aliciam as jovens e as forçam. São vários os relatos de estupros e casamentos que, muitas vezes, terminam em tragédia. "A gente tem outro relato de que uma adolescente de 15 anos morreu por ter sido violentada por 50 ou 60 garimpeiros. É uma situação muito grave e fora de controle na terra ianomâmi. O governo federal tem conhecimento disso, as autoridades sabem da situação, mas estão omissos", denunciou.

O cotidiano das mulheres indígenas é viverem cercadas pelo medo e enxergarem os exploradores de ouro e pedras como ameaça. "Desde que ouço falar dos garimpeiros, eu vivo com angústia", relatou uma mulher ianomâmi à pesquisa. A apreensão se estende aos diversos grupos étnicos, já que o documento aponta que o garimpo ilegal avançou 46% no ano passado, se comparado com o avanço verificado em 2020.

"O problema do garimpo ilegal não é uma novidade na terra ianomâmi. Entretanto, sua escala e intensidade cresceram de maneira impressionante nos últimos cinco anos. Dados do Mapbiomas indicam que, de 2016 a 2020, o garimpo nas terras ianomâmi cresceu nada menos que 3.350%", salienta o documento.

A expansão irregular, segundo o relatório, aconteceu por vários motivos, que vão desde o aumento do preço do ouro no mercado internacional à fragilização das políticas ambientais e de proteção aos direitos dos povos indígenas. Para o vice-presidente da Hutukara, Dario Kopenawa, as operações de combate ao garimpo não surtiram efeito.

"Esse documento mostra a realidade que estamos vivendo e suas consequências. Pedimos o apoio da população para a retirada imediata dessas pessoas", clamou Kopenawa.

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