Roraima

'Cadê os Yanomami?': o que se sabe sobre sumiço de aldeia indígena

Comunidade desapareceu após denúncia de estupro de menina indígena; aldeia tinha sinais de incêndio

Thays Martins
postado em 04/05/2022 17:09 / atualizado em 04/05/2022 17:09
O caso repercutiu nas redes sociais e na última quinta-feira (28/4), a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia cobrou uma investigação sobre o caso -  (crédito:  Júnior Hekurari Yanomami/ reprodução )
O caso repercutiu nas redes sociais e na última quinta-feira (28/4), a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia cobrou uma investigação sobre o caso - (crédito: Júnior Hekurari Yanomami/ reprodução )

Cerca de 24 indígenas da aldeia ianomâmi Aracaçá, na região Waikás, em Roraima, estão desaparecidos após denunciarem o estupro e assassinato de uma menina indígena por garimpeiros ilegais. A aldeia tem sinais de incêndio.

De acordo com Júnior Hekurari Ianomâmi, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena e Ye'kuana (Condisi-YY), relatos indicam que os ianomâmis fugiram após o estupro e estão escondidos na floresta.

A Hutukara Associação Yanomami (HAY) informou que está acompanhando a investigação e cobrou que as autoridades tirem os garimpeiros ilegais das terras indígenas. "Essas e outras graves violações de direitos dos povos indígenas causadas pelo garimpo ilegal em suas terras há anos vêm sendo denunciadas ao poder público. Insistimos que o Estado brasileiro cumpra seu dever constitucional e promova urgentemente a retirada dos invasores", diz. 

No último dia 25, os indígenas denunciaram o estupro de uma menina de 12 anos, que teria morrido, e o sumiço de um criança de 3 anos, após um ataque de garimpeiros ilegais.

Após a denúncia, a Polícia Federal foi até a comunidade para apurar o ocorrido, mas não encontrou vestígios do crime. A comunidade de Aracaçá, no entanto, foi encontrada vazia e uma das casas estava queimada. Segundo o Condisi-YY, é comum que após a morte de um ente querido, os indígenas deixem suas casas e procurem outro lugar para viver. A PF informou que continua a investigação. 

Repercussão do caso e grupo no Senado

Segundo o Condisi-YY, alguns indígenas que foram encontrados na região se recusaram a falar e disseram que receberam cerca de 05g de ouro dos garimpeiros para manter silêncio

O caso repercutiu nas redes sociais e na última quinta-feira (28/4), a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia cobrou uma investigação sobre o caso. “Não é possível calar ou se omitir diante do descalabro de desumanidades criminosamente impostas às mulheres brasileiras, dentre as quais mais ainda as indígenas, que estão sendo mortas pela ferocidade desumana e incontida de alguns”, disse na ocasião. 

A Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal formou um grupo para acompanhar as medidas contra o garimpo ilegal na região. E a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou, nesta terça-feira (3/5), a criação de um grupo de trabalho para acompanhar a situação dos povos indígenas. 

Segundo o relatório "Yanomami sob ataque", da Hutukara Associação Yanomami (HAY), divulgado em abril, a região de Aracaçá registrou o maior avanço de garimpo ilegal. Segundo os dados, em 2021 o garimpo ilegal avançou 46% — em comparação com 2020 — nas terras ianomâmis. 

 

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