Depoimento na justiça

Caso Backer: 'Justiça é o mínimo que eles merecem', diz irmão de vítima

No terceiro dia de audiências no Fórum Lafayette, em BH, sete testemunhas relataram sofrimento de parentes e amigos após consumo de cerveja contaminada

A Justiça de Minas Gerais ouviu, nesta quarta-feira (25), mais sete testemunhas sobre o caso de contaminação da cerveja “Belorizontina”, fabricada pela Backer. Todos os depoimentos foram de parentes ou pessoas próximas a vítimas. Este foi o terceiro dia de audiências na 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte, no Fórum Lafayette, Região Centro-Sul de BH.

Quatro das sete testemunhas ouvidas nesta quarta eram próximas de pessoas que não resistiram à contaminação pela substância dietilenoglicol presente na cerveja. Outras três relataram sequelas deixadas pela intoxicação e a luta das vítimas pela recuperação.

O engenheiro mecânico Célio Guilherme de Barros foi uma das pessoas que compareceram ao fórum para relatar à Justiça os danos provocados à saúde de seu irmão pelo consumo da cerveja contaminada.

Luciano, de 58 anos, ficou em coma por 28 dias e internado por seis meses e hoje lida com sequelas da intoxicação.

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“Ele perdeu uns 60% da audição, não tem expressão facial, não consegue sorrir, tem uma paralisia ocular e, segundo os médicos, os rins dele só funcionam 28%, está no limite de uma hemodiálise”, contou o irmão de Luciano.

Célio foi o último a ser ouvido pela Justiça. À imprensa, ele contou que a vida do irmão foi alterada de forma irreversível pela contaminação. Luciano é casado, tem um filho e teve que deixar o trabalho por não ter mais condições de exercer suas atividades profissionais.

“Ainda estamos na luta por algum tipo de indenização, por justiça, que é o mínimo que eles merecem. Ele tinha o hobby de ir nos jogos do Atlético e tomar uma cerveja e não pode mais. Nos jogos ele continua indo, porque consegue, mas não é a mesma coisa”, relata.

Segundo Célio, as complicações de saúde do irmão começaram antes de os casos de doenças renais, diarreia, e dificuldades cognitivas começarem a ser associados com o consumo da “Belorizontina”. Luciano consumiu a cerveja no início de novembro de 2019 e já estava internado quando o assunto ganhou repercussão, em janeiro do ano seguinte.

Outros relatos ouvidos

Emocionadas, a maioria das testemunhas não teve o nome divulgado e preferiu não conversar com a reportagem sobre a situação vivida após a contaminação de entes queridos. A primeira testemunha, é esposa de uma das 29 vítimas do caso. Seu marido tem dificuldades de locomoção e já precisou usar cadeira de rodas. Ela teve de abandonar o trabalho para cuidar do companheiro e afirma que os valores indenizatórios pagos pela Backer não cobrem o tratamento.

A segunda testemunha é enteada de uma vítima que teve insuficiência renal aguda, perdeu a visão e a memória e não resistiu à intoxicação. A terceira testemunha foi a filha de uma vítima que também faleceu após complicações causadas pela cerveja contaminada.

A quarta testemunha é viúva de outra das 10 vítimas que morreram. Ela conta que o marido teve insuficiência renal e entrou em coma. Quando retornou, não resistiu a lesões nos rins, cérebro e pulmões e faleceu deixando uma filha de 10 anos.

Um amigo de uma das vítimas foi a quinta testemunha. Ele relatou que o colega era um atleta e hoje vive com um problema motor. A sexta testemunha é filha de um homem que teve de ser submetido a hemodiálise, problemas de visão e paralisia facial e faleceu devido às complicações da intoxicação.

Nesta quinta-feira (26), mais sete testemunhas serão ouvidas e será encerrada esta fase do processo. As datas para o depoimento das testemunhas de defesa da Backer ainda não foram marcadas.

Relembre o “Caso Backer”

Após o relato de vários casos de intoxicação de pessoas que haviam consumido a cerveja “Belorizontina" na capital, em dezembro de 2019, 29 vítimas de contaminação com dietilenoglicol foram registradas pela Polícia Civil, 10 delas faleceram.

A substância altamente tóxica era utilizada no processo de resfriamento da cerveja. Ela vazou e entrou em contato com o produto final, que foi vendido e consumido.

A Backer teve as atividades suspensas em 2020 após comprovação do vazamento da substância tóxica. Em abril deste ano, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) liberou o retorno do funcionamento da fábrica, que voltou à ativa.

A empresa foi acionada no âmbito cível para a indenização das vítimas, a ação segue na primeira instância. Na área criminal, sete funcionários da Backer foram indiciados e os três gestores da cervejaria, Ana Paula Silva Lebbos, Hayan Franco Khalil Lebbos e Munir Franco Khalil Lebbos, também respondem a processo.

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