Amazônia

Investigadores não descartam qualquer hipótese no desaparecimento

Autoridades de segurança envolvidas nas buscas de Dom Phillips e Bruno Pereira chamaram um perito para examinar um material considerado relevante para a investigação. Superintendente da PF confirma que o servidor da Funai havia sofrido ameaças

Isadora Albernaz*
postado em 08/06/2022 21:50
Liderança indígena em vigília na Funai, em Brasília: força-tarefa federal na busca dos desaparecidos  -  (crédito:  Carlos Vieira/CB)
Liderança indígena em vigília na Funai, em Brasília: força-tarefa federal na busca dos desaparecidos - (crédito: Carlos Vieira/CB)

As autoridades responsáveis pela investigação do desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira promoveram nesta quarta-feira (8/6), em Manaus, uma coletiva de imprensa para prestar esclarecimentos a respeito do caso. Os investigadores disseram não descartar nenhuma linha de investigação, inclusive a possibilidade de homicídio.

O secretário estadual de Segurança Pública do Amazonas (AM), General Mansur, afirmou que as autoridades encontraram um material relevante, que está norteando uma linha de investigação. Segundo ele, um perito está a caminho para integrar a equipe e avaliar o que foi encontrado. O teor do material não foi especificado pelo secretário.

Além disso, o delegado Federal e superintendente da Polícia Federal (PF) no Amazonas, Eduardo Fontes, confirmou que o servidor da Funai desaparecido havia sofrido ameaças, como denunciado antes por organizações indígenas. Quando questionado a respeito da identidade dos criminosos, Almada preferiu não divulgar as informações.

Suspeito preso

As autoridades também declararam que não foi confirmada nenhuma ligação direta entre o suspeito preso hoje (08) e o desaparecimento da dupla. De acordo com eles, o homem foi detido em flagrante porque carregava munições e drogas. As outras cinco pessoas ouvidas pela polícia eram testemunhas.

Apesar das explicações concedidas pelas equipes de investigação, o General Mansur disse não haver ainda fortes indícios de crime e que tem esperança de encontrar Phillips e Pereira ainda com vida.

Eduardo Fontes também lembrou que se trata de região fronteiriça perigosa, onde há tráfico internacional de drogas, garimpo ilegal, assim como pesca e extração de madeira clandestina.

Aumento da violência

Homologada em 2001 por decreto do então presidente Fernando Henrique Cardoso, a Terra Indígena do Vale do Javari é o segundo maior território indígena do Brasil, com 8,5 milhões de hectares. A região fica localizada no oeste do Amazonas e é integrada também pelos municípios de Atalaia do Norte — cidade para onde Phillips e Pereira retornavam — e Guajará.

A terra indígena faz fronteira com dois países: Peru e Colômbia. Essa circunstância acende o alerta dos especialistas e das autoridades para as rotas internacionais de narcotráfico próximas à região.

De acordo com uma nota divulgada na terça-feira (7/6) pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI), o desaparecimento de Dom Phillips e de Bruno Pereira ocorre em um contexto de crescente violência no Vale do Javari.

Ao Correio, o coordenador executivo do CTI, Jaime Siqueira, declarou: “O Estado está ausente na região no que se refere às ações de fiscalização do território e assistência básica à saúde. No entanto, tentam dificultar justamente as atividades que minimizem a ausência do poder público. Colocam uma série de restrições para os trabalhos que realizamos, bem como de outros parceiros da Univaja. Obviamente, os povos isolados precisam de proteção especial, mas o que observamos é que a Funai de hoje não está preocupada com a real situação desses povos”, disse.

O Centro também traz o histórico de crimes cometidos na região nos últimos anos. A nota relembra o caso do colaborador da Funai Maxciel Pereira dos Santos, que foi assassinado em setembro de 2019, em Tabatinga (AM), cidade próxima à Terra Indígena do Vale do Javari. Segundo o CTI, Maxciel, assim como Bruno, atuava para conter invasões na área dos indígenas.

Em 2019 e 2022, a Associação dos Kanamari do Vale do Javari (Akavaja) também denunciou invasões de garimpeiros na terra demarcada.

Área complexa

As buscas estão sendo realizadas em conjunto por um gabinete de crise composto pelo Exército Brasileiro, Marinha, Polícia Federal, Civil e Militar e pelo Corpo de Bombeiros da região. O trabalho teve início ainda no domingo (5), após denúncia de mais de 24 horas do sumiço da dupla.

Segundo as autoridades, está ocorrendo uma cooperação mútua, com troca de informações entre os órgãos envolvidos.

Durante a coletiva de imprensa, os representantes das agências reforçaram a complexidade da área onde o indigenista e o jornalista desapareceram. Além da dificuldade de acesso, o período climático torna a incursão dos agentes mais complicada. "O componente enchente dificulta. As técnicas são comprometidas pelo fator alagadiço", afirmou o comandante geral do Corpo de Bombeiros, Coronel Muniz.

De acordo com o superintendente da PF, 250 funcionários estão alocados nas buscas. Muitos são agentes especializados em selva ou conhecedores da região. Duas aeronaves, três drones e 20 viaturas auxiliam na investigação.

* Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação