Desaparecimento na Amazônia

Representante da Univaja critica postura 'soberba' da PF durante coletiva

Em um movimento para fazer justiça, a Univaja agradece à Equipe de Vigilância da Univaja (EVU), aos policiais militares do 8º Batalhão em Tabatinga (AM) e à imprensa nacional e internacional. A associação considera o caso um crime político e prometem novas providências durante a semana

Após a informação de que a PF encontrou os corpos que podem ser do indigenista Bruno Araújo e do jornalista inglês Dom Philips, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) divulgou, em nota, que o assassinato constitui um crime político. O assessor jurídico da Univaja, Eliésio Morubo, criticou a postura “soberba” da Polícia Federal (PF) ao se colocar como a única executora do trabalho — nos agradecimentos, o superintendente Alexandre Fontes não mencionou os indígenas e ribeirinhos.

"A PF foi soberba, assumiram para si como se tivessem fazendo todo o trabalho e não foi", disse Eliésio durante live no perfil da Univaja no Instagram. Segundo ele, aforma da PF de fazer justiça era agradecer a quem foi imprescindível para dar um encaminhamento à localização dos dois desaparecidos. Foi mencionada a Equipe de Vigilância da Univaja (EVU) e os policiais militares do 8º Batalhão em Tabatinga (AM) que, segundo Morubo, foram “verdadeiros parceiros de busca” ao atuarem desde o momento do aviso de desaparecimento e colaboraram com a proteção dos indígenas.

 

Reprodução / Instagram Univaja - Representante jurídico da Univaja, Eliésio Morubo, promete novas providências da associação ao longo da semana

“O comandante disponibilizou três policiais para nos acompanhar e fazer as buscas na região, os dias que se seguiram foram acompanhados por eles. Foram servidores públicos de fé, honraram a farda, sentimos a presença do Estado por esses policiais que ficaram em atuação junto com os indígenas e trouxeram, de fato, a resposta que a sociedade precisava e que o mundo precisava”, disse.

De acordo com a Univaja, foi um trabalho dos indígenas o mapeamento do perímetro para ser vasculhado pelas autoridades. “Fomos nós, indígenas, através da EVU, que encontramos a área que, posteriormente, passou a ser alvo das investigações por parte de outras instâncias, como a Polícia Federal, o Exército, a Marinha, o Corpo de Bombeiros etc. Foi a equipe de vigilância da UNIVAJA que entrou na floresta em busca de Pereira e Phillips para dar uma satisfação aos seus familiares”, informou em nota. 

“Ambos eram defensores dos Direitos Humanos e morreram desempenhando atividades em benefício de nós, povos indígenas do Vale do Javari, pelo nosso direito ao bem-viver, pelo nosso direito ao território e aos recursos naturais que são nosso alimento e garantia de vida, não apenas da nossa vida, mas também da vida dos nossos parentes isolados”, diz outro trecho da nota. 

A Uivaja também fez um agradecimento direcionado à imprensa nacional e internacional que, segundo Eliésio, contaram a história do Vale do Javari. “Com certeza não será o mesmo depois do trágico desfecho. Foi nossa parceira, nos ajudando a levar para o mundo inteiro ouvir a nossa voz e conhecer o que está acontecendo em nossa região”, destacou.

O representante prometeu, ainda, que no decorrer da semana e na próxima haverá novidades sobre o caso. Tanto a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), quanto a Univaja estão levando as denúncias a organismos internacionais, como o Tribunal Penal Internacional (TPI).

“Manifestamos nossa preocupação com nossas vidas, a vida das pessoas ameaçadas (pois não era somente o Bruno Pereira), componentes do movimento indígena, quando as forças armadas e a imprensa se deslocarem de Atalaia do Norte. O que acontecerá conosco? Continuaremos vivendo sob ameaças? Precisamos aprofundar e ampliar a investigação. Precisamos de fiscalização territorial efetiva no interior da Terra Indígena Vale do Javari”, apelou. Precisamos que as Bases de Proteção Etnoambiental (BAPEs) da FUNAI sejam fortalecidas”, apelou.

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