CULTURA

Imortais da ABL recusam prêmio dado a bolsonarista

Um deles, Antonio Secchin justificou a recusa afirmando que não se sentiria bem compartilhando uma medalha, como a do Mérito de Livro, com pessoas que, provavelmente, "não veem no livro mérito nenhum".

Fernanda Strickland
postado em 02/07/2022 06:00
 (crédito: Zeca Ribeiro/Agência Câmara)
(crédito: Zeca Ribeiro/Agência Câmara)

O escritor, poeta e tradutor Marco Lucchesi e o professor emérito da UFRJ Antonio Carlos Secchin, ambos imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL), recusaram-se receber a Ordem do Mérito do Livro, entregue pela Biblioteca Nacional (BN). Eles rejeitaram a comenda depois de saberem que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), como o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), também seriam agraciados.

Secchin justificou a recusa afirmando que não se sentiria bem compartilhando uma medalha, como a do Mérito de Livro, com pessoas que, provavelmente, “não veem no livro mérito nenhum”.

“Quando aceitei a medalha, supunha que ela seria entregue a pessoas que, como no meu caso, tivessem vivência com a Biblioteca Nacional e com o universo do livro. Porém, pelo que soube há pouco, a cerimônia vespertina se constituirá na celebração de uma única diretriz política, agraciando pessoas sem relação com livros, biblioteca e cultura”, criticou.

Incômodo

Lucchesi também deixou claro que se sentia incomodado em ser agraciado com uma comenda que seria entregue também para pessoas que não têm relação com a cultura e com a visão do atual governo sobre o setor.

“Convidado a receber a medalha da Biblioteca Nacional, e estando longe do país, acabo de saber que a mesma medalha será destinada, dentre outros, ao presidente da República e a alguns de seus mais fiéis seguidores. Por isso mesmo, não tenho condições de recebê-la”, tuitou. Segundo o escritor, aceitar a medalha “seria referendar Bolsonaro, que disse preferir um clube ou estande de tiro a uma biblioteca”. “Agradeço, mas não posso aceitar”, completou Lucchesi.

A rejeição de ambos foi provocada, sobretudo, porque a Biblioteca Nacional confirmou que Daniel Silveira seria homenageado com a comenda. “Recusei porque não sabia que Silveira seria agraciado, assim como outros nomes bolsonaristas receberiam a medalha”, admitiu.

O deputado foi condenado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por ameaças aos ministros da Corte. Ele até dormiu no Plenário da Câmara dos Deputados por se recusar a colocar uma tornozeleira eletrônica. Sua pena, porém, foi perdoada por meio de indulto concedido por Bolsonaro, publicado em 21 de abril — menos de 24 horas depois de ser condenado a mais de oito anos de prisão.

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