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Fiéis da Igreja Anglicana em Brasília acompanham enterro da Rainha Elizabeth II

Além de ter sido a rainha da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, a monarca falecida Elizabeth II também tinha o título de governadora suprema da Igreja Anglicana da Inglaterra

Raphael Pati*
postado em 19/09/2022 23:18
 (crédito:  AFP)
(crédito: AFP)

A despedida da monarca mais longeva da história do Reino Unido também foi acompanhada pelos fiéis da Igreja Anglicana em Brasília. Um sentimento de tristeza unido pelo reconhecimento da trajetória da rainha e de seu papel importante para o credo oficial da Inglaterra marcaram o último adeus dos que professam o anglicanismo na capital federal.

Além de ter sido a rainha da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, a monarca falecida Elizabeth II também possuía o título de governadora suprema da Igreja Anglicana da Inglaterra. A relação da religião com a monarquia inglesa já é bastante antiga e remonta ao século XVI, quando o então rei Henry VIII decidiu fundar a igreja após conflitos com o Papa Clemente VI, que o excomungou, após ter divorciado da esposa Catarina de Aragão para se casar com Ana Bolena, uma dama da corte.

No ritual de coroação de um novo rei ou rainha, o Bispo Anglicano de Canterbury é responsável pela hora mais importante da cerimônia - a coroação em si. Além disso, o novo monarca deve jurar proteção à doutrina anglicana e seu culto e disciplina estabelecidos pela Reforma Protestante da Inglaterra, de 1534.

Presente no Brasil desde 1890, quando ocorreu o primeiro culto na catedral da Santíssima Trindade, em Porto Alegre, a Igreja Anglicana do Brasil, assim como as igrejas da mesma denominação no resto do mundo, não possuem a rainha como governante suprema, já que elas têm autonomia episcopal, característica da comunhão anglicana. No entanto, a comunhão que une as diferentes igrejas ficou mais forte após a morte da antiga chefe de Estado do Reino Unido.

A Reverenda Tati Ribeiro, Reitora da Catedral Anglicana da Ressurreição, na 309 sul, assistiu ao funeral em casa e se orgulhou em dizer que presenciou um momento histórico e único. “Nós, com certeza, não veremos um reinado tão longo quanto o da Rainha Elizabeth. 70 anos à frente do trono, com certeza não veremos outro”, afirma.

“Muitas pessoas têm restrição ao sistema monárquico, mas nós reconhecemos a liderança dessa mulher, que se adaptou a cada tempo. Ela buscou aproximar a monarquia e a Família Real do povo, tanto da comoção do povo, que nós vimos nesses dias todos de velório e que ficaram horas na fila para se despedir da rainha”, comenta, ainda, a reverenda

Para o Bispo da Diocese Anglicana de Brasília, que acompanhou toda a cerimônia - desde o início, na Abadia de Westminster até o enterro na Capela de São Jorge -, a morte da rainha foi um momento de profunda tristeza para o clero anglicano do Brasil. “Nós colocamos uma mensagem nas nossas redes sociais e as pessoas interagiram, lamentando e colocando um sentimento de oração pela família real e pela Igreja da Inglaterra”, ressalta o bispo.

Maurício Andrade | Bispo da Diocese Anglicana de Brasília
Maurício Andrade | Bispo da Diocese Anglicana de Brasília (foto: Diocese Anglicana de Brasília)

Mesmo que o monarca da Inglaterra não seja governante das igrejas anglicanas fora do Reino Unido, pelo fato de as igrejas da comunhão anglicana não possuírem vínculo direto entre si, a morte de Elizabeth II, ainda assim, provocou um impacto global no anglicanismo e em outras religiões.

“A rainha tinha uma atenção especial por todas as pessoas que se aproximavam dela, ela foi muito acolhedora. Você imagine a quantidade de bispos e bispas e pessoas, em geral, que queriam chegar perto dela. Na minha compreensão, ela tinha uma consciência muito forte do papel que ela desempenhava para o Reino Unido, para a Igreja Anglicana e para o mundo”, destacou o Bispo Maurício.

Para os brasileiros que não queriam perder um segundo da cerimônia que ocorreu ontem em Londres, o despertador tinha que ficar ligado. Às 7h da manhã o corpo da rainha entrou na Abadia de Westminster e deu início a uma cerimônia repleta de cantos e símbolos. O ex-conselheiro da diplomacia brasileira no Reino Unido nos anos 1980, Guilherme Bastos, e anglicano “de nascença”, conta que foi emocionante testemunhar o funeral histórico.

“Os hinos fazem parte da minha formação religiosa e a figura da rainha, como chefe de Estado, por ter sido rainha por 70 anos é, realmente, uma figura a ser reverenciada e cumpriu a sua função com grande dedicação e amor. É interessante pensar que em toda a minha vida a Rainha da Inglaterra era um dos marcos que faziam parte da minha vida”, relata.

O ex-diplomata recorda os anos em que passou na Inglaterra, junto com toda a representação brasileira na época. Em um dos casos relatados, o príncipe Philip, esposo da rainha morto no ano passado, confessou ao embaixador brasileiro que havia ficado encantado com a beleza das mulheres brasileiras, que acompanhavam a comitiva do chanceler.

“O embaixador tinha duas colegas que andavam junto com ele e o príncipe, em uma ocasião, disse, em tom de descontração: ‘Ah, o Brasil tem mulheres muito bonitas, não é mesmo?’. Ele tinha muito desse lado informal”, relembra.

Seja através dos hinos, do cortejo acompanhado por uma multidão à Capela de São Jorge, ou por esses e todos os outros fatores, o fato é que os fiéis anglicanos tiveram a oportunidade de acompanhar um momento histórico para o reino onde nasceu a igreja pelo qual professam e que os brasileiros também puderam cantar, pela última vez, “God Save the Queen” - “Deus Salve a Rainha”.

*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza

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