JUSTIÇA

Técnico de ginástica olímpica é condenado a 109 anos por estupro de vulnerável

Juíza aplica pena de 109 anos e oito meses a Fernando de Carvalho Lopes pelo crime de estupro de vulnerável contra quatro vítimas, em processo iniciado em 2016. Mais de 40 ginastas afirmaram ter sofrido abusos

João Gabriel Freitas*
postado em 05/10/2022 03:55 / atualizado em 05/10/2022 06:45
 (crédito: Marcos Oliveira/Agencia Senado)
(crédito: Marcos Oliveira/Agencia Senado)

O ex-técnico da seleção brasileira de ginástica olímpica Fernando de Carvalho Lopes foi condenado a 109 anos e oito meses de prisão por abusos sexuais a atletas entre 1999 e 2016. A decisão da 2ª Vara Criminal de São Bernardo do Campo ordena reclusão em regime fechado pelo crime de estupro de vulnerável contra quatro vítimas.

A medida foi tomada, ontem, em primeira instância, mas Lopes pode recorrer contra a condenação. A defesa pretende apresentar novos argumentos em favor do ex-técnico ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), ao passo que o Ministério Público fornecerá o contraponto para análise da Corte. Caso a condenação seja confirmada em segunda instância, a defesa ainda poderá recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e, em último caso, ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Além dos processos a que responde na Justiça Civil, Lopes foi penalizado pela Justiça Desportiva. O ex-treinador foi banido do esporte pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e pela Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). Entretanto, em 2020, ele obteve uma liminar do Tribunal de Justiça de Sergipe, estado sede CBG, para suspender a decisão de afastá-lo até que seu recurso seja julgado.

O caso corre no Poder Judiciário desde 2016, após denúncias de atletas por meio de uma reportagem da Rede Globo. Ao todo, 40 ginastas afirmaram ter sofrido abuso entre 1999 e 2016, mas somente quatro são citados no processo como vítimas, enquanto os demais são tratados como testemunhas. O ex-treinador foi denunciado com base nos artigos 271-A (estupro de vulnerável) e 226 inciso II (agravante pela relação de poder em relação às vítimas).

"O regime inicial de cumprimento de pena será o fechado, em razão do quantum de pena aplicado, da gravidade e da hediondez do crime de estupro de vulnerável praticado pelo acusado contra quatro vítimas, durante longo período de tempo, valendo-se da sua condição de técnico dos atletas e da autoridade que exercia sobre elas", escreveu, em um trecho da decisão, a juíza Fernanda Alves da Rocha Branco de Oliva Politi.

Fernando de Carvalho Lopes chegou à ginástica sem grande histórico na modalidade. Tinha um passado no vôlei, mas se especializou em descobrir novos talentos por meio do recrutamento de jovens atletas, as chamadas "peneiras". Trabalhou boa parte da vida no Mesc, pequeno clube em São Bernardo do Campo (SP) que se transformou em referência na ginástica de base. Lá, ele formou ginastas campeões brasileiros e sul-americanos e viu vários deles chegarem à seleção nacional.

Após o sucesso na base brasileira passou a ser chamado para participar de campeonatos organizados pela Confederação Brasileira de Ginástica, a partir de 2011. Ao mesmo tempo, atuava como árbitro em competições organizadas pela entidade. No entanto, só foi cogitado para o time brasileiro depois da Olimpíada de Londres, em 2012.

Outro capítulo importante em sua carreira aconteceu em 2014, quando conseguiu financiamento para seu projeto no ASA, clube também de São Bernardo, em parceria com o Mesc. Com verba à disposição, contratou estrelas como Diego Hypolito e Caio Souza. A partir disso, Fernando Lopes foi integrado à comissão técnica da seleção brasileira permanente criada pela CBG. Ao lado de outros técnicos, foi responsável por preparar a equipe dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. O treinador ganhou mais força com a recuperação de Diego Hypolito antes da Olimpíada, que teve um ciclo complicado e não alcançou grandes resultados.

A ascensão de seu principal atleta o alavancou ao posto de um dos principais técnicos do país, mas, às vésperas da Rio 2016, foi acusado de abuso sexual por um atleta, menor de idade, que treinava no ASA São Bernardo. Com isso, foi afastado da comissão técnica da seleção brasileira de ginástica a um mês da Olimpíada, em junho de 2016. Desde então, vários atletas endossaram as denúncias.

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