A tragédia humanitária que atinge a comunidade Ianomâmi, causada pelo garimpo ilegal, vai além da destruição das terras e disseminação de doenças como a malária. Ela também envolve assédio sexual e até mortes por estupro. As informações são do relatório Yanomamis Sob Ataque: garimpo na Terra Indígena Yanomami, publicado em abril do ano passado.
O relatório detalha a forma como crianças e mulheres são assediadas pelos garimpeiros. Assolados pela fome, por vezes o uso de força física deixa de ser necessário e é substituído pela promessa de comida, roupas, bebidas, perfumes e ouro.
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“Aquela moça que você levou consigo é sua irmã? Se você fizer ela deitar comigo, sendo que você é o irmão mais velho dela, eu vou pagar 5 gramas de ouro”. Esse é um dos relatos sobre a situação de violência sexual que consta no relatório, produzido pela Hutukara Associação Yanomami e Associação Wanasseduume Ye'kwana.
Em outro trecho revelado pelo documento, um ianomâmi conta que disse para um garimpeiro: “Vocês estão tirando ouro de nossa floresta, vocês devem dar comida para nós trocar." Ele então teria respondido: “Vocês não peçam nossa comida atoa! É evidente que você não trouxe sua filha! Somente depois de deitar com tua filha eu te darei comida. Se você tiver uma filha e a der para mim, eu vou fazer aterrissar uma grande quantidade de comida que você vai comer! Você se alimentará!."
Em outro trecho atribuído aos garimpeiros, um dos assediadores diz que “se pegar tua filha, não vou mesmo deixar vocês passarem necessidade”. O relatório aponta ainda que o alvo dos garimpeiros são, geralmente, as meninas e mulheres mais jovens e que eles costumam oferecer cachaças para facilitar os abusos.
“Eles também entregam para as mulheres perfumes para fazer com que elas se perfumem (...) também eles falam assim: “Da próxima vez que você vem, vou comprar uma saia que te entregarei!”. “Irei te entregar também ouro. Com aquele ouro, você poderá pegar aquilo que você gostar” expõe um indígena sobre os garimpeiros que querem ter relações sexuais com as jovens.
De acordo com um depoimento que consta no relatório Yanomamis Sob Ataque, três adolescentes de 13 anos morreram vítimas de estupros, apenas em 2020. Além disso, há ainda quadros de doenças sexualmente transmissíveis entre mulheres e meninas do povo Ianomâmi.
“Depois que os garimpeiros que cobiçam o ouro, estragam as vaginas das mulheres, fizeram elas adoecer. Estão transando muito com as mulheres. É tanto que, em 2020, três moças, que tinham apenas por volta de 13 anos, morreram. Os garimpeiros estupram muito essas moças, embriagadas de cachaça. Elas eram novas, tendo tido a primeira menstruação”, relata um ianomâmi.
Exploração Sexual no Brasil
Dados do relatório Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2022 revelam ainda que quatro meninas menores de 13 anos são estupradas por hora no Brasil. O país está em segundo lugar no ranking de exploração sexual infantil, atrás apenas da Tailândia, com 500 mil vítimas por ano.
“É urgente olharmos e enfrentarmos a grave situação de violência sexual contra meninas Yanomamis, sem perder de vista que essa é uma violência que acontece no Brasil inteiro”, afirma Luciana Temer, presidente do Instituto Liberta, organização de enfrentamento a violência e exploração sexual de crianças e adolescentes brasileiras.
Denúncias sobre qualquer tipo de abuso - sexual, físico, psicológico - contra adolescentes ou crianças podem ser feitas diretamente ao Conselho Tutelar, pelo Disque 100 ou ainda pelo e-mail da Coordenação de Denúncias de Violação dos Direitos da Criança e do Adolescente: cisdeca@sejus.df.gov.br
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