Crime

Canibalismo e tráfico de órgãos: o que se sabe sobre o caso dos brasileiros na Europa

Encontrado com carne humana em Lisboa, Begoleã Fernandes confessou ter ter matado, a facadas, o brasiliense Alan Lopes em Amsterdã, um dia antes. Além de canibalismo, há insinuações de uso de drogas e de tráfico de órgãos humanos.

Vicente Nunes - Correspondente em Portugal
Mariana Saraiva
postado em 03/03/2023 23:46 / atualizado em 04/03/2023 00:18
 (crédito: Reprodução/Redes sociais)
(crédito: Reprodução/Redes sociais)

Lisboa e Brasília — As polícias de Portugal e da Holanda quebram a cabeça para juntar as peças de um crime que, aparentemente, seria de simples solução. Mas um saco com pedaços de carne encontrado na mala do mineiro Begoleã Fernandes, 26 anos, na noite de segunda-feira, 27 de fevereiro, no aeroporto de Lisboa, tornou-se motivo de muitos questionamentos. Ao ser detido pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), por estar usando um documento falso de cidadania italiana, o brasileiro confessou ter matado, a facadas, o amigo Alan Lopes, 21, em Amsterdã, um dia antes. Ele alegou legítima defesa.

O jovem Alan Lopes, nasceu na Ceilândia e viveu lá até os 9 anos, em seguida mudou-se para Valparaíso de Goiás, cidade a cerca de 34 km de Brasília, onde o rapaz viveu até os 14 anos, quando se mudou para Amsterdã com a mãe e as duas irmãs — o pai ainda mora na cidade goiana. A mãe de Alan, a maranhese Antônia Lima, chegou na capital ainda na adolescência e aqui teve os filhos. No entanto, insatisfeita com a realidade da família, foi buscar melhores condições de vida na Holanda. 

Durante o período de 7 anos no país europeu, Alan concluiu o ensino médio e começou a trabalhar em um açougue. Segundo a mãe, o rapaz tinha acabado de tirar a carteira e começaria a fazer um curso para realizar o desejo de ser bem sucedido. "O maior sonho do Alan era ser rico, ele sempre me dizia que um dia iria ganhar muito dinheiro e que compraria uma casa pra mim. Ele estava em busca de crescer na vida”, disse Antônia em entrevista ao Correio.

A mãe conta que o filho tinha um coração gigante e que sempre tentava ajudar a todos e não sabia dizer não. “A bondade tirou a vida do meu filho” contou emocionada.

Alan e Bagoleã eram amigos há 3 anos. Eles se conheceram quando o suspeito estava em situação de rua. Durante um Natal, época de bastante frio na Holanda, a família de Antônia cedeu um quarto no quintal para que Bagoleã passasse uma temporada. “Nunca suspeitei dele. Não conhecia um assassino, eu conhecia um amigo do meu filho eu nunca imaginava que ele fosse fazer isso”, relatou.

Logo depois de prestar depoimento, Begoleã foi levado para o Hospital Santa Maria, em Lisboa, para tratar do ferimento que tinha na mão direita. Na quarta-feira, 1º de março, foi apresentado ao Tribunal da Relação de Lisboa, que decretou a prisão preventiva dele. Begoleã ficará na capital portuguesa até que a Justiça da Holanda expeça um mandado de extradição.

Ao mesmo tempo em que a polícia seguia seus trâmites, peritos do Instituto Médico Legal tentavam decifrar se realmente os pedaços de carne encontrados com o mineiro eram de humano. O resultado foi positivo. Ficou a pergunta, porém, se seriam restos mortais seriam Alan. No entanto, os investigadores holandeses que investigaram a morte do brasiliense dizem que nenhuma parte do corpo dele havia sido arrancada. 

No dia do crime, Antônia conta que Begoleã bateu na porta da casa dela à noite e pediu para jogar roupas sujas e lixo na lixeira dela. Antônia relata que o rapaz parecia fora de si e que falava coisas sem sentido. "Ele não estava bem e precisava de ajuda", diz. Antônia relatou que o suspeito costumava usar drogas liberadas em Amsterdã.

A carne humana na mala do brasileiro

Quando policiais da imigração abriram a mala de Begoleã para verificar o que ele carregava, levaram um susto ao encontrar pedaços de carne e roupas sujas de sangue. Imediatamente, consultaram o sistema de pedidos de prisão internacional e identificaram o alerta partido da cidade holandesa. Nas muitas horas em que ficou sob a custódia do SEF, o mineiro deu uma série de versões sobre o crime, mas insistiu no fato de que aquelas carnes haviam sido pegas na casa de Alan.

Segundo ele, uma forma de provar que o morto praticava canibalismo e vendia carne humana onde trabalhava. Para os agentes, aquela história não fazia muito sentido. A mãe de Alan afirma que o suspeito está em um delírio e que o filho não faria isso.” A justiça vai provar que o meu filho nunca fez nada de errado, ele foi vítima de pessoa que está fora de si”, disse.

Antônia ainda conta que o filho não via maldade nas pessoas e que ela sempre o alertou sobre isso. "Às vezes eu me deparei com pessoas estranhas no quarto do meu quintal. Aqui não tem muro, como no Brasil, e o Alan trazia pessoas em condição de rua para ficar", diz.

Ainda segundo ela, o filho arrecadava fundos para ajudar as pessoas na Turquia e estava ajudando o suspeito a arrumar um emprego.

Tanto a polícia de Portugal quanto a da Holanda procuram manter silêncio sobre as investigações. Nem mesmo os familiares de Alan têm tido acesso ao que vem sendo apurado em Amsterdã, como já revelou a irmã dele, Kamila Lopes. As suspeitas são muitas, sobretudo diante dos vários depoimentos que vêm sendo tomados. Há, também, acusações de familiares de Begoleã e da mãe, Antônia, e da irmã de Alan, o que torna o assassinato ainda mais intrincado. Além de canibalismo, há insinuações de uso de drogas e de tráfico de órgãos humanos.

Mãe do assassino

Em longa entrevista à SIC, rede de tevê portuguesa, Carla Pimentel, mãe do assassino, disse que o filho matou Alan em legítima defesa. Segundo ela, o jovem brasiliense havia convidado Begoleã para passar o fim de semana na casa dele, já que a mãe e a irmã haviam ido para a França. “No sábado à noite, Alan ofereceu um jantar para Begoleã, que estranhou as carnes que estavam sendo servidas. Falou que eram pretas, com gosto estranho”, relatou. “O mesmo Alan teria dito ao meu filho que ele matava pessoas e vendia a carne no açougue em que trabalhava. E mostrou vários vídeos, no celular dele, com os crimes”, acrescentou. Esse telefone, por sinal, está com a polícia de Portugal, pois foi pego com Begoleã.

Carla ressaltou que, mesmo estranhando tudo, o filho comeu as carnes e foi dormir. No meio da noite, conforme Bergoleã lhe relatou antes de fugir de Amsterdã, ele acordou com Alan em cima dele, com uma faca, dizendo que iria matá-lo. “Como meu filho é lutador, ele conseguiu se desvencilhar e tomar a faca de Alan. Deu-lhe uma facada no pescoço, mas como ele ainda se mexia, deu mais outras facadas no peito (da vítima)”, detalhou. Ela disse que recomendou ao filho que voltasse imediatamente para o Brasil, pois, assim, seria mais fácil constituir a defesa dele e provar que agiu em defesa própria.


A mãe de Begoleã acredita que as investigações vão revelar fatos terríveis por trás do assassinato de Alan. Ela disse ter certeza, com base em troca de mensagens com o filho, que o local do crime foi mudado, como forma de ocultar provas. “Begoleã me mandou a localização de onde estava logo após matar Alan. Depois, vimos que a polícia havia sido chamada para outro local, no norte de Amsterdã”, relatou. “Quero muito saber o resultado do teste dos pedaços de carne encontrados com meu filho. Sei que existe uma rede de tráfico de órgãos, são pessoas que matam gente sem documentos, refugiados”, acusou.

Inconsolável

Por meio das redes sociais, Antônia expressou a dor da perda de Alan. “Logo estarei me despedindo de você, vou te dar o último beijo, tocar seu rosto pela última vez”, escreveu. E acrescentou: “Essa despedida é temporária, pois logo estaremos juntos novamente, mamãe tem que continuar por aqui por algum tempo, pois tenho suas irmãs para cuidar”. Afirmou ainda: “Filho, a sua bondade te tirou de nós, tanto que eu lhe avisei, devia ter escutado meu amor. Mamãe já sente tanto a sua falta, mas sei que está em um bom lugar, pois com esse coração tão grande e tão lindo não podia ser diferente. Te amo além da vida”,

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