saúde

SUS amplia público de vacina contra gripe

Negacionismo e falsa sensação de segurança das pessoas, no entanto, prejudicam esforços para atingir metas de imunização

Ândrea Malcher
postado em 15/05/2023 03:55
 (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
(crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

A partir de hoje, as unidades do Sistema Único de Saúde passarão a aplicar a vacina contra a gripe (influenza) na população com mais de seis meses de idade. Até agora, apenas os grupos prioritários, como idosos, gestantes e professores e pessoas mais expostos ao vírus, estavam recebendo a vacina.

A ampliação, anunciada pelo Ministério da Saúde (MS) na última quinta-feira, atende a pedido dos estados e municípios, que estão às voltas com altos estoques do imunizante, devido à baixa procura da população. Desde o início da campanha de vacinação, em 10 de abril, mais de 80 milhões de doses foram distribuídas pelo ministério aos estados. Mas apenas 21 milhões (26%) foram aplicadas até agora. A meta é imunizar 90% da população.

A baixa procura não se resume à vacina contra a influenza. No final de abril, a pasta liberou a aplicação da vacina bivalente contra a covid-19 para maiores de 18 anos, mas o comparecimento às unidades de saúde segue abaixo da expectativa. Antes da ampliação, a pasta esperava imunizar 61 milhões de brasileiros, no entanto, a campanha iniciada em fevereiro só atingiu 16% deste público, pouco mais de 10 milhões de pessoas.

Com a ampliação do grupo, a estimativa é que cerca de 97 milhões de pessoas estejam aptas a atualizar a proteção contra a covid-19 no país. Até o último fim de semana, segundo a plataforma LocalizaSUS, o total de doses bivalentes aplicadas era de 16,5 milhões.

Antivacinas

A estratégia do MS aponta para uma maior proteção populacional, mesmo que não seja entre os grupos prioritários. Para Alexandre Cunha, vice-presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, o negacionismo em relação à efetividade das vacinas, aliada a uma menor sensibilização da população em relação aos riscos da doença, é chave para entender a procura abaixo da esperada pelo ministério.

"Sobrou muita vacina porque a campanha antivacina está cada vez mais forte e sem evidência científica que respalde. Outra coisa é a sensação de segurança. As pessoas veem menos casos graves, graças à vacinação em massa. É o paradoxo da vacina", explica Cunha.

Dados indicam que a descredibilização de imunizantes atingiu muito mais que os da gripe e da covid-19. Segundo relatório Situação Mundial da Infância 2023, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 1,6 milhão de crianças não receberam nenhuma dose da vacina DTP, que previne difteria, tétano e coqueluche entre 2019 e 2021, no Brasil. A DTP no país é conhecida como pentavalente porque protege, ainda, contra a hepatite B e a haemophilus influenza tipo B. Outras 700 mil tomaram a primeira e/ou segunda dose, mas não tomaram a terceira, somando 2,4 milhões de crianças que não estão adequadamente imunes a essas doenças.

O Unicef apurou, ainda, que 26% da população infantil brasileira não recebeu nenhuma dose vacinal em 2021, e que a confiança da população na importância de imunizantes caiu 10 pontos percentuais, para 89%. O Brasil beirou os 100% de confiança durante muitos anos, como aponta o órgão.

"A diminuição da cobertura de outras vacinas tem tudo a ver com a grande campanha contra a vacina de covid-19. Uma vez que se desacredita uma vacina, as outras vem na esteira", observa o infectologista. "Bolsonaro foi o grande estimulador desse processo. Mas, neste momento, o fanatismo político alcançou tal nível que o processo independe dele. Já existe uma corrente enorme de pessoas antivacinas."

Jonas Brant, sanitarista e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), reconhece que a política é um fator importante, mas indica outros obstáculos a serem vencidos. "Parte do desafio que nós temos é facilitar o acesso à vacina. Hoje a busca não é um processo fácil. Eu chego às vezes na unidade e não tem (o imunizante), o horário da unidade não bate com a disponibilidade das pessoas. Então, nós precisamos que as unidades de saúde busquem essa população, que elas façam o posto de vacinação num shopping, numa escola, numa rodoviária, num ponto de passagem das pessoas, ou seja, que essa vacina chegue mais perto e mais facilmente para as pessoas", observa.

 


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