caso bruno e dom

Veja o que os acusados pelo assassinato de Bruno e Dom falaram em depoimento

Diante do juiz, homem que disse ter matado o indigenista e o jornalista tenta isentar o irmão de participação nos homicídios. Depoimentos começam a ser tomados com quase um mês de atraso

Os três acusados do assassinato do indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips prestaram depoimento à Justiça, ontem, em Tabatinga, Amazonas, com quase um mês de atraso — era para terem sido ouvidos em 17 de abril. Amarildo da Costa de Oliveira, Oseney da Costa de Oliveira e Jefferson da Silva Lima devem ir júri popular e responderão por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver, além de outros agravantes.

O primeiro réu a ser ouvido foi Amarildo, conhecido como "Pelado", que novamente confessou os dois assassinatos. Ele, porém, defendeu o irmão, Oseney, o "Dos Santos", das acusações. "Eu sou réu confesso nessa história. Meu irmão não tem nada a ver", afirmou, apontando Jefferson como coautor dos homicídios.

Jefferson, por sua vez, foi o segundo a depor. Assim como Amarildo, afirmou que eles apenas se defenderam — ambos acusaram Bruno de pegar uma pistola para tentar acertá-los — e que não tinham a intenção de matar o indigenista e o jornalista. O último a falar foi Oseney, que negou envolvimento com o crime e disse que mantinha bom relacionamento com os indígenas — inclusive os isolados.

Nove pessoas, entre testemunhas e informantes, prestaram depoimento nos primeiros cinco dias de audiência, em abril. O objetivo da audiência de instrução e julgamento é verificar se as provas testemunhais colhidas no inquérito policial são suficientemente fortes para os acusados irem a júri popular.

Os réus estão presos em presídios federais. Oseney e Jefferson são internos em em Campo Grande (MS), enquanto Amarildo está em Catanduvas (PR).

Barbárie

Bruno e Dom desapareceram em 5 de junho do ano passado enquanto estavam navegavam próximo à comunidade de São Rafael, na região do Vale do Javari. Os restos mortais dos dois foram encontrados 10 dias depois, quando Amarildo Oliveira confessou os assassinatos e levou os agentes e os indígenas que ajudavam nas buscas ao local onde os restos mortais estavam sepultados. Os indigenista e o jornalista forma assassinados a tiros e os corpos foram desmembrados, queimados e enterrados.

A região da reserva indígena do Vale do Javari, a segunda maior do país, com mais de 8,5 milhões de hectares, concentra o maior número de comunidades nativas isoladas. Bruno denunciou que estaria sofrendo ameaças na região e, depois de ser afastado das funções na então Fundação Nacional do Índio (Funai, hoje Fundação Nacional dos Povos Indígenas) atuava como colaborador da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja).

Bruno foi exonerado praticamente na mesma época em que o ex-presidente Jair Bolsonaro apresentou um projeto para liberar garimpos nas reservas indígenas. Foi quando ele começou a denunciar várias atividades ilegais de pessoas estranhas à reserva — como a pesca ilegal, a derrubada da floresta sem autorização e até mesmo narcotráfico. A suspeita é que os assassinos eram lugados às quadrilhas que atuam na região.

Dom Phillips era jornalista colaborador do jornal britânico The Guardian. Com o apoio da Fundação Alicia Patterson, ele trabalhava em um livro sobre a Amazônia. No período em que estava desaparecido, o repórter chegou a ser atacado sem provas por Bolsonaro.

"Esse inglês era malvisto na região. Ele fazia muita matéria contra garimpeiro, contra a questão ambiental. Naquela região, que é bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais do que redobrado a atenção para consigo próprio", afirmou o ex-presidente, em entrevista ao canal da jornalista Leda Nagle, em 15 de junho do ano passado.

Segundo a Polícia Federal (PF), que esteve à frente das investigações, o mandante do crime foi Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como "Colômbia", que tinha conexão direta com Amarildo. Além de Oseney, Amarildo e Jefferson, Rubén também foi preso — mas solto depois de pagar fiança de R$ 15 mil, em outubro passado. Porém, foi encarcerado novamente em dezembro, depois de desrespeitar as determinações da Justiça Federal durante a liberdade provisória.

* Estagiárias sob a supervisão
de Fabio Grecchi