barbárie

Caso Bruno e Dom: o trágico fim de defensores da Amazônia

Segundo a PF, suspeito confessou que Bruno Araújo e Dom Phillips foram assassinados. Agentes encontraram restos mortais

Tainá Andrade
postado em 16/06/2022 06:00
 (crédito: Joao Laet/AFP       )
(crédito: Joao Laet/AFP )

Após 10 dias de buscas pelo indigenista Bruno Araújo e pelo jornalista inglês Dom Phillips, a Polícia Federal anunciou que o pescador Amarildo Oliveira, conhecido como Pelado, confessou o assassinato dos dois. O servidor licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai) e o colaborador do jornal The Guardian desapareceram no último dia 5, no Vale do Javari, extremo oeste do Amazonas.

Em entrevista coletiva, o superintendente da PF no estado, Eduardo Alexandre Fontes, afirmou que Bruno e Dom foram mortos no mesmo dia, possivelmente com arma de fogo. Os corpos foram esquartejados e queimados. "O local é de difícil acesso. Os corpos foram enterrados 3,1km mata adentro de onde foram encontrados os objetos. Foram feitas escavações, é um local onde não tem contato telefônico. O agente tem que sair do local para comunicar que há remanescentes humanos", explicou o superintendente.

Segundo Fonte, durante a confissão, o suspeito narrou com detalhes o crime e apontou onde havia enterrado os corpos. "Foi um embate. A principio, ele (Pelado) alega que foi com arma de fogo, mas temos de aguardar a perícia, porque ela que vai dizer, identificar qual foi a causa da morte, as circunstâncias e a motivação", destacou o superintendente.

Os restos mortais foram enviados para Tabatinga e serão transferidos para Brasília. A previsão é que cheguem hoje à capital federal para passar por identificação no Instituto de Criminalística.

Amarildo também indicou a localização e como afundou a embarcação usada pelo indigenista e pelo jornalista.

O suspeito foi preso dois dias após o início das buscas. Por meio de denúncia, ele foi pego em flagrante com drogas e munição calibre 762, de uso restrito do Exército. Além disso, havia vestígios de sangue na embarcação dele, apreendida para análise pericial. O rapaz tinha um histórico de ameaças a Bruno pelo trabalho que ele desempenhava de capacitação dos indígenas para a vigilância do território.

Na terça-feira, o irmão dele, Oseney da Costa de Oliveira, 41, conhecido como "Dos Santos", também foi preso, sob suspeita de agir com "Pelado" na execução do crime.

Os dois pescadores admitiram que Bruno e Dom foram abordados e mortos no trajeto de barco entre Atalaia do Norte e a Comunidade São Rafael.

"Não descartamos a hipótese de outras pessoas estarem envolvidas. Temos muito o que fazer no inquérito para coletar seguramente provas de autoria e materialidade", afirmou o delegado da Polícia Civil, Guilherme Torres, também presente à coletiva.

Segundo depoimento de Eliésio Morubo, assessor jurídico da União dos Povos do Vale do Javari (Univaja), uma terceira pessoa foi presa pelos agentes após a coletiva.

Bruno e Dom percorriam a região do Vale do Javari. O brasileiro orientava moradores da região a denunciar irregularidades cometidas em reserva indígena — como pesca ilegal, mineração e exploração de madeira — e o jornalista estrangeiro acompanhava o trabalho para registrar em livro que pretendia escrever.

Ausência

A ausência de indígenas à mesa de entrevistas foi muito criticada, assim como a falta de agradecimentos da PF à colaboração dos povos originários nas investigações.

Após a repercussão Eduardo Fontes pediu desculpas pelo "equívoco" de não ter mencionado o trabalho desses atores, mas pontuou que, quando havia segurança, eles sempre estiveram presentes. (Com Agência Estado)

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