CRIME

Caso Jeff: Entenda as investigações até aqui

Do abandono de cães à ocultação de cadáver em baú, investigação revelou golpe de "falsos amigos"

Cachorros abandonados, corpo em baú, papéis em novelas e ocultação de cadáver. A investigação do desaparecimento de Jefferson Machado, que revelou o assassinato do ator, expôs um plano de “falsos amigos” envolvendo promessas de emprego em troca de milhares de reais.

Filhos de quatro patas

O encontro de diversos cães da raça setter abandonados na Zona Oeste do Rio acendeu o alerta para o desaparecimento de Jeff. A ONG Indefesos, organização de proteção aos animais, iniciou uma campanha no início de janeiro para localizar o dono dos oito cachorros. A raridade da raça e a quantidade dos animais chamaram atenção do público e ganharam repercussão nas redes. Quando vendidos, os cães custam entre R$ 2 mil e R$ 3,5 mil.

Em 30 de janeiro, a ONG recebeu o chamado para o resgate de dois setters. Depois de encaminhados para o veterinário, a primeira pista do desaparecimento do ator surgiu. Através de um chip, foi identificado que Jefferson Machado era o dono dos cães.

 

Extremamente apaixonado pelos animais, o abandono gerou dúvidas entre os familiares e decepcionou milhares de seguidores do perfil “Dogs do Jeff”, no qual o ator publicava fotos e exibia o apego pelos filhos de quatro patas.

Reprodução redes sociais - Ator era apaixonado pelos oito cachorros

Uma pessoa chegou a se passar por Jefferson e entrou em contato com a organização dizendo que teria viajado e deixado os cães com uma amiga, em Jacarepaguá, mas os oito fugiram. Segundo o autor das mensagens, ele só voltaria para o Rio de Janeiro no dia 10 de fevereiro, por isso, não poderia ajudar nas buscas.

Os animais foram nomeados como os grandes representantes da música brasileira. Nando Reis, Elis, Caetano, Cazuza, Vinicius de Moraes e Tim Maia foram resgatados pela ONG. Rita Lee, Caetano Veloso e Gilberto Gil não resistiram aos ferimentos que sofreram enquanto estavam nas ruas.

Mensagens suspeitas

A mãe de Jeff, Maria das Dores, começou a desconfiar em 24 de janeiro, quando as mensagens enviadas pelo perfil do filho apresentaram erros gramaticais. A pessoa também negava os pedidos da mãe por áudios e ligações em vídeo. Antes de sumir, Jeff ligava com frequência, além de enviar vídeos e fotos por Whatsapp. Segundo Maria das Dores, o ator sempre foi carinhoso e não era comum que eles ficassem muito tempo sem se falar.

A justificativa utilizada foi que o celular havia caído na “privada” e o microfone danificado. “Ele nunca falou essa palavra [privada]”, disse a mãe. O perfil do Whatsapp do ator ainda enviou mensagens informando que Jeff iria para São Paulo a trabalho, seguida de uma foto de um santuário. Maria das Dores diz que, se realmente fosse o filho, ele teria enviado várias imagens mostrando os detalhes da viagem, como era de costume.

Captura de tela/Arquivo pessoal - Mensagens recebidas pela mãe em 24 de janeiro

As mensagens continuaram até 3 de fevereiro por volta das 10h. Quatro dias depois, a senha de serviço de nuvem, onde é feito o armazenamento de arquivos, do celular do ator foi alterada e a localização por GPS foi desabilitada.

Captura de tela/Arquivo pessoal - Bruno de Souza Rodrigues, amigo de Jeff, confessou à Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) que manteve o contato com a mãe pelo celular da vítima. Ele também publicou fotos e textos no Instagram de Jefferson para tentar despistar as autoridades e a família.

Bruno de Souza Rodrigues, amigo de Jeff, confessou à Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) que manteve o contato com a mãe pelo celular da vítima. Ele também publicou fotos e textos no Instagram de Jefferson para tentar despistar as autoridades e a família.

“Falsos amigos”

Conhecido pelo sobrenome Larrubia, Bruno se dedicou a “ajudar” a família de Jefferson desde as pistas preliminares na primeira semana de fevereiro. O ex-assistente de direção da Globo ficou com as chaves da casa e do carro da vítima após o homicídio com a justificativa de que a Jeff havia dito que viajaria para São Paulo à trabalho. Ele registrou a ocorrência na DDPA acompanhado de Diego Machado, irmão do ator, e abriu as portas da casa de Jeff para que o familiar buscasse respostas.

Reprodução - Brunno Souza Rodrigues é o principal suspeito de do assassinato do ator Jeff Machado

As investigações da Polícia Civil apontam que Bruno extorquiu a vítima em R$20 mil com a promessa de que conseguiria um papel em produções da emissora. Em um áudio enviado no ano passado, Jefferson faz um apelo para que o ex-assistente estipulasse a data de quando conseguiria o emprego. A mãe classificou o caso como um golpe de “falsos amigos”.

“Eu queria entrar logo [em uma novela] para fazer e meu avô me ver. Eu vejo que está chegando a hora dele. Minha avó tem 92 anos e ela falou assim: ‘não, ele não vai morrer nada não. Você vai vir nos visitar e depois você vai fazer novela. A vó vai te dar um conselho: quando você quer uma coisa você tem que ser insistente e correr atrás mesmo sendo inconveniente, porque o não você já tem’”, diz em um trecho do áudio.

Jefferson tinha medo de o avô falecer antes dele conseguir um papel de destaque nas telinhas. A realidade foi como temia. Dioclésio morreu ano passado aos 99 anos. Meses depois, o neto foi encontrado morto em posição fetal dentro de um baú enterrado a mais de um metro e meio de profundidade em uma casa alugada por Bruno na Zona Oeste do Rio. Jeff tinha um arame no pescoço e as mãos estavam sobre a cabeça. O baú era da própria vítima.

Divulgação/PCERJ - Baú onde restos mortais foram localizados quatro meses após desaparecimento

O garoto de programa Jeander Vinícius da Silva Braga foi preso na manhã desta sexta-feira (02) em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. De acordo com agentes da DDPA, o suspeito tentou fugir ao perceber a presença dos policiais. Ele e Bruno foram indiciados por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. A Justiça expediu os mandados de prisão na noite desta quinta-feira (01).

Bruno é considerado foragido. Na manhã de hoje, o advogado do ex-assistente, João Maia, esteve na delegacia. Ele não esclareceu se foi negociar a entrega do seu cliente.

Reprodução - Jeander foi preso acusado de participar da morte do ator

“Sem sombra de dúvidas o Bruno é o principal mentor e responsável por esse crime bárbaro”, afirmou Jairo Magalhães nesta sexta-feira (02) na Cidade da Polícia. Ele levou novas evidências que, de acordo com Magalhães, enquadram Bruno nos crimes de maus-tratos, falsa identidade, invasão de dispositivo alheio, furto qualificado e estelionato.

A delegada Ellen Souto, titular da DDPA, ainda não deu detalhes sobre o caso.

Versão dos suspeitos

Bruno e Jeander confessaram a ocultação do cadáver, mas negaram o assassinato. Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (01), a defesa do ex-assistente de direção alegou que o crime aconteceu no dia da gravação de um vídeo sexual para uma página de conteúdo adulto de Jeff Machado.

Reprodução - Ele teria a função de câmera das cenas protagonizadas por Jeander, Jeff e uma terceira pessoa. Enquanto o ex-assistente teria convidado o garoto de programa, Jefferson teria chamado Marcelo, um integrante de uma organização criminosa da região onde a vítima morava.

Ele teria a função de câmera das cenas protagonizadas por Jeander, Jeff e uma terceira pessoa. Enquanto o ex-assistente teria convidado o garoto de programa, Jefferson teria chamado Marcelo, um integrante de uma organização criminosa da região onde a vítima morava.

A gravação aconteceu na própria casa de Jeff. Após a relação sexual, Bruno foi beber água e Jeander tomar banho. Quando voltaram, teriam encontrado ambos na cama e o ator sem vida. Segundo o depoimento de Bruno, Marcelo asfixiou a vítima com um golpe de “mata-leão” e, por meio de ameaças, obrigou a dupla a colocar o corpo no baú.

O grupo então levou a caixa de madeira até o carro de Jefferson. Jeander dirigiu o veículo com Bruno no carona e Marcelo e o baú no banco de passageiros. O integrante da organização criminosa foi deixado no meio do caminho para a casa alugada por Bruno, onde os restos mortais foram localizados quatro meses depois.

No dia 23 de janeiro, o carro de Jeff foi multado por alta velocidade na Estrada da Ilha de Guaratiba, furando até mesmo uma blitz.

A motivação do crime seria porque Marcelo acreditava que Jeff teria o contaminado com AIDS após relações sem proteção. A polícia afirma que Marcelo é uma invenção da defesa e a versão é totalmente fantasiosa.

 

Reprodução - Brunno Souza Rodrigues é o principal suspeito de do assassinato do ator Jeff Machado
Captura de tela/Arquivo pessoal - Bruno de Souza Rodrigues, amigo de Jeff, confessou à Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA) que manteve o contato com a mãe pelo celular da vítima. Ele também publicou fotos e textos no Instagram de Jefferson para tentar despistar as autoridades e a família.
Captura de tela/Arquivo pessoal - Mensagens recebidas pela mãe em 24 de janeiro
Reprodução redes sociais - Ator era apaixonado pelos oito cachorros
Reprodução - Ele teria a função de câmera das cenas protagonizadas por Jeander, Jeff e uma terceira pessoa. Enquanto o ex-assistente teria convidado o garoto de programa, Jefferson teria chamado Marcelo, um integrante de uma organização criminosa da região onde a vítima morava.
Reprodução - Jeander foi preso acusado de participar da morte do ator
Divulgação/PCERJ - Baú onde restos mortais foram localizados quatro meses após desaparecimento