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Mais de um ano depois, caso Genivaldo segue sem julgamento

O caso, que ganhou repercussão nacional e as manchetes do mundo inteiro, aconteceu em Umbaúba, no sul de Sergipe, em 25 de maio de 2022

Luana Patriolino
postado em 10/07/2023 03:55
 (crédito: Reprodução/Vídeo/Rede Sociais)
(crédito: Reprodução/Vídeo/Rede Sociais)

Após mais de um ano, a barbárie envolvendo a morte de Genivaldo de Jesus Santos, um homem negro de 38 anos, continua impune, sem o julgamento dos envolvidos no assassinato e mudanças significativas nas abordagens policiais no país. Ele morreu após ficar 11 minutos e 27 segundos exposto a gases tóxicos, e ser impedido de sair de uma viatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Sergipe.

Na avaliação de especialistas ouvidos pelo Correio, além do mau treinamento dos agentes públicos, há o componente racismo na história de Genivaldo — o que agrava ainda mais a situação. O caso, que ganhou repercussão nacional e as manchetes do mundo inteiro, aconteceu em Umbaúba, no sul de Sergipe, em 25 de maio de 2022. A vítima tinha esquizofrenia e tomava remédios controlados há 18 anos, segundo a família.

A corporação afirma que o homem estava andando de moto sem capacete e não obedeceu à ordem de levantar a camisa e colocar as mãos para cima. Imagens que circularam nas redes sociais mostram que Genivaldo foi revistado e xingado, antes de ser jogado no chão, imobilizado, amarrado nos pés e nas mãos pelos policiais. Depois, ele foi jogado no porta-malas da viatura da PRF, onde teve a perna prensada pela porta e foi asfixiado.

Para Júlio César Silva Santos, diretor do Instituto Luiz Gama, houve perfilamento racial — que é o ato de suspeitar de uma pessoa por conta da cor da pele, em vez de uma real suspeita individual. "As abordagens policiais fazem parte de um ecossistema muito mais amplo voltado ao sistema de Justiça e que existe um verdadeiro pacto de mediocridade nesse setor, quando se trata de penalizar aqueles que cometem atos infratores", destaca.

Direitos humanos

O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou que a morte foi causada por asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda. À época, a corporação, que era chefiada por Silvinei Vasques, afirmou que a morte foi uma "fatalidade desvinculada da ação policial legítima". No entanto, após protestos e repercussão internacional, a PRF mudou o discurso e afirmou que não compactuava com as medidas adotadas durante a abordagem a Genivaldo.

O advogado criminalista Edson Abdala destaca a necessidade de um treinamento adequado às polícias. "Toda abordagem policial precisa ter uma justa causa. Erraram em absolutamente tudo", afirma.

Em 10 de janeiro deste ano, a 7ª Vara Federal de Sergipe tornou réus os três policiais presos por envolvimento na morte. São eles: Kleber Nascimento Freitas, Paulo Rodolpho Lima Nascimento e William de Barros Noia.

Procurada pela reportagem, a PRF afirmou que "tem colaborado com as investigações, mantendo uma postura de transparência e comprometimento com a Justiça. Administrativamente, o caso segue em apuratório pela corregedoria-geral do órgão". A instituição disse ainda que tem implementado medidas para aprimorar a atuação e garantir segurança nas rodovias federais como, por exemplo, a formação de instrutores da disciplina de direitos humanos.

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