Violência

Relatório mostra avanço na morte de indígenas no governo Bolsonaro

Documento elaborado pelo Conselho Indigenista Missionário mostra que somente em 2022, um total de 180 nativos foram assassinados em conflitos pelo país. Estados que lideram índices de homicídios são Roraima, Mato Grosso do Sul e Amazonas

Renato Souza
postado em 27/07/2023 03:55
Imagens de indivíduos esqueléticos dão base à investigação, que pode enquadrar agentes públicos na perpetração de crime para dizimar um grupo -  (crédito: Reprodução/Urihi Associação Yanomami)
Imagens de indivíduos esqueléticos dão base à investigação, que pode enquadrar agentes públicos na perpetração de crime para dizimar um grupo - (crédito: Reprodução/Urihi Associação Yanomami)

Relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denuncia que a violência contra povos indígenas aumentou significativamente durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Os dados, baseados em informações públicas da Secretaria Especial de Saúde Indígena, dos estados e de outros entes públicos, mostram uma explosão de assassinatos, invasões de terras e avanço do garimpo ilegal sobre as terras ocupadas pelas comunidades tradicionais.

O dado mais grave do relatório aponta que somente em 2022, um total de 180 indígenas foram assassinados em conflitos pelo país. A violência contra os povos nativos registrada no ano passado se equipara ao cenário encontrado nos três anos imediatamente anteriores, cobrindo toda a gestão do ex-presidente.

Os estados que lideraram o índice de assassinatos foram Roraima (41), Mato Grosso do Sul (38) e Amazonas (30). De acordo com o Cimi, "esses três estados concentraram quase dois terços (65%) dos 795 homicídios de indígenas registrados entre 2019 e 2022: foram 208 em Roraima, 163 no Amazonas e 146 no Mato Grosso do Sul".

O Conselho aponta que o avanço de criminosos sobre reservas foi potencializado pelo desmonte de órgãos como a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que atuam na fiscalização ambiental e causas indígenas.

Segundo o levantamento, a mortalidade infantil nas comunidades indígenas também foi agravada pela omissão do poder público. O relatório aponta a ocorrência de 835 mortes de crianças nativas de até quatro anos de idade, em 2022. A maioria das mortes foi registrada no Amazonas (233), em Roraima (128) e no Mato Grosso (133). Em comparação aos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, houve um aumento de 83% na gestão Bolsonaro.

Uma das áreas mais afetadas por garimpeiros ilegais, violência, fome e doenças foi a Terra Indígena Yanomami. Em abril, vieram à tona imagens de idosos e crianças desnutridas e famintas, que fizeram o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretar emergência de saúde pública de importância nacional na região.

Outro caso marcante foram os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, mortos dentro da Terra Indígena Vale do Javari, em junho do ano passado, no Amazonas.