CRIME

Líder quilombola executada falou sobre violência em encontro com Rosa Weber

Bernadete Pacífico foi morta a tiros nesta quinta (17/8). Ela era líder do Quilombo Pitanga dos Palmares e ex-secretária de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho, na Bahia

Maria Bernadete Patrocínio era líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, na Bahia -  (crédito: Divulgação/Conaq)
Maria Bernadete Patrocínio era líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, na Bahia - (crédito: Divulgação/Conaq)
Aline Gouveia
postado em 18/08/2023 10:12

Executada a tiros na noite desta quinta-feira (17/8), a líder quilombola Bernadete Pacífico chegou a denunciar as violências e ameaças contra o povo tradicional, em encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a ministra Rosa Weber, em julho deste ano. Bernadete liderava o Quilombo Pitanga dos Palmares e lutava por justiça pela morte do filho Flávio Gabriel dos Santos, assassinado em 2017.

Segundo informações do Ministério da Igualdade Racial, o terreiro de Mãe Bernadete, localizado em Simões Filho (BA), foi invadido por dois criminosos com capacetes. Antes de executar a líder, os homens fizeram os familiares reféns. Em nota, a ministra Rosa Weber lamentou a morte de Bernadete. "Mãe Bernardete, que me falou pessoalmente sobre a violência a que os quilombolas estão expostos e revelou a dor de perder seu filho com 14 tiros dentro da comunidade, foi morta em circunstâncias ainda inexplicadas", afirmou a presidente do STF.

Rosa Weber cobra providências das autoridades locais e o devido processo de reparação ao povo tradicional. "É absolutamente estarrecedor que os quilombolas, cujos antepassados lutaram com todas as forças e perderam as vidas para fugir da escravidão, ainda hoje vivam em situação de extrema vulnerabilidade em suas terras. Assim como é direito de todos os brasileiros, os quilombolas precisam viver em paz e ter seus direitos individuais respeitados", diz a nota.

Além de líder de quilombo, Bernadete era ialorixá e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq), além de ter ocupado o cargo de secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial na cidade de Simões Filho, em 2009. A Conaq destacou, em nota, que a morte de Bernadete é uma "perda irreparável não apenas para a comunidade quilombola, mas para todo o movimento de defesa dos direitos humanos".

"Mãe Bernadete, agora silenciada, era uma luz brilhante na luta contra a discriminação, o racismo e a marginalização. Atuava na linha de frente para solucionar o caso do assassinato do seu filho Binho e bravamente enfrentou todas adversidades que uma mãe preta pode enfrentar na busca por justiça e na defesa da memória e da dignidade de seu filho. Nessa luta, com coragem, desafiou o sistema e, como tantas mulheres, colocou seu corpo e sua voz na defesa de uma causa com a qual tinha um compromisso inabalável. Sua voz ressoava não apenas nas reuniões e eventos, mas também nos corações daqueles que acreditavam na mudança", emenda a Conaq. 

 
 
 
View this post on Instagram
 
 
 

A post shared by CONAQ (@conaquilombos)

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania vai apurar o caso e determinou o envio de uma equipe para Simões Filho, na Bahia, "para que todas as providências necessárias sejam tomadas". A pasta lamentou a morte de Bernadete e se solidarizou com os familiares e com a comunidade quilombola. "Que as autoridades consigam com celeridade encontrar os culpados e que esses sejam punidos com o total rigor da Lei", diz o ministério, em nota. 

Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Ícone do whatsapp
Ícone do telegram

Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação