Mineração

Mina em Maceió: área de risco ampliada tira mais gente de casa

Justiça manda realocar famílias que ficaram de fora do acordo de compensação firmado pela Brasken na área da mina de sal-gema

Vista da área evacuada pela Defesa Civil nas margens da lagoa Mundaú, em Maceió: bairros fantasmas  -  (crédito: Pei Fon/Estadão Conteúdo)
Vista da área evacuada pela Defesa Civil nas margens da lagoa Mundaú, em Maceió: bairros fantasmas - (crédito: Pei Fon/Estadão Conteúdo)
postado em 03/12/2023 03:55

Após um protesto, na sexta-feira, de moradores de bairros próximos à Braskem, em Maceió (AL), a Defesa Civil informou, ontem, que a Justiça determinou a realocação das famílias de 23 residências que permaneciam na região por não terem sido incluídas no acordo de compensação para que deixassem suas casas. O órgão afirma que a área de risco, que inclui os bairros Mutange - sob o qual está a mina 18, alvo das maiores preocupações —, Pinheiro, Bebedouro, Bom Parto e Farol foi completamente evacuada.

As comunidades de Flexais, onde vivem cerca de 3 mil pessoas, ficaram ilhadas socialmente pela desocupação dos cinco bairros afetados pelo risco iminente do colapso do solo, em razão da exploração de sal-gema na área. Para acessar as localidades, é preciso passar pelos bairros desertos.

 

 

O líder comunitário Maurício Sarmento diz que não há plano para a retirada dos moradores de Flexal de Cima e Flexal de Baixo. Ele alega que a prefeitura e a Braskem estariam dispensando tratamento diferente em relação a outros bairros afetados pela mineração. A própria Defesa Civil destacou, em nota, ontem, que "o bairro do Mutange, onde fica a mina 18, cuja realocação preventiva foi iniciada pela Braskem em dezembro de 2019, está desocupada, sem nenhuma pessoa residindo na região desde abril de 2020".

"Temos que sair daqui, não pode ter tratamento diferenciado com outras áreas que já estão afetadas. Não aceitamos ir para abrigos públicos. O que aconteceu aqui não foi um acidente, foi um crime. Queremos sair daqui com dignidade e com indenização justa", exigiu Sarmento.

A dona de casa Malbete dos Santos Correia, de 54 anos, lamenta ter que deixar o local onde mora desde que nasceu. "Estou pensando em sair mesmo sem proteção nenhuma porque, como estou vivendo, não é jeito de ninguém viver. A gente não vive mais, não estamos dormindo nem se alimentando, aqui não tem açougue, padaria, farmácia, mercadinho, não tem nada."

Ilhados

Enquanto isso, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), o JHC, prometeu que irá apoiar os moradores dos Flexais, para que tenham direito a uma realocação ou compensação pelo "ilhamento social" vivido. "O mapa já foi ampliado e, com base nessa atualização do mapa 5, o Bom Parto teve novas famílias que serão contempladas com a última decisão requerida pelo Ministério Público Federal e homologada pela Justiça Federal", disse o prefeito.

"Criamos uma tese de ilhamento social porque você fica sem o mercadinho próximo, sem o açougue, sem a escola do filho, acaba perdendo toda a dinâmica de vida nas proximidades. Então, essas comunidades ficaram ilhadas, como é o caso dos Flexais e de outras", reconheceu JHC.

"Sem realocação, com esses novos fatos, nós vamos sentar à mesa novamente, fazer todo um estudo. O Bom Parto já foi contemplado neste momento, mas, agora, vamos discutir a questão dos Flexais, porque, de acordo com esses novos fatos, as estratégias que foram inicialmente desenhadas, que já teriam a previsão de implementar as mudanças nos Flexais em dois anos, vão precisar ser reavaliadas", completou.

Embora o risco de colapso seja motivo para que a Defesa Civil mantenha o alerta máximo na região, o coordenador do órgão em Alagoas, coronel Moisés Melo, afirmou, em entrevista à GloboNews, que o ritmo de afundamento do solo desacelerou, mas "poderá chegar a qualquer momento a eclodir" e que, "com certeza, atingirá a superfície".

No boletim divulgado às 18h de ontem, o deslocamento vertical da mina 18 estava em 0,7cm por hora, com um movimento de 11,8cm desde sexta-feira. Ao todo, a região afundou 1,61 metro.

"A gente acredita que (a cratera que surgirá após o colapso da mina) será, aproximadamente, cinco vezes o seu raio, que está hoje, em média, em 32 metros. A população que reside nesse entorno está a uma distância considerável, em média, 2 quilômetros de distância desse local, que é aqui às margens da lagoa Mundaú", explicou o coordenador.

A Defesa Civil garantiu, em nota, que não há risco de os municípios de Pilar, Coqueiro Seco e Santa Luzia do Norte, banhados pela lagoa Mundaú, serem atingidos. "Acreditamos que vai surgir uma cratera. Essa cratera será preenchida pela água da lagoa Mundaú. Não vai ser uma cratera no meio da cidade, não vai gerar terremoto, tsunami, nada disso. Essa cratera será, na sua maioria, submersa, preenchida de imediato pela água da lagoa", explicou o coronel Moisés à CNN. Ele ressalvou que o órgão ainda não tem como aferir a dimensão dos danos que o colapso pode provocar ao meio ambiente.

Pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) coletam amostras da lagoa Mundaú para avaliar se há alteração na água. Geólogos apontam que há contato de água com a camada de sal dentro da mina e, com a aproximação da superfície, isso poderá causar danos ambientais.

A prefeitura também está em tratativas com o ministro da Pesca, André de Paula, para a liberação de um auxílio a pescadores de Maceió que dependem da lagoa para subsistir.

 

 

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