SAÚDE

Dificuldade na cobertura vacinal preocupa gestores

Conselho Federal de Medicina (CFM) cobrou do governo federal mais imunizantes e apontou falha grave na gestão pública. Secretarias relatam problemas para atender demanda da população

O Ministério da Saúde também investe na compra de vacinas para reduzir o número de casos. Porém, o número de imunizantes fabricados ainda é limitado e a pasta decidiu privilegiar a vacinação do grupo mais afetado por infecção, a população de 10 a 14 anos.
 -  (crédito: Freepik)
O Ministério da Saúde também investe na compra de vacinas para reduzir o número de casos. Porém, o número de imunizantes fabricados ainda é limitado e a pasta decidiu privilegiar a vacinação do grupo mais afetado por infecção, a população de 10 a 14 anos. - (crédito: Freepik)

O Conselho Federal de Medicina (CFM) cobrou do governo federal medidas para solucionar a falta de vacinas nos sistemas públicos. O problema compromete a segurança sanitária do país e coloca em risco a saúde da população, agravando a vulnerabilidade de milhões de brasileiros a doenças preveníveis. A entidade destacou que a escassez de imunizantes representa uma falha grave na gestão pública. Ao Correio, secretarias estaduais de saúde também relataram dificuldades para cumprir o calendário vacinal.

A cobrança veio após levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), que revelou 65,8% dos municípios brasileiros com dificuldades no abastecimento de imunizantes. Na avaliação do CFM, a falha no fornecimento de vacinas é uma negligência por parte do Ministério da Saúde, que não tem cumprido sua responsabilidade de garantir a disponibilidade constante desses imunizantes.

Por meio de nota, o governo informou que atendeu integralmente a demanda de vacinas dos estados no último mês e reiterou que enviou 100% das doses solicitadas. Segundo dados da Saúde, nos últimos seis meses de 2024, foram distribuídas 93.445.119 doses de vacinas às unidades da Federação, totalizando 275.163.206 ao longo do ano. O Acre foi o estado que recebeu o menor número de imunizantes.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, sobre a distribuição de vacinas, o número de doses teve uma diminuição entre 2023 e 2024, em especial as vacinas contra catapora (varicela), covid-19 e DTP, conhecida também como tríplice bacteriana infantil. O número de municípios com mais de 95% de cobertura da segunda dose da tríplice viral aumentou em 180%, segundo o governo, atingindo 2.408 cidades brasileiras.

O diretor do Programa Nacional de Imunizações, Eder Gatti, afirmou que eventuais problemas serão resolvidos com a chegada de novos fornecedores. "Garantimos o abastecimento até mesmo da vacina contra varicela, que estava enfrentando dificuldades devido a questões com fornecedores. Hoje, temos três fornecedores para essa vacina, o que assegura a normalização do fornecimento ao longo do primeiro semestre de 2025", explicou.

Dificuldades

Nos últimos meses, secretarias estaduais de Saúde no país enfrentaram desafios relacionados ao desabastecimento de vacinas, o que gerou impactos na cobertura em diversos estados. Entre as vacinas mais afetadas estão as da varicela (catapora), covid-19 e outras do calendário nacional, como as destinadas a crianças e adolescentes. O Correio entrou em contato com as pastas e obteve algumas respostas sobre a situação.

Houve relatos de dificuldades em estados como Goiás, Espírito Santo, Pará e Rio de Janeiro. No estado goiano, por exemplo, a secretaria local informou que a vacina contra a varicela está em desabastecimento desde o segundo semestre de 2024. A pasta recebeu, no início de janeiro deste ano, um quantitativo reduzido de 3.600 doses, o que é insuficiente para atender à demanda do mês. Além disso, o estado enfrenta problemas semelhantes com a vacina contra a covid-19, afetando a faixa de 5 a 12 anos.

O Espírito Santo também relatou escassez da vacina contra a varicela devido a um contingenciamento nacional, o que comprometeu a distribuição regular para atender a população local. A secretaria do estado também disse que aguarda a autorização do Ministério da Saúde para novos pedidos de vacinas contra o coronavírus.

No Pará, a situação também é preocupante, com a falta de vacinas contra a varicela e a covid-19. Além disso, para atender à rotina, o estado do Rio de Janeiro recebeu, em dezembro, menor quantidade do que o solicitado. Em contraste, Mato Grosso e Paraná relatam uma situação mais controlada, com distribuição normalizada e reposição das vacinas que estavam em falta, como a tetravalente e a varicela.

A SES-SP informou que todos os imunizantes recomendados e estabelecidos pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) são adquiridos e entregues pela pasta, sendo responsabilidade do estado a distribuição para os municípios. "No momento, as vacinas do calendário estão disponíveis aos municípios. A pasta mantém diálogo contínuo com o órgão federal para receber novas remessas e manter os estoques estratégicos abastecidos", disse.

Segundo o médico infectologista Leandro Machado, os riscos da falta de vacina são os possíveis surtos de enfermidades, como sarampo e poliomielite. "Doenças que poderiam ser prevenidas começam a reaparecer, sobrecarregando hospitais, aumentando custos e colocando em risco vidas, especialmente de grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos", diz. "Além disso, abala a confiança da população no sistema de saúde. Quando a promessa de proteção não é cumprida, muitos deixam de acreditar na eficácia das campanhas de vacinação, criando um círculo vicioso que compromete futuros esforços de imunização", completa.

*Estagiárias sob a supervisão de Luana Patriolino

 


Maria Beatriz Giusti*
Vitória Torres*
postado em 29/01/2025 03:55
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