O
incêndio florestal que ameaçava atingir a ecovila Condomínio Habitat, no município de São João d'Aliança-G0, na Chapada dos Veadeiros, foi controlado por brigadistas locais. Ainda na noite de quinta-feira (4/9), as chamas foram avistadas no Vale do São Pedro, uma vasta região com inúmeras cachoeiras e mais de 10.000km² de Cerrado preservado. A brigada municipal agiu ao longo de toda a sexta-feira (5/9), da manhã até a noite, e conseguiu afastar os focos que se aproximavam das moradias rurais. No momento de maior intensidade, as chamas atingiram a palhada de cobertura do solo de uma fazenda e causaram uma espessa coluna de fumaça. Por meio de imagens de satélite da Nasa, estima-se que cerca de 12km² de vegetação nativa foram prejudicados pelo fogo, que segue ativo em outra direção.
Ainda na sexta-feira, o Correio entrou em contato com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente solicitando informações sobre os impactos da ocorrência, investigação acerca do incidente, orçamento para ações de prevenção e combate aos incêndios florestais, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto e será atualizado tão logo as questões sejam esclarecidas. Fontes locais, no entanto, suspeitam que o fogo foi provocado por criadores de gado, que adotam a prática danosa e ultrapassada como forma de renovar pastagens. Participantes da Conferência Ambiental do município também destacam a necessidade de maior investimento em medidas preventivas e na estrutura da brigada, com mais pessoal e equipamentos, para o enfrentamento às queimadas criminosas.
Nasa/Reprodução - Imagem de satélite da Nasa revela foco ativo de incêndio em São João d'Aliança-GO, na Chapada dos Veadeiros, neste domingo (7/9)
Empreendedora socioambiental, arte-terapeuta e responsável pelo Espaço Ecologia Viva, localizado em uma área de reserva na Serra do Paranã, Silza Freire relata o terror provocado pelos incêndios florestais no Cerrado e pede mais apoio para evitar novas ocorrências. "Precisamos continuar preservando nascentes e a biodiversidade local, mas todos os anos passamos por riscos de incêndio durante o período de estiagem. Aqui, fazemos uma barreira de proteção, mas nos falta apoio para obter equipamentos apropriados de segurança para o enfrentamento a incêndios. No ano passado, fui ao combate apenas com lanterna do celular e usando galhos para apagar o fogo. Levei vários tombos nas pedras, mas não desisti e fui apagando. Os bombeiros só conseguiram chegar quase duas horas depois, pois estavam em outra ocorrência", relata.
Moradora da região e também empreendedora socioambiental, a advogada Aleska Ferro, delegada na Conferência Nacional de Meio Ambiente e representante da Comissão de Direito Ambiental e Sustentabilidade da OAB Formosa, reforça a necessidade de maior atenção ao Cerrado em São João d'Aliança. "Além da perda de biodiversidade e da contaminação da água, enfrentamos problemas estruturais graves: descarte inadequado de lixo, queimadas ilegais, uso excessivo de agrotóxicos e desmatamento em áreas sensíveis, como as margens do córrego Vereda, hoje em risco de desaparecer. As soluções passam necessariamente pela educação ambiental: oficinas em escolas, empresas e fazendas, mutirões e rodas de escuta. Também pela valorização cultural local e permanência do povo no campo, com mão de obra qualificada e consciente, parcerias público-privadas e universitárias para aplicação de práticas de ASG (Ambiental, Social e Governança), além de mecanismos de compensação efetiva dos danos ambientais", aponta.