Tecnologia disponível no SUS melhora qualidade de vida das pessoas com retenção urinária

Apesar de incorporado desde 2019, acesso ao cateter com revestimento hidrofílico ainda é limitado e dispositivo não chega aos pacientes de diversos municípios

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postado em 22/07/2025 00:00 / atualizado em 22/07/2025 15:08
O cateter hidrofílico trouxe autonomia e qualidade de vida para a Juliana -  (crédito: Divulgação)
O cateter hidrofílico trouxe autonomia e qualidade de vida para a Juliana - (crédito: Divulgação)

*Este conteúdo é um informe publicitário.

A retenção urinária, que acomete mais de 350 mil brasileiros1, é a condição em que a pessoa não consegue urinar ou esvaziar totalmente a bexiga de forma natural. É causada por diversos fatores como lesão medular por traumas (acidentes automobilísticos, armas de fogo, etc), esclerose múltipla, mielomeningolcele, diabetes e nefropatias diabéticas, lesões decorrentes de cirurgias pélvicas, Acidente Vascular Cerebral (AVC), entre outras2.

Essa condição impede o esvaziamento completo da bexiga e pode aumentar significativamente o risco de infecções do trato urinário, complicando ainda mais a saúde dos pacientes3. “Quando a bexiga não é esvaziada adequadamente, a urina pode se acumular, criando um ambiente propício para o crescimento de bactérias, resultando em infecções”, explica Eduardo de Melo Carvalho Rocha, médico fisiatra e especialista em medicina física e reabilitação, presidente da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação.

O especialista esclarece que a técnica do cateterismo intermitente limpo é considerada como o padrão ouro em tratamento da retenção urinária crônica porque é um procedimento simples, que exige apenas a limpeza das mãos e da região genital, portanto, podendo ser realizada também fora do ambiente hospitalar. Essa técnica consiste em introduzir um cateter no canal da uretra para drenar a urina contida na bexiga e, em seguida, retirá-lo, descartando-o. “Toda pessoa que precisa realizar o cateterismo deve, sempre que possível, utilizar materiais que exijam menos manipulação. Isso facilita a realização do procedimento, contribui para uma melhor adesão ao tratamento e ajuda a prevenir infecções do trato urinário”.

Nesse cenário, os cateteres com revestimento hidrofílicos são os mais recomendados, pois vêm prontos para uso e permitem a remoção da urina residual de forma eficiente, impedindo multiplicação de bactérias e infecções urinárias recorrentes4. “Os cateteres hidrofílicos oferecem maior segurança, menos riscos de lesões na uretra e consequentemente menos infecções urinárias. Além disso, já estão prontos para o uso, facilitando a utilização, inclusive, por pessoas sem ou com movimentos restritos das mãos.”, afirma o fisiatra.

Mais autonomia, menos infecções

Juliana Silva é atleta paralímpica de Tiro com Arco da Seleção Brasileira. Em junho de 2015, o carro que ela dirigia capotou, caindo ribanceira abaixo por quinze metros e batendo contra uma rocha. “Fui diagnosticada com um quadro de tetraplegia. Foram seis meses na UTI, diversas cirurgias e complicações, além de uma luta cansativa entre me entregar à depressão e ter fé de que tudo ficaria bem”, conta.

Foi no esporte que a Juliana encontrou uma conexão entre sua nova realidade e o mundo ao seu redor. No entanto, havia outros obstáculos que ela teria de superar. “Quando soube que não teria mais controle do meu sistema fisiológico e precisaria usar fraldas e fazer a sonda de alívio a cada quatro horas para esvaziar a bexiga, foi muito difícil”.

A paratleta utilizava um cateter convencional, de PVC, e o risco de infecção era muito alto. Mesmo fazendo uso de luvas estéreis e mantendo rigorosa higienização, ainda assim, todos os anos, Juliana tinha infecção urinária. “Isso afetava demais minha qualidade de vida, minhas atividades diárias e começou a prejudicar minha performance nas competições”. Além disso, por ter uma lesão medular alta, tinha dificuldades em manusear o cateter de PVC e precisava da ajuda da mãe ou irmã para realizar o esvaziamento da bexiga.

Foi em 2024 que ela conquistou a tão sonhada vaga para competir nas Paralimpíadas de Paris. Mas, junto com a alegria, surgiu um desafio delicado: o cateterismo. “Como estaria sozinha, teria que fazer o procedimento por conta própria. Mas, com a sonda de PVC, isso era inviável.” Então, por indicação médica, ela passou a utilizar o cateter com revestimento hidrofílico. “Além de conquistar minha independência, pois consigo fazer o cateterismo sozinha, nunca mais tive infecção urinária, o que melhorou minha performance para competir em alto nível”, comemora. A melhora na qualidade de vida não transformou apenas sua rotina, mas também a de sua família. “Por muitos anos, minha mãe abriu mão da própria vida para me acompanhar e fazer o cateterismo em mim. Hoje, posso viajar sozinha, e ela retomou a vida dela.”

O cateter hidrofílico trouxe autonomia e qualidade de vida para a Juliana (foto: Divulgação)

Acesso à tecnologia

O cateter hidrofílico é indicado nos principais guidelines das sociedades médicas nacionais e internacionais de urologia para o esvaziamento vesical e foi incorporado no SUS em 2019, através da portaria 37. Porém, ainda não há pactuação federal que defina a quantidade mínima de cateteres e o processo de dispensação, ou seja, a maioria de pacientes ainda não tem acesso à tecnologia por meio da saúde pública.

De acordo com Gilberto Julho Koehler, gerente de Relações Governamentais da Coloplast Brasil, o acesso ao cateter hidrofílico é essencial para diminuir os gastos dos SUS com tratamento das infecções urinárias e, principalmente, internações, quando os quadros se agravam. “Uma internação hospitalar com uso de um antibiótico para uma bactéria multirresistente – pois as pessoas com bexiga neurogênica fazem uso de antibióticos de forma profilática –, ultrapassa o valor mensal para fazer o cateterismo diário, por exemplo”, avalia o executivo da Coloplast.

Alguns municípios brasileiros já compreenderam o custo-efetividade da tecnologia e oferecem o dispositivo no Sistema Único de Saúde (SUS), proporcionando uma melhor qualidade de vida dos usuários, além do impacto positivo financeiro.

No Distrito Federal e em Belém, por exemplo, há programas bem estruturados de dispensação de cateteres hidrofílicos. No entanto, em muitas cidades ainda predominam os cateteres convencionais de PVC. “Esses cateteres exigem lubrificação e preparo antes do uso, o que torna o manuseio mais complexo. Além disso, seus orifícios não são polidos, o que pode causar atrito e ferimentos na uretra durante a inserção e retirada — aumentando o risco de lesões e infecções urinárias”, explica Rocha. Ele ressalta que, em muitos casos, essas infecções se tornam recorrentes, exigindo o uso de antibióticos cada vez mais potentes e, em algumas situações, até internações prolongadas. “Por isso, ao reduzir a incidência de infecções, o cateter hidrofílico gera não apenas benefícios à saúde do usuário, mas também um impacto socioeconômico significativo.” conclui o médico. 

Referências:

  1. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção à Pessoa com Lesão Medular. 1. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. Disponível em: https://saude.gov.br. Acesso em: julho/2025.
  2. MSD Manuals. Disponível em https://www.msdmanuals.com/pt/casa/dist%C3%BArbios-renais- e-urin%C3%A1rios/dist%C3%BArbios-da-mic%C3%A7%C3%A3o/reten%C3%A7%C3%A3o- urin%C3%A1ria Acesso em julho/2025.
  3. Furlan JC; et al. Global Incidence and Prevalence of Traumatic Spinal Cord Injury. Canadian Journal of Neurological Sciences (2013; Vol.40(4).Disponível em: Global Incidence and Prevalence of Traumatic Spinal Cord Injury | Canadian Journal of Neurological Sciences | Cambridge Core
  4. FURLAN, J. M. Lesão medular: conceitos básicos. Jornal Brasileiro de Neurocirurgia, v. 12, n. 2, p. 97-100, 2001.
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