Campos maduros são essenciais para a economia e segurança energética do Brasil

Além do grande percentual de produção, as áreas também são conhecidas por gerar empregos, arrecadação e estabilidade no suprimento energético nacional

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postado em 09/07/2025 00:00
Campo de Peregrino, na Bacia de Campos -  (crédito: Roberto Antunes Kattan)
Campo de Peregrino, na Bacia de Campos - (crédito: Roberto Antunes Kattan)

Matéria escrita por Gabriella Collodetti, jornalista do CB Brands, estúdio de conteúdo do Correio Braziliense.

Apesar de muitas vezes negligenciados frente a novas fronteiras exploratórias, os campos maduros de petróleo e gás seguem desempenhando papel estratégico na economia e na segurança energética do Brasil. Enquanto as atenções da indústria muitas vezes se voltam às novas fronteiras exploratórias, como o pré-sal e, mais recentemente, a Foz do Amazonas, os campos maduros possuem infraestrutura instalada e capacidade de gerar resultados consistentes.

Nesse cenário, os campos maduros se destacam por cumprirem uma função complementar essencial: sustentam o abastecimento no curto e médio prazo, diversificam riscos e impulsionam o desenvolvimento regional. Além disso, a necessidade de estender a vida útil dessas áreas tem estimulado soluções tecnológicas que contribuem não só para a revitalização dos próprios campos, mas também para o avanço de toda a cadeia produtiva do setor de óleo e gás.

Em 2018, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) definiu essas áreas como aquelas que possuem um histórico de produção efetiva de petróleo ou gás natural, que deve ter ocorrido a partir de instalações definitivas, por um período igual ou superior a 25 anos. 

A PRIO – antiga PetroRio – explica que campos maduros são áreas de produção de petróleo que já operam há muitos anos e apresentam um declínio natural na quantidade de óleo extraído diariamente. "Apesar disso, esses campos continuam sendo altamente relevantes porque ainda possuem grandes volumes de óleo que podem ser recuperados com o uso de novas tecnologias e estratégias operacionais", indica Francisco Bulhões, Head de Relações Institucionais da petroleira.

O executivo aponta que, atualmente, os campos maduros representam cerca de 30% da produção nacional de petróleo, sendo fundamentais para a manutenção da oferta, geração de empregos e arrecadação em diversas regiões do país, em especial na Bacia de Campos que alcança o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. 

Com infraestrutura já instalada e potencial para recuperação avançada, os campos maduros geram empregos, arrecadação e estabilidade no suprimento energético nacional. Especialistas alertam, no entanto, que manter sua viabilidade requer incentivos regulatórios, avanços tecnológicos e políticas de estímulo à revitalização dessas áreas.

No final do ano passado, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) destacou que, em termos de políticas públicas, é essencial que o governo brasileiro continue fortalecendo medidas que incentivem a exploração e produção tanto de campos maduros quanto de campos marginais. Em nota oficial, a entidade ressaltou que "políticas que que ofereçam incentivos fiscais e regulatórios, simplificação de procedimentos regulatórios e apoio técnico podem aumentar a atratividade desses investimentos". 

Nesse aspecto, a Firjan pontuou que o fortalecimento da ANP no monitoramento e na regulação das atividades é igualmente importante para garantir a estabilidade jurídico-regulatória no país, fundamental para atrair investimentos no setor, além das boas práticas de segurança e sustentabilidade. Atualmente, estima-se a presença de 206 campos maduros em todo o território brasileiro. Destes, 85% estão localizados em terra (onshore). 

Francisco Bulhões, Head de Relações Institucionais da PRIO.
Francisco Bulhões, Head de Relações Institucionais da PRIO. (foto: Mariana Campos/CB/D.A Press)

Na percepção da PRIO, o petróleo tem um papel essencial para a sociedade. "Está presente em tudo: transporte, energia, saúde, agricultura. É por isso que os campos maduros precisam ser vistos como ativos estratégicos – eles sustentam a produção com menor risco exploratório e menor impacto ambiental. Sem falar nos royalties gerados", afirma Bulhões. Em 2023, a geração de royalties oriunda desses campos ultrapassou R$ 6,5 bilhões, com cerca de 70% dessa receita proveniente do estado do Rio de Janeiro. 

Além disso, responsáveis por uma parcela significativa da produção nacional, os campos maduros seguem tendo um peso relevante na economia das regiões produtoras, especialmente em estados como Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Rio Grande do Norte. Essas áreas geram milhares de empregos diretos e indiretos, movimentando cadeias locais de serviços e logística. 

A expectativa da PRIO é que o setor gere 911 mil empregos diretos e indiretos até 2029, um aumento significativo em relação aos 616 mil registrados em 2023, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Bens e Serviços de Petróleo. O setor, que possui uma demanda global em alta, tem grande potencial para melhorar a economia e qualidade de vida.

Fundada em 2015, a companhia de óleo e gás atua com o foco na gestão eficiente de reservatórios e no redesenvolvimento de campos maduros. Em dez anos de atuação, a PRIO também celebra resultados práticos vividos pela companhia. 

A marca, que começou com cinco mil barris por dia, hoje ultrapassa a produção de 110 mil. Até 2026, a estimativa é que chegue a 200 mil barris. "Ao longo de uma década, a PRIO já gerou R$ 3,7 bi em royalties e a previsão é de R$ 4 bi com o início da produção no campo de Wahoo", complementa Bulhões. 

No mês de fevereiro, a PRIO recebeu do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a licença de perfuração para o campo de Wahoo, na Bacia de Campos, Espírito Santo. Com isso, os dois primeiros poços estão sendo perfurados de forma simultânea com a sonda Hunter Queen, em um formato que concentra etapas semelhantes para aumentar a eficiência. 

O campo de Wahoo é o primeiro totalmente desenvolvido pela PRIO. A produção é viabilizada por uma conexão submarina (tieback) de cerca de 35km de extensão, ligando Wahoo ao FPSO Frade, que possui uma capacidade de processamento de 100 mil barris de óleo por dia.

No primeiro trimestre de 2025, a companhia também trouxe dados positivos para o mercado brasileiro: cerca de 10,2 milhões de barris foram comercializados pela PRIO. A produção média diária da petroleira foi de 109,2 mil barris, um aumento de 24,8% em relação ao trimestre passado, impulsionada principalmente pelo campo de Peregrino, responsável por 35% das vendas. Neste momento, busca-se o desenvolvimento da Fase 2 deste campo, que estenderá a vida útil do Peregrino até 2040. 

A importância dos campos maduros

Ativos estratégicos para o Brasil, os campos maduros movimentam cadeias produtivas regionais e garantem arrecadação de royalties e tributos para estados e municípios – sobretudo em regiões fora do eixo pré-sal, como o Nordeste. Considerados fontes importantes de suficiência energética, essas áreas possibilitam que o país mantenha o abastecimento interno sem depender de importações. 

Investir nesses campos, de acordo com Francisco Bulhões, é extremamente estratégico. "Eles já possuem infraestrutura instalada, reservas remanescentes e baixo risco exploratório. Com inovação e eficiência operacional, é possível transformar ativos subvalorizados em operações rentáveis", afirma. O Head Institucional indica que a PRIO, considerada uma referência na revitalização de campos maduros, alia tecnologia de ponta a uma cultura de excelência operacional. Isso, segundo ele, permite a recuperação de ativos considerados esgotados para transformá-los em operações altamente rentáveis. 

No campo da segurança energética, a manutenção da produção em campos maduros oferece previsibilidade ao sistema, já que são áreas com infraestrutura instalada, menor risco exploratório e tempo de resposta mais rápido frente a oscilações do mercado. Além disso, eles desempenham um papel complementar às novas fronteiras exploratórias, como o pré-sal e a Foz do Amazonas, que ainda estão em processo de expansão e demandam prazos mais longos até atingir maturidade operacional.

"Ao extrair mais de áreas já exploradas, os campos maduros reduzem a necessidade de novos impactos ambientais e fazem uso mais eficiente dos recursos. Preferimos a noção de adição ou mix energético, pois entendemos que o petróleo ainda será necessário para a humanidade por muitos anos. Sendo a matriz energética brasileira uma das mais limpas do mundo e a produção do petróleo brasileiro com menores índices de emissão, o país está em posição privilegiada. Nosso desafio é garantir que a produção de petróleo siga eficiente, com menor impacto ambiental e altos índices de segurança e sustentabilidade", contextualiza Bulhões.

Quando se fala em transição energética, os campos maduros também têm seu valor: enquanto o mundo caminha para fontes renováveis, manter esses ativos produtivos garante receita para financiar a transição de forma gradual e segura. Além disso, o esforço tecnológico para prolongar a vida útil desses campos – com recuperação avançada de reservatórios, digitalização e otimização operacional – estimula inovação e eficiência energética, aspectos fundamentais para um setor mais limpo e inteligente.

Com a extensão da vida útil dos ativos, eles minimizam o impacto ambiental. A partir da implementação de tecnologias de recuperação aprimorada, a otimização da produção e a adoção de práticas de gerenciamento de riscos ambientais, contribuem para a redução de emissões e a preservação dos recursos.  Para garantir que os campos maduros continuem contribuindo para a matriz energética, Francisco Bulhões ressalta que, sem a manutenção e ampliação de incentivos, corremos o risco de perder o potencial brasileiro nos campos maduros.

“É preciso haver segurança jurídica e clareza de prazos em procedimentos burocráticos e afastarmos o risco de aumento na tributação, em especial para exportação. Para viabilizar a recuperação dos campos maduros, mantendo empregos, investimentos e contribuindo para arrecadação e segurança energética do país, é crucial não aumentarmos os custos de produção. A posição geopolítica do Brasil é privilegiada, o país não pode perder mais essa oportunidade”, defende. 

Sinal de alerta 

Atualmente, os campos maduros enfrentam desafios voltados aos custos crescentes, complexidade técnica e falta de políticas públicas e regulações focadas em incentivo para este tipo de produção. No entanto, outro tema também tem preocupado o segmento: a incidência do Imposto Seletivo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), a produção mineral e o petróleo são produtos vitais na balança comercial e o imposto vai tornar o Brasil menos competitivo no mercado global. 

Na visão do segmento, a adoção do Imposto Seletivo sobre a extração de petróleo e gás pode tornar os campos maduros economicamente inviáveis, provocando perdas de investimento, desemprego, queda de receita pública e enfraquecimento da segurança energética. O setor defende, portanto, a exclusão desses campos do imposto ou compensações específicas para evitar que ativos importantes sejam abandonados. 

Para Bulhões, o imposto seletivo é uma ferramenta importante para políticas públicas, mas sua aplicação precisa respeitar as especificidades de cada setor. “O imposto seletivo é eficiente quando direcionado a produtos cujo consumo se deseja regular. No caso do petróleo, que é matéria-prima para uma série de produtos, é fundamental considerar seus múltiplos usos e impactos na economia”, comenta. 

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