Descansos diurnos, conhecidos como cochilos, frequentemente são considerados aliados para recarregar as energias ao longo do dia. No entanto, novas pesquisas levantam questionamentos sobre a influência desses períodos de sono na expectativa de vida de adultos mais velhos. Um levantamento apresentado durante o SLEEP 2025, evento realizado nos Estados Unidos, trouxe à tona discussões sobre o impacto de sonecas prolongadas e frequentes na saúde e na longevidade.
O estudo monitorou o comportamento de mais de 86 mil participantes com idade média de 63 anos, acompanhando aspectos como duração, regularidade e horários dos cochilos, dentro do intervalo entre 9h e 19h. Os achados destacam que a relação entre cochilos diurnos e saúde envolve diferentes fatores, e não apenas a presença do hábito, mas também sua intensidade e padrões, podendo estar associados a riscos maiores de mortalidade ao longo de oito anos de observação.
Como os cochilos diurnos podem influenciar a mortalidade?
Ao analisar os registros dos participantes, percebeu-se que indivíduos que praticavam cochilos frequentes, longos ou de horários irregulares apresentaram uma incidência maior de óbitos durante o período de acompanhamento. Principalmente aqueles que cochilavam entre o final da manhã e o meio da tarde mostraram maior vulnerabilidade. Entre as explicações possíveis, especialistas apontam que o excesso de sono durante o dia pode ser um reflexo de sono noturno insuficiente ou até ser um indicativo de condições de saúde subjacentes.
É importante ressaltar que a ligação identificada pelos pesquisadores reflete uma associação estatística, e não necessariamente uma relação de causa e efeito. Portanto, ainda não se pode afirmar que cochilar durante o dia seja, por si só, responsável por aumentar o risco de doenças ou reduzir a longevidade. Outros fatores, como níveis de atividade física, alimentação, condições crônicas e o próprio padrão de sono noturno, também influenciam significativamente a saúde geral.
Quais fatores podem explicar a associação entre cochilos e problemas de saúde?
A pesquisa reforça que cochilos extensos ou muito frequentes tendem a ocorrer em pessoas que, por diferentes motivos, não descansam o suficiente à noite ou já possuem algum quadro clínico que provoca sonolência ao longo do dia. Nesse sentido, o cochilo prolongado pode atuar como um sinal de alerta para problemas como distúrbios do sono, doenças inflamatórias ou alterações nos ritmos biológicos naturais.
- Cochilos longos: períodos acima de 30 minutos podem indicar cansaço acumulado ou dificuldades no repouso noturno, sendo mais comuns em quem enfrenta insônia, apneia do sono ou doenças cardiovasculares.
- Irregularidade nos horários: a falta de rotina para dormir pode desregular o chamado relógio biológico, prejudicando tanto o repouso diurno quanto noturno.
- Associações clínicas: condições como diabetes, doenças cardíacas e quadros depressivos estão frequentemente ligadas à fadiga diurna.
Por esses motivos, profissionais recomendam que indivíduos que necessitam de cochilos diários consultem um médico para investigar possíveis causas, garantindo, assim, um cuidado preventivo mais eficaz.

É possível cochilar de forma saudável? Quais orientações seguir?
Apesar das discussões sobre riscos, muitas pessoas relatam benefícios ao tirar uma soneca breve, como aumento da disposição e melhora no desempenho cognitivo. Por isso, organizações como a American Academy of Sleep Medicine sugerem que, para adultos saudáveis, o cochilo pode ser incorporado à rotina desde que seja realizado com moderação. Entre as principais recomendações, destacam-se:
- Limitar o tempo do cochilo a no máximo 20 ou 30 minutos, evitando períodos longos que possam atrapalhar o sono noturno.
- Preferir horários iniciais da tarde, evitando cochilos próximos do anoitecer.
- Manter um ambiente confortável e silencioso, propiciando relaxamento sem exageros.
- Atentar para sintomas persistentes de sonolência, sinais de alerta para distúrbios do sono.
O chamado “power nap”, ou cochilo revitalizante, tem como principal vantagem proporcionar maior vigilância sem causar sensação de “ressaca do sono”, conhecida tecnicamente como inércia do sono. Dormir mais do que 30 minutos pode gerar essa sensação, prejudicando o alerta imediato ao acordar.
Monitorar hábitos de sono pode ajudar na saúde?
Observar e registrar padrões e necessidades de repouso diurno permanece como ferramenta útil para identificar possíveis alterações no organismo. Mudanças na rotina de cochilos podem indicar que o corpo está atravessando diferentes fases, desde adaptações ao envelhecimento até quadros clínicos que exigem atenção. A análise desses sinais auxilia profissionais da saúde na formulação de estratégias de prevenção e intervenção precoce.
Ao adotar hábitos saudáveis de sono — priorizando o descanso noturno, praticando atividades físicas regulares e mantendo uma alimentação equilibrada —, há maior chance de reduzir a necessidade recorrente de cochilar durante o dia e, consequentemente, minimizar riscos associados a condições crônicas. Moderar a quantidade e a duração dos cochilos pode refletir em melhor qualidade de vida, especialmente na maturidade.









