A castanha-do-pará é celebrada mundialmente como um superalimento, principalmente por ser a fonte alimentar mais rica em selênio, um mineral vital. É crucial e inegociável afirmar desde o início: os distúrbios da tireoide, como o hipotireoidismo ou a Tireoidite de Hashimoto, são condições médicas sérias que exigem diagnóstico e tratamento com um médico endocrinologista. Nenhuma estratégia alimentar, por si só, pode substituir o cuidado e a medicação prescrita.
Dito isso, a ciência tem estabelecido uma conexão direta e indispensável entre o selênio e a saúde da tireoide. Este artigo irá explorar, de forma segura e baseada em evidências, o papel deste mineral, porque a castanha-do-pará é uma fonte tão potente e, mais importante, porque o seu consumo exige moderação e cuidado extremos.
Qual o papel indispensável do selênio na saúde da tireoide?

A glândula tireoide possui a maior concentração de selênio de todos os órgãos do corpo, o que já indica sua importância. O selênio desempenha duas funções críticas para o funcionamento da tireoide.
Primeiramente, ele é um componente essencial das enzimas responsáveis por converter o hormônio tireoidiano T4 (a forma inativa) em T3 (a forma ativa). Sem selênio suficiente, essa conversão é prejudicada, o que pode levar a sintomas de hipotireoidismo mesmo que a glândula esteja produzindo T4.
Em segundo lugar, a produção de hormônios tireoidianos gera uma grande quantidade de estresse oxidativo. O selênio é um componente central de poderosas enzimas antioxidantes, como a glutationa peroxidase, que protegem as células da tireoide contra os danos causados por esses radicais livres. Conforme detalhado pelo National Institutes of Health (NIH), essa proteção é especialmente importante em condições autoimunes como a Tireoidite de Hashimoto.
Por que a castanha-do-pará é uma fonte tão excepcional de selênio?
A castanha-do-pará é única em sua capacidade de extrair e concentrar o selênio do solo amazônico, onde cresce. Isso a torna, de longe, a fonte alimentar mais potente deste mineral. A concentração é tão alta que apenas uma única castanha-do-pará pode conter de 68 a 91 microgramas (mcg) de selênio, superando a Ingestão Diária Recomendada (IDR) para um adulto, que é de 55 mcg.
É fundamental entender que a quantidade de selênio pode variar drasticamente de uma castanha para outra, dependendo da região específica de cultivo e da concentração do mineral no solo.
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O que é a “selenose” e quais os riscos do consumo excessivo?
Este é o ponto de segurança mais crítico. O selênio é um mineral que, em excesso, torna-se tóxico. O consumo crônico de altas doses pode levar a uma condição chamada selenose. O Limite de Ingestão Máxima Tolerável (UL) para adultos é de 400 mcg por dia. Consumir de 4 a 5 castanhas-do-pará já pode ser o suficiente para ultrapassar perigosamente esse limite.
Os sintomas de toxicidade por selênio (selenose) incluem:
- Queda de cabelo e unhas fracas ou quebradiças.
- Hálito com odor de alho e um gosto metálico na boca.
- Erupções cutâneas e lesões na pele.
- Problemas gastrointestinais, como náuseas e diarreia.
- Em casos mais graves e crônicos, pode levar a problemas neurológicos.
O consumo de castanha-do-pará pode “tratar” doenças da tireoide?
Não. É fundamental desfazer este mito. Para pessoas com deficiência de selênio e Tireoidite de Hashimoto, alguns estudos sugerem que a normalização dos níveis de selênio pode ajudar a reduzir os anticorpos antitireoidianos, o que indica uma diminuição do ataque autoimune à glândula.
No entanto, isso não significa que a castanha-do-pará “trata” a condição ou que ela pode substituir a medicação hormonal (como a levotiroxina) quando esta é necessária. O selênio é um nutriente de suporte essencial para a função da glândula, mas não é uma terapia para a doença em si.
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Qual a forma segura de consumir castanha-do-pará, segundo especialistas?
Devido ao alto e variável teor de selênio, a moderação extrema é a chave para a segurança. A recomendação de consenso entre a maioria dos especialistas e instituições de saúde, como a Harvard T.H. Chan School of Public Health, é limitar o consumo a uma ou duas castanhas-do-pará por dia, e não necessariamente todos os dias.
Para a maioria das pessoas, consumir de 2 a 3 castanhas por semana já é suficiente para obter os benefícios do selênio sem se aproximar dos níveis de risco. Se você tem qualquer distúrbio da tireoide ou suspeita ter, a única abordagem segura é a consulta com um médico endocrinologista. Ele poderá, através de exames, avaliar seus níveis hormonais e de selênio, e, juntamente com um nutricionista, indicar a melhor e mais segura forma de garantir que suas necessidades nutricionais sejam atendidas.








