O ritmo de vida moderno nos leva a comer de pé ou apressados, um hábito que prejudica silenciosamente a digestão. O simples ato de sentar-se e comer devagar é um dos ajustes mais poderosos para otimizar o sistema gastrointestinal.
Por que a digestão começa antes mesmo da primeira mordida?
A digestão é um processo controlado pelo cérebro. A “fase cefálica” começa no momento em que vemos, cheiramos ou até pensamos na comida. O cérebro envia sinais ao estômago para iniciar a produção de ácido clorídrico (HCL).
Sentar-se à mesa, longe de distrações (como telas), e olhar para a refeição é o gatilho ideal para esta fase. Isso prepara o estômago para receber o alimento no ambiente químico correto, otimizando a quebra de proteínas.
Comer apressado “pula” essa etapa crucial. O alimento chega a um estômago “frio” e despreparado, o que leva à má digestão, aumento da fermentação (gases) e uma sensação imediata de peso.

O que acontece no corpo quando comemos em pé ou apressados?
Comer em pé, andando ou sob estresse (ex: checando e-mails) ativa o sistema nervoso simpático, o modo de “luta ou fuga” do corpo. O organismo não consegue diferenciar o estresse do trabalho de um perigo real.
Neste estado de alerta, o corpo desvia o fluxo sanguíneo para longe do estômago e o envia para os músculos (preparando-se para fugir). A produção de enzimas digestivas e ácido é suprimida, e a motilidade intestinal congela.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma dieta saudável, e a forma como comemos é parte crucial disso. A tabela abaixo compara os dois estados opostos do sistema nervoso.
| Estado Corporal | Sistema Nervoso Ativo | Resultado Digestivo |
| Comer Sentado / Calmo | Parassimpático (“Descansar”) | Digestão Otimizada (Fluxo sanguíneo alto) |
| Comer Apressado / Estressado | Simpático (“Luta ou Fuga”) | Digestão Suprimida (Fluxo sanguíneo baixo) |
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Como o ato de “sentar-se” ativa o modo “descansar e digerir”?
O ato físico de sentar-se, respirar fundo e focar na comida sinaliza ao cérebro que você está seguro. Isso permite que o sistema nervoso parassimpático, o “modo de descansar e digerir”, assuma o controle.
Quando este sistema está no comando, o corpo prioriza o trato gastrointestinal. O fluxo sanguíneo para o estômago, pâncreas e intestinos aumenta drasticamente, otimizando a quebra dos alimentos e a absorção de nutrientes.
A ativação parassimpática melhora:
- A produção de saliva (rica em enzimas).
- A liberação de ácido estomacal (HCL) para digerir proteínas.
- O peristaltismo (movimento intestinal) para evitar a constipação.
- A liberação de bile e enzimas pancreáticas para digerir gorduras.

Por que mastigar devagar é tão crucial para o estômago?
A mastigação é a digestão mecânica. O estômago não tem dentes; engolir pedaços grandes força o órgão a trabalhar excessivamente, secretando mais ácido e contraindo-se vigorosamente para dissolver o alimento.
Mastigar mais (ex: 20-30 vezes por garfada) transforma o alimento em uma pasta, aumentando a área de superfície. Isso permite que a saliva e o suco gástrico ajam de forma muito mais eficiente, prevenindo o refluxo e a sensação de estufamento.
A saliva também contém a enzima amilase salivar (ptialina), que inicia a digestão química dos carboidratos (amidos) já na boca. Mastigar pouco:
- Pula a digestão química dos carboidratos na boca.
- Sobrecarga o estômago com trabalho mecânico.
- Pode levar à fermentação de alimentos mal digeridos (gases).
- Reduz a absorção de nutrientes no intestino delgado.
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Como a velocidade da alimentação afeta os hormônios da saciedade?
O cérebro não registra a saciedade instantaneamente. Existe um atraso de cerca de 20 minutos para que os hormônios da saciedade, como a Leptina e a CCK, sejam liberados pelo intestino e sinalizem ao hipotálamo (no cérebro) que você está satisfeito.
Comer rápido “atropela” esse sistema de feedback hormonal. Você consome muito mais calorias do que precisa antes que o sinal de “cheio” chegue, como aponta Harvard Health. Comer devagar dá tempo ao corpo para registrar a saciedade, ajudando no controle de peso e na redução da ingestão calórica total.









