O câncer de fígado é uma doença perigosa porque raramente apresenta sintomas nos estágios iniciais. Quando os sinais aparecem, a doença muitas vezes já está avançada, tornando o reconhecimento precoce (em grupos de risco) fundamental.
Por que o câncer de fígado é considerado tão “silencioso”?
O fígado é um órgão grande e com alta capacidade de regeneração, podendo compensar suas funções mesmo quando parcialmente comprometido. Além disso, ele não possui nervos internos que registrem dor, permitindo que tumores cresçam por muito tempo sem causar desconforto.
Os sintomas só costumam surgir quando o tumor se torna grande o suficiente para pressionar outros órgãos, afetar a função hepática de forma significativa ou invadir a cápsula externa do fígado (que é sensível à dor).

Quais são os primeiros sinais visíveis (geralmente tardios)?
Os sinais mais óbvios estão ligados à falha do fígado em processar a bile. A icterícia (pele e olhos amarelados) e a urina escura (cor de “coca-cola”) ocorrem quando a bilirrubina se acumula no sangue.
Outro sinal grave é o inchaço abdominal (ascite), que é o acúmulo de fluido na barriga. Isso acontece quando o câncer causa pressão nos vasos sanguíneos do fígado (hipertensão portal), forçando o fluido a vazar para o abdômen.
No vídeo a seguir, o Dr Pedro José Santana explica melhor sobre o assunto:
A dor abdominal é um sintoma comum?
Sim, mas é uma dor específica, geralmente sentida como um desconforto ou dor persistente no quadrante superior direito do abdômen, logo abaixo das costelas, podendo irradiar para o ombro direito.
Essa dor geralmente não é do fígado em si, mas do tumor pressionando a cápsula hepática (o revestimento do órgão) ou os nervos e órgãos vizinhos.
Quais são os sintomas sistêmicos (gerais) da doença?
Quando o fígado falha, todo o metabolismo do corpo é afetado, pois ele é crucial para a nutrição e energia. Isso leva a um conjunto de sintomas sistêmicos que sinalizam doença avançada.
Os sintomas gerais mais comuns que refletem o impacto do câncer no corpo incluem:
- Perda de peso inexplicada e rápida.
- Perda de apetite severa ou sensação de saciedade precoce (mesmo comendo pouco).
- Fadiga extrema e fraqueza que não melhoram com o descanso.
- Náuseas e vômitos persistentes.

Quem está em maior risco e deve monitorar ativamente?
Como os sintomas são tardios, a chave é o monitoramento (screening) de grupos de alto risco, e não esperar sentir algo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) identifica as infecções crônicas como um dos principais gatilhos de câncer.
As pessoas com maior risco e que devem fazer exames regulares (ultrassom/exames de sangue) são aquelas com cirrose (cicatrização do fígado), infecção crônica por Hepatite B ou C, e doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) avançada.
Porque o fígado não “avisa” sobre o problema (e quem realmente deve se preocupar)
A característica mais perigosa do câncer de fígado é que ele cresce em um órgão “silencioso”. O fígado não possui nervos internos que registram dor. Isso significa que um tumor pode crescer por anos sem causar absolutamente nenhum desconforto, enquanto o órgão, por sua alta capacidade de regeneração, continua compensando as funções.
Por causa disso, não se deve esperar por sintomas. Quando os sinais clássicos (como a dor no lado direito, o inchaço da barriga ou a pele amarela) aparecem, a doença geralmente já é grave.
A detecção precoce não é sobre sintomas, é sobre risco
A verdadeira prevenção é o monitoramento ativo (com exames de sangue e ultrassom) daqueles que já têm o fígado sob estresse crônico. Os três grupos que precisam de acompanhamento médico regular são:
- Pessoas com cirrose: A cirrose (cicatrização do fígado), causada por álcool, gordura ou outras doenças, é o principal fator de risco.
- Portadores de Hepatite B ou C crônica: Essas infecções virais são grandes gatilhos para o desenvolvimento de tumores hepáticos, mesmo antes da cirrose.
- Pessoas com Doença Hepática Gordurosa (DHGNA) avançada: O acúmulo de gordura no fígado, quando evolui para inflamação (esteato-hepatite) e fibrose, também aumenta significativamente o risco.









