O tema da constipação crônica continua a receber atenção da comunidade científica, especialmente por afetar uma parcela significativa da população adulta em todo o mundo. Trata-se de um problema comum, marcado por evacuações pouco frequentes, fezes ressecadas e sensação de esvaziamento incompleto, que pode interferir na rotina diária.
O que é constipação crônica e qual a influência da alimentação
A constipação crônica é caracterizada por evacuações menos frequentes que o habitual para a pessoa, esforço excessivo, fezes muito duras ou sensação de evacuação incompleta. Não existe uma única causa: hábitos alimentares pobres em fibras, baixa ingestão de água, rotina sedentária e uso de alguns medicamentos podem contribuir para o problema.
Por isso, a dieta é considerada um ponto-chave no tratamento da constipação intestinal, especialmente quando não há outra doença de base envolvida. As fibras presentes em frutas, legumes, grãos integrais e alguns suplementos ajudam a reter água nas fezes, aumentando o volume e facilitando o trânsito intestinal.
Como diferentes tipos de fibra influenciam a constipação crônica
Nem todas as fibras agem da mesma forma, e alguns tipos podem gerar mais gases e desconforto em determinadas pessoas. Por isso, diretrizes recentes passaram a diferenciar melhor quais suplementos e alimentos oferecem maior probabilidade de benefício para quem convive com constipação persistente (McRorie Jr e McKeown, 2017).
Enquanto certas fibras aumentam o volume fecal, outras modulam a microbiota intestinal e favorecem o trânsito sem tanto desconforto. Avaliar a tolerância individual e fazer ajustes graduais na ingestão de fibras ajuda a reduzir efeitos como inchaço e flatulência.
Para aprofundar no tema, trouxemos o vídeo da geriatra Ana Cristina, publicado em seu perfil nas redes:
@anacristina.geriatra Cuidado com o uso de fibras para o intestino preso! Usar fibras sem uma hidratação adequada pode piorar a constipação intestinal (intestino preso) no idoso. Geralmente o estímulo de sede do idoso é reduzido e a hidratação nem sempre é satisfatória. Existem medicamentos mais seguros que podem ajudar. Assista o vídeo para entender melhor.
♬ som original – Ana Cristina geriatra
Quais suplementos apresentam mais evidências para constipação crônica
No campo dos suplementos, o psyllium aparece como uma das fontes de fibra mais estudadas para o alívio da constipação crônica. Em adultos saudáveis com intestino preso, essa fibra solúvel demonstrou aumentar a frequência das evacuações, melhorar a consistência das fezes e elevar o número de pessoas que relatam melhora global dos sintomas.
Outras fibras, como misturas com polidextrose ou inulina, não tiveram o mesmo desempenho em estudos clínicos, mostrando pouco efeito na resposta ao tratamento. Já os probióticos tiveram resultados variados, com algumas cepas, como Bifidobacterium lactis, aumentando discretamente a frequência das evacuações.
Qual é o papel dos probióticos, simbióticos e minerais na constipação
Os probióticos, suplementos com microrganismos vivos, podem contribuir para um equilíbrio melhor da microbiota intestinal, mas o efeito depende muito da cepa utilizada. Em média, algumas bactérias aumentaram discretamente a frequência das evacuações e suavizaram as fezes, embora nem sempre alterem a consistência de forma consistente.
Por outro lado, os simbióticos (combinação de probióticos e prebióticos) ainda não demonstraram benefícios estáveis na constipação crônica. Entre os suplementos minerais, o óxido de magnésio se destacou por melhorar sintomas e qualidade de vida em alguns estudos, enquanto produtos à base de senna exigem cautela no uso prolongado.
Quais alimentos e bebidas podem ajudar na constipação crônica
Alguns alimentos específicos têm sido estudados como aliados no alívio do intestino preso, especialmente quando inseridos em uma rotina alimentar equilibrada. O kiwi é um dos mais citados: em pesquisas com adultos com constipação crônica, o consumo diário da fruta ajudou a reduzir dores abdominais e a sensação de evacuação incompleta.
Outro alimento investigado foi o pão de centeio, que aumentou a frequência das evacuações em comparação ao pão branco, embora possa piorar levemente alguns sintomas gastrointestinais em parte dos participantes. Em relação às bebidas, águas com alto teor de magnésio e sulfato favoreceram fezes mais macias e maior número de evacuações em alguns estudos.

Existe uma dieta definida para constipação crônica
Apesar do interesse em padrões completos, como dietas ricas em fibras ou a dieta mediterrânea, há pouca pesquisa de alta qualidade avaliando esses modelos especificamente na constipação crônica. Até o momento, há apenas um ensaio clínico robusto com uma dieta de alto teor de fibras como um todo, o que limita a criação de um cardápio único para todos.
Ainda assim, especialistas em nutrição ressaltam a importância de uma alimentação variada, com fibras prebióticas e alimentos fermentados com probióticos, sempre que bem tolerados. A hidratação adequada também é peça central, pois a água participa de diversas etapas da digestão e contribui diretamente para a maciez das fezes.
Quais hábitos e alimentos merecem destaque no dia a dia
Para além de suplementos específicos, a combinação de um padrão alimentar equilibrado com rotina saudável é decisiva para o funcionamento do intestino. Alguns hábitos diários podem ser priorizados para potencializar o efeito das fibras e reduzir a constipação de forma sustentável ao longo do tempo.
A seguir, alguns pontos frequentemente recomendados por profissionais de saúde para complementar o tratamento nutricional da constipação crônica:
- Aumentar gradualmente o consumo de frutas, legumes, verduras e grãos integrais.
- Beber água ao longo do dia, ajustando a quantidade às necessidades individuais.
- Praticar atividade física regular, como caminhadas, que estimulam o trânsito intestinal.
- Estabelecer horários mais regulares para as refeições e para tentar evacuar.
- Observar a resposta do organismo a novos alimentos ou suplementos e ajustar com orientação profissional.
Quando é necessário procurar ajuda médica para constipação intestinal
Mudanças alimentares podem trazer melhora significativa, mas há situações em que o acompanhamento profissional é fundamental. Sinais de alerta incluem constipação que persiste por mais de três semanas, fezes muito escassas (menos de duas evacuações por semana) e desconforto abdominal frequente ou progressivo.
Alguns sintomas exigem atendimento de urgência, como dor abdominal intensa e contínua, vômitos, aumento súbito e acentuado do volume abdominal, presença de sangue nas fezes e febre. Esses quadros podem indicar problemas mais graves, que não devem ser tratados apenas com ajustes na alimentação ou com laxantes de uso rotineiro.
Referências bibliográficas
- McRorie JW Jr, McKeown NM. Understanding the Physics of Functional Fibers in the Gastrointestinal Tract: An Evidence-Based Approach to Resolving Enduring Misconceptions about Insoluble and Soluble Fiber. J Acad Nutr Diet. 2017;117(2):251-264. doi:10.1016/j.jand.2016.09.021









