O estresse costuma ser lembrado como algo emocional, mas muitas pessoas percebem seus efeitos primeiro no corpo: dor nas costas, pescoço rígido, dor de cabeça e cansaço constante. Essas queixas físicas não surgem por acaso: elas estão ligadas a reações do organismo que envolvem hormônios, sistema nervoso e mudanças na forma como os músculos se comportam ao longo do dia, especialmente quando o estresse se torna frequente, baseado em pesquisas como a “Physical activity and mental health in children and adolescents: a review of reviews”.
Por que o estresse emocional se transforma em dor física?
Quando uma pessoa enfrenta prazos apertados, conflitos familiares ou preocupações financeiras, o cérebro interpreta essas situações como ameaças. Mesmo sem perigo físico real, o corpo reage como se precisasse se defender ou fugir, acionando uma resposta automática de proteção.
Essa resposta envolve a ativação de substâncias químicas internas, alteração dos batimentos cardíacos e da respiração e aumento do estado de alerta. Com isso, um problema emocional pode se transformar em dor física, especialmente em pessoas que já têm histórico de ansiedade, insônia ou dores musculoesqueléticas prévias.
Para aprofundarmos no tema, trouxemos o vídeo do Dr. Chrystian:
@drchrystianbaroncelli Vamos aproveitar o fim da semana para conversar sobre ESTRESSE e DOR NA COLUNA… Será que eles estão relacionados? #dorcoluna #fyp #foryouu ♬ Minimal Corporate04 – makesound
Como a resposta de luta ou fuga afeta o corpo no dia a dia
O estresse desencadeia uma reação chamada de resposta de luta ou fuga, na qual o cérebro envia sinais ao sistema nervoso e às glândulas endócrinas. A partir daí, ocorre a liberação de hormônios como adrenalina e, principalmente, cortisol, que preparam o corpo para agir rapidamente.
O problema surge quando essa resposta deixa de ser pontual e passa a ser quase contínua. Em vez de durar alguns minutos, o estado de tensão se mantém por horas, dias ou meses, mantendo o corpo em alerta constante, favorecendo tensão muscular crônica, cefaleias tensionais e desconfortos em regiões como pescoço, ombros e lombar.
De que forma o cortisol e a tensão muscular aumentam a dor?
O cortisol é conhecido como hormônio do estresse e, em situações pontuais, ajuda o organismo a lidar com desafios, regulando energia, pressão arterial e metabolismo. Quando o estresse se torna crônico, porém, níveis elevados de cortisol interferem em funções como sono, sistema imunológico e sensibilidade à dor, deixando o corpo mais reativo.
Com o tempo, esse excesso hormonal, associado ao aumento da tensão muscular, faz com que músculos permaneçam contraídos por longos períodos, reduzindo circulação sanguínea e acumulando resíduos metabólicos. Isso gera sensação de peso, rigidez e dor, criando um ciclo em que o corpo dói, a dor provoca preocupação, e essa preocupação mantém o estresse ativo.
Como o padrão respiratório e a postura influenciam a dor induzida pelo estresse?
O estresse também pode modificar a respiração, tornando-a mais curta e rápida, o que é conhecido como respiração superficial. Esse padrão respiratório aumenta a rigidez na região do pescoço e da parte superior do tronco, exigindo mais esforço dos músculos posturais ao longo do dia.
Quando isso se combina com hábitos posturais inadequados no trabalho, no uso de telas ou ao dormir, o corpo desenvolve pontos de tensão persistentes. Esses pontos, muitas vezes chamados de “nós” musculares, podem irradiar dor para a cabeça, ombros e costas, reforçando a relação entre estresse, postura e desconforto físico.

Quais estratégias ajudam a reduzir a tensão e a dor causadas pelo estresse?
Embora o estresse faça parte da rotina moderna, é possível adotar estratégias simples que ajudam a diminuir a tensão muscular e o impacto do cortisol. O objetivo não é eliminar totalmente o estresse, mas tornar a resposta do corpo mais equilibrada, reduzindo a frequência e a intensidade das dores associadas.
Medidas de autocuidado, melhor organização do tempo e mudanças de hábito contribuem para um organismo menos reativo. Com isso, o corpo tende a se recuperar com mais facilidade após situações difíceis, evitando que o estado de alerta se torne permanente.
Quais técnicas de relaxamento ajudam a aliviar a tensão do estresse?
Algumas práticas de relaxamento podem ser incorporadas ao cotidiano sem grande complexidade e são úteis para relaxar a musculatura, regular a respiração e sinalizar ao cérebro que o corpo está seguro. Essas técnicas favorecem a queda gradual do cortisol e contribuem para uma sensação física de alívio e bem-estar.
A seguir estão exemplos de estratégias frequentemente utilizadas para o manejo da tensão muscular relacionada ao estresse, que podem ser adaptadas à rotina de cada pessoa:
- Respiração profunda: inspirar pelo nariz contando até quatro, segurar o ar por alguns segundos e expirar lentamente pela boca, repetindo por alguns minutos para reduzir o ritmo cardíaco.
- Alongamentos leves: movimentos suaves para pescoço, ombros, costas e pernas para diminuir rigidez e melhorar a circulação nas regiões tensionadas.
- Relaxamento muscular progressivo: contrair e depois relaxar grupos musculares, um de cada vez (pés, panturrilhas, coxas, mãos, braços), aumentando a percepção dos pontos de tensão.
- Pausas ativas no trabalho: levantar-se a cada uma ou duas horas, caminhar um pouco, movimentar braços e pescoço e ajustar a postura na cadeira.
- Higiene do sono: manter horários regulares para dormir e acordar e reduzir luzes e telas antes de deitar, criando um ambiente mais tranquilo para o descanso.
- Atividade física regular: caminhadas, alongamentos ou exercícios de baixo impacto para gastar a energia acumulada e liberar substâncias associadas ao bem-estar.
- Práticas de atenção plena (mindfulness): focar em sensações do corpo, na respiração ou em sons do ambiente, reduzindo a ruminação de pensamentos estressantes.
Em situações em que a dor física associada ao estresse se torna frequente ou intensa, é recomendado buscar avaliação profissional. Acompanhamento médico e, quando necessário, apoio psicológico ou fisioterapêutico ajudam a identificar fontes de estresse e padrões de tensão, favorecendo estratégias específicas para cada realidade e uma redução gradual das dores ligadas à rotina.








