O Câncer de Próstata se destaca como um dos tumores mais frequentes entre os homens no Brasil, ficando atrás apenas dos cânceres de pele não melanoma. Com isso, a busca por métodos cirúrgicos eficazes, seguros e acessíveis se tornou uma prioridade estratégica para os sistemas de saúde, tanto públicos quanto privados. Dentre essas intervenções, a prostatectomia radical, que consiste na remoção completa da próstata com objetivo curativo, tem evoluído significativamente impulsionada pelos avanços tecnológicos e pela aprimoração do conhecimento anatômico.
A evolução dessa técnica teve início na década de 1980 com Patrick Walsh, que revolucionou a cirurgia ao conseguir preservar os feixes nervosos responsáveis pela ereção, reduzindo desse modo as complicações e melhorando a qualidade de vida pós-operatória. Na década seguinte, a laparoscopia ofereceu avanços ao permitir incisões menores e uma recuperação mais rápida, embora a complexidade técnica e a curva de aprendizado longa limitassem a sua adoção ampla.
Como a cirurgia robótica impactou a prostatectomia radical?
Nos anos 2000, a introdução da cirurgia robótica, especialmente com o sistema da Vinci, trouxe uma nova perspectiva. Essa tecnologia aumentou a precisão dos movimentos do cirurgião, proporcionou visão tridimensional e facilitou a execução da prostatectomia laparoscópica. No entanto, o custo elevado do equipamento robótico, juntamente com suas despesas de manutenção, dificultou sua disseminação em países de renda média, como o Brasil. Apesar disso, estudos indicam que os resultados oncológicos da cirurgia robótica se equivalem aos da cirurgia aberta tradicional, mas com a vantagem de uma recuperação mais rápida.
Soluções inovadoras em cenários de recursos limitados
Frente ao desafio de integrar os benefícios da cirurgia robótica em ambientes com recursos escassos, o Hospital Universitário Pedro Ernesto desenvolveu a AORP (do inglês Open Anterograde Anatomic Radical Prostatectomy). Esta técnica inovadora adapta os princípios da cirurgia robótica ao contexto da cirurgia aberta, sem depender de tecnologias caras. Baseada em pilares como dissecção anterógrada e preservação anatômica, a AORP utiliza instrumentos convencionais para reproduzir as vantagens da abordagem robótica, sem custos adicionais.

Quais os resultados da técnica AORP?
A técnica AORP foi testada inicialmente em um estudo piloto com dez pacientes, seguido de um ensaio clínico com 240 pacientes entre 2016 e 2019. Os resultados foram promissores: houve redução na perda de sangue, menor tempo de anastomose e um tempo reduzido de uso de sonda urinária. Vinte e quatro dias após a cirurgia, aproximadamente 60,9% dos pacientes já estavam continentes, em comparação a 42% daqueles que foram submetidos à técnica tradicional.
Potencial transformador da AORP
Comparações recentes entre a AORP e a cirurgia robótica mostram tempos de internação semelhantes e recuperação funcional similar, mas com um custo quase quatro vezes menor. Essa economia é significativa para hospitais públicos que lidam com orçamentos apertados. Além de sua aplicabilidade prática, a AORP demonstra que a inovação não depende exclusivamente de tecnologia avançada. A técnica simboliza o potencial das inovações locais em produzir impacto global, e já atraiu o interesse de diversos pesquisadores e cirurgiões internacionais. Em suma, a AORP é um exemplo de como a ciência, aliada à criatividade e ao compromisso com o paciente, pode resultar em soluções transformadoras, especialmente em ambientes com restrições financeiras.
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Dra. Anna Luísa Barbosa Fernandes
CRM-GO 33.271










