Em uma busca constante por saúde e bem-estar, os suplementos multivitamínicos se tornaram onipresentes, vistos por muitos como uma apólice de seguro nutricional contra uma dieta imperfeita. A ideia de que uma única pílula pode preencher todas as nossas lacunas nutricionais é, sem dúvida, atraente. Mas a pergunta que a ciência se faz há décadas é: eles realmente funcionam para a população em geral?
Este artigo irá explorar o que as evidências científicas e as principais organizações de saúde dizem sobre a eficácia dos multivitamínicos, para quem eles podem ser realmente necessários e por que a abordagem de “comida em primeiro lugar” continua sendo a estratégia mais recomendada pelos especialistas.
Para a população geral, quais são as conclusões das grandes pesquisas científicas?

Para a maioria dos adultos saudáveis que não estão grávidos e que possuem uma dieta razoavelmente equilibrada, a evidência científica não apoia o uso rotineiro de multivitamínicos para a prevenção de doenças crônicas. Grandes revisões de estudos e painéis de especialistas chegaram a conclusões semelhantes.
A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA (USPSTF), um painel independente de especialistas em prevenção de doenças, concluiu em sua mais recente recomendação que “a evidência atual é insuficiente para avaliar o balanço de benefícios e danos do uso de suplementos multivitamínicos para a prevenção de doenças cardiovasculares ou câncer”. Essa posição, baseada na análise de dezenas de estudos com centenas de milhares de participantes, essencialmente significa que não há provas científicas robustas de que tomar um multivitamínico traga um benefício líquido para a saúde da maioria das pessoas.
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Por que a nutrição vinda dos alimentos é superior à dos suplementos?

A principal razão pela qual os especialistas defendem uma abordagem de “comida em primeiro lugar” é um conceito chamado sinergia alimentar. Os alimentos integrais, como frutas, vegetais e grãos, não contêm apenas vitaminas e minerais isolados; eles oferecem um pacote complexo de fibras, fitoquímicos e outros compostos bioativos que trabalham juntos de forma sinérgica.
Essa matriz alimentar complexa influencia a forma como os nutrientes são absorvidos, metabolizados e utilizados pelo corpo de uma maneira que uma pílula simplesmente não consegue replicar. Por exemplo, a fibra de uma fruta ajuda a regular a absorção de seu açúcar, e os antioxidantes de um vegetal podem proteger outros nutrientes da oxidação. Os suplementos, por outro lado, fornecem nutrientes de forma isolada e em doses que nem sempre refletem as necessidades fisiológicas.
Existem grupos específicos que podem se beneficiar da suplementação?
Sim. Embora não sejam recomendados para a população geral como medida preventiva, os multivitamínicos ou suplementos de nutrientes específicos são cruciais para certos grupos com necessidades nutricionais aumentadas ou com risco de deficiências.
Gestantes ou mulheres que tentam engravidar
A suplementação de ácido fólico é fundamental para prevenir defeitos do tubo neural no feto. O ferro e outros nutrientes também são essenciais durante a gestação.
Idosos
Com o envelhecimento, a capacidade de absorver certos nutrientes, como a vitamina B12, pode diminuir. A necessidade de vitamina D e cálcio também aumenta para apoiar a saúde óssea.
Veganos e vegetarianos estritos
Uma dieta baseada em plantas, se não for bem planejada, pode ser pobre em vitamina B12 (encontrada quase exclusivamente em produtos de origem animal), ferro, cálcio e iodo.
Indivíduos com condições de má absorção
Pessoas com doenças como celíaca, doença de Crohn ou que passaram por cirurgia bariátrica têm dificuldade em absorver nutrientes dos alimentos e geralmente necessitam de suplementação.
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Quais são os riscos de tomar um multivitamínico sem necessidade?
Tomar um multivitamínico sem uma deficiência diagnosticada geralmente não é perigoso para a maioria das pessoas, mas não é isento de riscos. O primeiro é o financeiro, muitas vezes descrito como a criação de uma “urina cara”, pois o corpo simplesmente excreta o excesso de vitaminas hidrossolúveis (como as do complexo B e a vitamina C) de que não precisa.
O risco mais sério vem do consumo excessivo e prolongado de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e de certos minerais, como o ferro, que podem se acumular no corpo e atingir níveis tóxicos, podendo causar danos ao fígado e a outros órgãos.
Como saber se você realmente precisa de um suplemento?
A resposta é clara e inequívoca: através de uma avaliação profissional. A única maneira de saber se você tem uma deficiência nutricional é conversando com um profissional de saúde.
Um médico pode avaliar seus sintomas, seu histórico de saúde e, se necessário, solicitar exames de sangue para medir os níveis de vitaminas e minerais específicos. Com base nesses resultados, um nutricionista pode analisar sua dieta para verificar se é possível corrigir a deficiência através de mudanças na alimentação. Se a suplementação for realmente necessária, eles poderão recomendar o nutriente específico, na dose correta e segura para você. A automedicação com suplementos, baseada em suposições, nunca é a abordagem mais segura ou eficaz.








