A prática de beber um copo de água morna logo ao acordar é um ritual de bem-estar popular, frequentemente promovido com alegações de que “desintoxica” o corpo e melhora a função do fígado. Embora a intenção por trás do hábito seja positiva, é crucial analisar o que a ciência realmente diz sobre essa prática específica. A verdade é que, enquanto a hidratação é absolutamente vital para a saúde do fígado, a ideia de que a temperatura da água oferece benefícios especiais carece de evidências científicas robustas.
O fígado é um órgão complexo e resiliente, e sua saúde depende de um estilo de vida equilibrado, não de soluções rápidas ou “hacks” de temperatura. Este artigo irá desmistificar essa crença popular, explicar a real importância da hidratação para as funções hepáticas e apresentar os hábitos que, de fato, protegem este órgão vital.
A temperatura da água realmente importa para a saúde do fígado?

Do ponto de vista fisiológico, não há evidências científicas significativas que comprovem que beber água morna seja superior à água em temperatura ambiente ou fria para a saúde do fígado. Uma vez que qualquer líquido entra no estômago, o corpo trabalha rapidamente para ajustar sua temperatura à temperatura corporal interna, que é de aproximadamente 37°C.
Portanto, o suposto benefício “desintoxicante” da água morna não tem uma base científica sólida. O fígado não precisa de água morna para ser “ativado” ou “limpo”. Ele realiza suas funções de desintoxicação continuamente, 24 horas por dia, e o que ele realmente precisa para isso é de um fornecimento constante de água, independentemente da temperatura.
Como a hidratação adequada, em qualquer temperatura, apoia as funções hepáticas?

A hidratação é um dos pilares da saúde do fígado, pois a água é essencial para praticamente todas as suas funções metabólicas. Manter-se bem hidratado garante que o fígado possa realizar seu trabalho de forma eficiente.
Transporte de nutrientes
O sangue, que é composto por mais de 90% de água, é responsável por transportar os nutrientes do sistema digestivo para o fígado, onde eles serão processados. Uma boa hidratação garante um volume sanguíneo adequado e um fluxo eficiente.
Processamento de resíduos
Após o fígado metabolizar substâncias, ele produz resíduos como a ureia. Esses resíduos solúveis em água são transportados pelo sangue até os rins, que dependem de uma grande quantidade de água para filtrá-los e eliminá-los do corpo através da urina.
Produção de bile
O fígado produz a bile, um fluido essencial para a digestão de gorduras. A bile é composta principalmente de água. A desidratação pode tornar a bile mais espessa, o que pode aumentar o risco de formação de cálculos biliares.
Manutenção das reações enzimáticas
Inúmeras reações enzimáticas que ocorrem no fígado para metabolizar alimentos, medicamentos e outras substâncias dependem de um ambiente aquoso para acontecerem de forma otimizada.
Leia mais: Os alimentos saudáveis que podem estar te dando gases e você nem imaginava
Beber água morna pode ter outros benefícios gerais (além do fígado)?
Embora não haja um benefício específico para o fígado, algumas pessoas relatam benefícios subjetivos ao beber água morna. Para alguns, a água morna ou em temperatura ambiente pode ser mais suave para o sistema digestivo pela manhã em comparação com a água gelada.
Além disso, bebidas quentes em geral, incluindo água morna ou chás de ervas, podem ajudar a aliviar a congestão nasal e a acalmar a garganta, de forma semelhante a uma canja. Esses são benefícios relacionados ao conforto e ao alívio temporário de sintomas, e não a uma alteração fundamental na fisiologia do fígado. O mais importante é que, se beber água morna o ajuda a beber mais água no geral, então esse hábito é positivo para sua hidratação.
A hidratação em jejum oferece alguma vantagem específica?
Começar o dia bebendo um copo de água, seja qual for a temperatura, é um excelente hábito. Após uma noite de sono, o corpo está naturalmente em um estado de leve desidratação. Rehidratar-se logo ao acordar ajuda a “acordar” o metabolismo, melhora a função cerebral e a disposição, e prepara o sistema digestivo para o café da manhã.
O benefício, portanto, vem do ato de reidratar o corpo em jejum, e não da temperatura da água. Esse primeiro copo de água do dia reabastece os fluidos perdidos durante a noite e dá início a um ciclo de hidratação virtuoso para o resto do dia.
Leia mais: Os alimentos que mais dão energia para treinar
Além da hidratação, quais hábitos realmente protegem o fígado?
Se o seu objetivo é cuidar da saúde do seu fígado, o foco deve estar em hábitos de vida com sólida comprovação científica. Segundo a American Liver Foundation e outras instituições de saúde globais, as estratégias mais eficazes incluem:
- Manter um peso saudável: A obesidade é um fator de risco principal para a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA).
- Adotar uma dieta balanceada: Rica em frutas, vegetais, fibras e grãos integrais, e pobre em gorduras saturadas e açúcares.
- Limitar o consumo de álcool: O álcool é diretamente tóxico para as células do fígado.
- Praticar exercícios físicos regularmente: Ajuda no controle do peso e melhora a sensibilidade à insulina.
- Evitar a automedicação: Muitos medicamentos, e até mesmo suplementos de ervas, podem ser prejudiciais ao fígado se usados de forma incorreta.
Qualquer preocupação com a saúde do seu fígado ou a intenção de seguir um plano de “detox” deve ser discutida com um médico, idealmente um hepatologista, e um nutricionista. Eles são os únicos profissionais qualificados para avaliar sua saúde e fornecer orientações seguras e eficazes.










