No cenário do desenvolvimento de biofármacos no Brasil, um avanço significativo está ocorrendo com o soro antiapílico, destinado a tratar envenenamentos por picadas de Abelhas africanizadas. Este soro, fruto do trabalho de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), com o apoio da FAPESP, acaba de receber um financiamento de 20 milhões de reais do Ministério da Saúde. Este investimento permitirá que o soro entre na última fase de estudos clínicos, sinalizando um importante passo em direção à aprovação e uso generalizado.
As Abelhas africanizadas, resultado do cruzamento entre abelhas-africanas e europeias, são comuns no Brasil e, apesar de serem fundamentais para a produção de mel, causam frequentes acidentes com humanos. Esses incidentes podem variar de leves a graves e são causados por reações aos componentes do veneno ou por múltiplas picadas. Nos últimos anos, a interação entre humanos e abelhas tem aumentado, impulsionada por fatores como o desmatamento e o uso de pesticidas, tornando o desenvolvimento deste soro mais relevante como questão de saúde pública.
Qual a importância do desenvolvimento do soro antiapílico?

Atualmente, não há um tratamento específico disponível na rede de saúde para picadas de Abelhas, o que faz do soro antiapílico uma necessidade crítica. Os protocolos existentes focam em mitigar a dor, a inflamação e as reações alérgicas, mas não tratam a causa subjacente do envenenamento. O soro foi inicialmente produzido em 2009 e tem mostrado eficácia em estudos preliminares. Ele é feito através da inoculação do veneno de abelhas em cavalos para a produção de anticorpos, seguidos pela coleta e purificação do plasma.
Como foram conduzidos os estudos clínicos até agora?
Os primeiros estágios dos estudos clínicos foram realizados em parceria com o Instituto Vital Brazil e o Instituto Butantan, abrangendo provas de segurança e eficácia preliminares. Conduzido entre 2016 e 2018, o estudo recrutou 20 voluntários que haviam sofrido um número significativo de picadas. Os resultados foram promissores, sem efeitos adversos graves relatados e com todos os participantes apresentando melhoras clínicas. Em 2023, a patente do soro foi deferida, afirmando seu potencial como uma inovação médico-científica.
O que esperar da última fase de estudos clínicos?
A última fase dos estudos clínicos, que será realizada com 150 a 200 pacientes, é crucial para a aprovação regulatória do soro. Quando os testes forem concluídos com sucesso, espera-se que a Anvisa autorize a produção comercial do medicamento e sua inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS). Isso representaria um marco significativo para o tratamento de picadas de abelha, proporcionando uma solução eficaz para um problema cada vez mais urgente no Brasil.
Com os avanços em biofármacos e biotecnologia, o Brasil está demonstrando sua capacidade de responder a desafios complexos em saúde pública. A trajetória do soro antiapílico ilustra como a colaboração entre institutos de pesquisa e financiamento governamental pode estimular desenvolvimentos científicos com impactos tangíveis na vida das pessoas.
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Dra. Anna Luísa Barbosa Fernandes
CRM-GO 33.271









