O ato de caminhar descalço na grama, muitas vezes chamado de “aterramento” ou “grounding”, é uma prática que evoca uma sensação de conexão natural e bem-estar. É crucial e inegociável afirmar desde o início: esta prática só deve ser realizada em locais seguros, limpos e conhecidos, livres de objetos cortantes, pesticidas ou parasitas. Para pessoas com certas condições médicas, como o diabetes, ela pode ser perigosa e é desaconselhada.
Este artigo irá explorar, de forma segura e baseada em evidências, o que realmente acontece no corpo quando os pés entram em contato direto com o solo, separando os benefícios biomecânicos e neurológicos comprovados das teorias que ainda carecem de validação científica robusta.
Como o contato com o solo “acorda” os nervos dos pés?

O benefício mais bem estabelecido de andar descalço reside no estímulo à propriocepção. A sola dos nossos pés é uma das áreas mais ricas em terminações nervosas de todo o corpo. Essas milhares de nervos enviam constantemente informações ao cérebro sobre a textura, a temperatura, a pressão e a inclinação do terreno.
Ao caminhar descalço sobre uma superfície natural e irregular como a grama, você proporciona um banho de informações sensoriais a esses nervos. Esse feedback aprimorado “acorda” o sistema neuromuscular, melhorando a consciência corporal, o equilíbrio e a estabilidade. Conforme apontado por especialistas em reabilitação, um sistema proprioceptivo bem treinado é a primeira linha de defesa contra quedas e entorses.
Qual o impacto na biomecânica da caminhada e na postura?
O uso constante de calçados, especialmente os muito estruturados ou com amortecimento excessivo, pode alterar nosso padrão natural de caminhada. Andar descalço incentiva o retorno a uma biomecânica mais natural.
Sem o amortecimento do calcanhar, a tendência é aterrissar de forma mais suave, utilizando a parte do meio ou da frente do pé. Esse padrão de marcha pode reduzir o impacto sobre os joelhos, quadris e a coluna lombar. Além disso, a prática fortalece os músculos intrínsecos do pé — os pequenos músculos dentro do pé que são responsáveis por sustentar o arco e fazer ajustes finos —, que muitas vezes ficam “preguiçosos” dentro dos sapatos.
O que é a teoria do “aterramento” (earthing) e o que a ciência diz?
A teoria do “aterramento” postula que o contato direto com a superfície da Terra permite a transferência de elétrons livres do solo para o corpo, que atuariam como antioxidantes, reduzindo a inflamação e melhorando a saúde.
É fundamental esclarecer que esta teoria, embora popular em círculos de bem-estar, é altamente controversa e, até o momento, carece de evidências científicas de alta qualidade para ser aceita pela comunidade médica e científica. Os benefícios relatados são mais provavelmente atribuíveis a outros fatores.
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Quais são os benefícios plausíveis da prática?

Os benefícios cientificamente plausíveis e seguros da caminhada descalça na grama estão ligados à biomeânica e à psicologia, e não a trocas de elétrons.
Melhora da propriocepção e do equilíbrio
Pelo estímulo neurossensorial rico que o contato direto com o solo proporciona.
Fortalecimento dos músculos intrínsecos do pé
Pela maior demanda sobre a musculatura estabilizadora do pé e do tornozelo.
Estímulo a uma marcha mais natural
Com potencial redução de impacto nas articulações superiores.
Redução do estresse (efeito de mindfulness)
O ato de prestar atenção plena às sensações dos pés na grama é uma poderosa prática de mindfulness, que comprovadamente acalma o sistema nervoso.
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Quais são os riscos e os cuidados indispensáveis?
A prática de andar descalço não é isenta de riscos e exige um ambiente seguro e controlado. Os perigos incluem:
- Lesões: Cortes, perfurações por vidros, pedras, espinhos ou outros objetos pontiagudos.
- Infecções: O contato com o solo pode expor a pele a bactérias, fungos (como os que causam micose) ou parasitas (como o bicho geográfico).
- Queimaduras: Em superfícies quentes como areia ou asfalto.
A contraindicação mais importante é para pessoas com diabetes, neuropatia periférica ou problemas circulatórios. Nesses indivíduos, a sensibilidade nos pés é reduzida, e um pequeno corte pode passar despercebido, infeccionar e levar a complicações gravíssimas. Se você pertence a este grupo, a prática de andar descalço é fortemente desaconselhada. Para qualquer dúvida sobre a saúde dos seus pés, a consulta com um médico ou podólogo é indispensável.








